Os últimos dias assistiram a mais um episódio, provavelmente um dos mais violentos, da longa história de 75 anos do conflito que começou com a instalação do estado de Israel em terrenos da Palestina, no ano de 1948. Esta guerra só terminará quando forem respeitadas as resoluções das Nações Unidas que reconhecem e conferem ao povo palestiniano o direito a viver na sua terra.
Nos últimos tempos, o regime de apartheid que vigora nos territórios de Israel agudizou os ataques aos mais elementares direitos à existência do povo palestiniano. O povo palestiniano que está, desde 1948, privado do Estado a que tem direito, todos os dias vê militares de Israel e colonos fanatizados controlarem, humilharem e assassinarem homens, mulheres e crianças fria e impunemente, na sua própria terra. Desde 1948 que as expulsões forçadas, as anexações militares, as ocupações ilegais, as prisões em massa, os assassinatos seletivos, o incumprimento arrogante de todas as resoluções das Nações Unidas que reconhecem os direitos do povo palestiniano se tornaram, infelizmente, comuns e habituais, com a indiferença da comunidade internacional.
A instalação nos últimos anos, de colonatos israelitas em territórios palestinianos da Cisjordânia são uma das mais selvagens formas de colonização do nosso século. Porque são instalados em territórios reconhecidos internacionalmente como estando, ou devendo estar sob a autoridade da Palestina. Nestes territórios, que Israel ocupa ilegalmente, são demolidas as casas dos palestinianos, destruídas culturas, expulsando os autóctones, para se instalarem colonos israelitas fanatizados, fortemente armados, gerando terror entre as populações. Apesar de haver condenação internacional desta situação, nenhuma autoridade impõe alguma sanção ao Estado Israelita. Israel transformou a Palestina numa prisão a céu aberto. A região está cercada, privada de direitos fundamentais, de empregos e de recursos.
As condenações imediatas daquilo que aconteceu no sábado, 7 de outubro, pelo ocidente e Estados Unidos, esquecendo toda a violência do dia a dia exercida por Israel na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, é de uma desonestidade intelectual atroz.
Nada me aproxima do grupo Hamas, responsável pelos atos ocorridos a 7 de outubro. Mas só gente que não perceba, ou não queira perceber, que a violência terrível exercida há décadas sobre o povo palestiniano inevitavelmente geraria atos de violência extrema, suicida, de quem já não tem horizontes para as respetivas vidas.
Parece que já ninguém tem memória das responsabilidades que Israel teve na criação do Hamas, como forma de divisão do povo da Palestina. Que depois a criatura se vire contra o criador é uma narrativa que já vimos noutras latitudes (talibãs, estado islâmico…)◄
- Publicado no Jornal PALAVRA, edição de outubro 2023
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