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Digitalização: Uma Bênção ou uma Maldição para os Trabalhos Tradicionais?

Num mundo onde os avanços tecnológicos ocorrem a uma velocidade vertiginosa, a digitalização tornou-se um dos pilares da nossa sociedade. Mas enquanto muitos louvam os benefícios da era digital, outros questionam o seu impacto nos trabalhos tradicionais.
As lojas de rua, por exemplo, enfrentam a concorrência feroz das compras online. Com a comodidade de comprar sem sair de casa e a promessa de entregas rápidas, muitos consumidores optam pelo e-commerce. Isto deixa os pequenos comerciantes, que já lutam com rendas elevadas e custos operacionais, numa situação ainda mais precária.
O sector dos transportes também sentiu o impacto. Aplicações como a Uber e a Bolt revolucionaram a forma como nos deslocamos, tornando o acesso ao transporte mais conveniente. No entanto, esta comodidade vem à custa dos tradicionais taxistas, que veem os seus rendimentos e segurança no trabalho ameaçados.
A esta discussão, junta-se a emergência da “economia de biscate”. Plataformas como a TaskRabbit permitem que as pessoas ofereçam os seus serviços para tarefas específicas, desde montagem de móveis até jardinagem. Esta flexibilidade pode ser atraente para muitos, mas frequentemente vem sem as proteções e benefícios laborais tradicionais.
A globalização do mercado de trabalho, potenciada pela digitalização, é outra faceta desta moeda. Se, por um lado, um freelancer em Lisboa pode agora trabalhar para uma empresa em Tóquio, por outro, esta abertura global significa também uma concorrência mais acentuada e, em muitos casos, uma pressão descendente sobre os salários.
No entanto, nem tudo é negativo. A era digital trouxe consigo inovações que melhoram a nossa qualidade de vida. Os avanços na telemedicina, por exemplo, permitem consultas à distância, tornando os cuidados de saúde mais acessíveis. A educação online abre portas a cursos e formações que antes estavam fora do alcance de muitos.
O desafio que se coloca é como navegar neste novo mundo. É imperativo que tanto os governos como as instituições de ensino invistam na formação e requalificação dos trabalhadores, garantindo que ninguém é deixado para trás nesta revolução digital.
A digitalização é uma realidade incontornável. Em vez de resistirmos, devemos adaptar-nos, aprender e crescer com ela. Afinal, a tecnologia, quando usada corretamente, tem o potencial de enriquecer as nossas vidas de formas que ainda estamos a começar a compreender.
Adicionalmente, uma reflexão profunda sobre o papel da tecnologia na nossa sociedade nunca foi tão urgente. Com a crescente influência das redes sociais, algoritmos e inteligência artificial nas nossas vidas diárias, surgem questões éticas e morais. Até que ponto queremos que as máquinas tomem decisões por nós? E em que medida estamos confortáveis com a quantidade de dados pessoais que partilhamos online?
O surgimento de novas tecnologias, como a realidade virtual e aumentada, promete revolucionar ainda mais a forma como trabalhamos e socializamos. Imagine um mundo onde as reuniões de trabalho não são apenas em videochamada, mas numa sala virtual onde os participantes, através de avatares, interagem como se estivessem fisicamente presentes. Este cenário, que parece saído de um filme de ficção científica, está cada vez mais próximo da nossa realidade.
Mas, com estas inovações, surgem também desafios. A saúde mental é uma preocupação crescente na era digital. O constante fluxo de informação, a necessidade de estarmos sempre conectados e a pressão das redes sociais podem levar a sentimentos de ansiedade e isolamento. Como equilibraremos os benefícios da conectividade com a necessidade intrínseca de desconexão e de momentos autênticos?
Por fim, é crucial mencionar o impacto ambiental da digitalização. Os centros de dados, que alimentam a nossa insaciável sede de informação, consomem vastas quantidades de energia. A produção de dispositivos eletrónicos, muitos dos quais com um ciclo de vida curto, contribui para o aumento de resíduos e a exploração de recursos naturais.
Assim, enquanto navegamos na onda da digitalização, é vital fazermos pausas para reflexão. Precisamos de ponderar os prós e contras, de nos adaptarmos de forma consciente e de garantir que as próximas gerações herdem um mundo onde a tecnologia serve o bem comum e não apenas interesses individuais ou corporativos. ◄

 

  • Publicado no Jornal PALAVRA, edição de outubro, 2023

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