A santidade é como que um desafio que se pode vencer. Quando queremos ser santos, depende apenas de nós atingir essa condição. Temos tudo à nossa disposição e ao contrário do que possamos dizer, não são os outros que não nos deixam ser santos, somos nós mesmos…
Ser santo como Jesus foi santo. Ser santo como tantos santos e santas da nossa história, que pegando na sua vida a conseguiram elevar a uma altura enorme: a simplicidade. Não precisamos ascender ao céu para aspirar fazer o céu na nossa Terra. Não precisamos de nos mortificar, nem encriptar, nem desaparecer do mundo, aliás, se assim fosse, seria bastante fácil ser santo. A santidade é do mundo e quer-se eficaz no mundo, para com as pessoas, para com as situações que existem, que marcam, que te desafiam.
Os santos não podem estar escondidos, nem à margem do que se passa na vida, começando pela sua própria vida. Os santos pecam, falham e, sabendo isso, esforçam-se para mudar a sua forma de interagir. A santidade existe pela interação, tu para seres santo tens que passar provações terríveis: as da vida de todos os dias. Tu para seres santo tens que interagir com os outros, tens que viver, tens que passar por onde passam todos os outros, tens que amar, perdoar e estar lá.
Não dá para ser santo só a escrever textos, não dá para ser santo só a rezar de manhã e à noite, não dá para ser santo só vivendo a Santa Eucaristia (mas esta, ajuda…). Não dá para ser santo sem conheceres a tua rua, a tua terra, a tua comunidade. Não dá para ser santo se na tua vida não tens lugar para as relações mais básicas, para os infortúnios mais simples, para as dúvidas mais profundas. Ser santo, na modernidade dos dias que vives hoje, é impossível sem conheceres as redes de relações, as redes sociais, as redes de proximidade, as redes solidárias, as redes familiares (sim, podes ser santo na família, eu sei que pode não ser fácil…)
Eu gostava muito de ser santo. Não gostava de ser lembrado como um santo, mas gostava muito de poder viver com a santidade como selo da minha existência de todos os dias. Gostava muito de viver essa santidade nas minhas escolhas, nas minhas ações, nos meus projetos, mas gostava ainda mais de ser santo nas minhas respostas, na forma como lido com as pessoas, na forma como reajo quando me tiram do sério, na forma como antecipo as necessidades dos outros, na forma como me voluntario para suportar as dores dos outros, na forma como me dou. Gostava de ser santo quando me provocam e quando me machucam e quando me fazem sofrer. Gostava de ser santo quando duvidam de mim, quando me forçam, quando me querem comprar. Mas gostava ainda mais de ser santo quando sou eu que proporcionam aos outros todos estes atentados…
Eu gostava muito de ser santo, para que o mundo no meu entorno tivesse maior possibilidade de ver mais santos em ação. Quando tu és santo, ninguém fica indiferente, mas não decidas ser apenas “santinho”, isso não vai dar e vai ter um efeito muito contrário, para ti, para a tua vida, para o mundo e até para o reconhecimento da santidade do aqui e do agora. Eu gostava muito de ser santo não para que a minha vida mais fácil, não conheço nenhum santo que tenha vida fácil, mas conheço muitos que têm uma vida a sério, uma vida feliz, uma vida que vale a pena.
Eu gostava muito que ser santo fosse muito difícil, inatingível, complicadíssimo. Dessa forma seria mais confortável para mim dizer que não sou santo. Os santos viveram, não nascerem santos, nem viveram para morrer para a santidade de serem lembrados para sempre. O problema, o meu problema, é que ser santo é tão fácil como ser outra coisa qualquer, só que com um grau de retorno que ainda não se consegue calcular. Ser santo é ser em Cristo Vivo, é ser sempre parte da solução, é ser sempre capaz de construir pontes, ligações, redes, caminhos firmes. Ser santo é socorrer e salvar, rezar e amar o outro e com todos os que são o outro na minha vida.
Ser santo é ser Cristo, é deixar que Cristo viva na tua vida de todos os dias. Ser santo é ser bonito e assumir que essa beleza vem de Deus e que o brilho dessa beleza é natural, que é Deus. Ser santo é seres capaz de olhar para as tuas mãos vazias do fim do dia, e entenderes que elas estão cheias, que não suportam mais felicidade, nem obras boas, nem santidade nesse dia, e por isso descansas para que no dia seguinte possas voltar a encher as mãos, mesmo que já saibas que vão parecer vazias aos olhos de muitos, e que vão parecer pequenas aos olhos de tantos, e que vão parecer insuficientes aos olhos de alguns.
Ser santo é ser hoje a vontade de carregar com as tuas mãos a felicidade que está destinada aos outros…◄
- Publicado no Jornal PALAVRA, edição de julho 2022
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