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Mãe – a minha

Parece coisa banal, afinal todos temos uma, e eventualmente todas nos tornamos uma também.
Mas não é exatamente assim. Para mim não.
Perdi-a há dois anos e meio. E só nesse dia me senti “crescida”. Não tem nada a ver com recalcamentos de nenhuma espécie, nada disso, apenas me senti pela primeira vez realmente sozinha. Uma mãe é um elo que nos transcende, uma raiz, uma bússola. E eu senti-me sem norte. Mesmo no meio de tanta gente, mesmo no meio dos meus próprios filhos.
Ela não era letrada, aliás fez a quarta classe já depois dos três filhos, não tinha nenhum tipo de especialização a fazer o que quer que fosse a não ser aquele: ser mãe.
Ria-se das minhas façanhas, temia pela minhas inquietações, ouvia-me até à exaustão, bebia com desmedida vontade tudo o que vinha de mim. Sempre fui a Carminho nos momentos bons e a Maria do Carmo quando as coisas azedavam, e não eram poucas as vezes que o “leite se entornava”. Como nunca fui para longe, o corte do cordão simplesmente não aconteceu. Ela estava sempre ali. Para mim, depois para os meus filhos. Posso afirmar até, que só sentia os meus filhos em absoluta segurança quando ficavam à guarda dela, dos seus cuidados e das suas mãos.
E tinha confiança em mim. Muito mais do que aquela que eu merecia. E achava-me o máximo (isso é capaz de ter deixado sequelas graves) e enchia de paz e conforto todo o sitio onde entrava.
Talvez por tudo isto, só no dia em que a perdi, senti que perdi também a última réstia da criança que ela gerou e criou e amou.
Também por isto, tenho a certeza que os nossos filhos, os meus e os vossos, apesar de ventos e tempestades sentirão esta ligação que não se vê, mas que é a maior das certezas..◄

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