> Por: Rui Mataloto
A reforma do Altar Mor da Nossa Senhora da Lagoa, nos meados do séc. XVII, dotou de um forro de azulejos de padrão de maçaroca de milho a Capela-Mor, muito típico deste período, num módulo de 2×2/1, dotado de guarnição de cercadura de motivos vegetalistas. O azul, amarelo e branco são as cores presentes criando um amplo atapetado que modificou por completo a imagem despojada e luminosa da igreja inicial.
A par desta mudança, o Altar Mor conheceu igualmente nova configuração, com a criação de um novo retábulo, primeiramente assente num embasamento alto, pintado a fresco, com motivos arquitetónicos marmóreos e cores fortes. O tapete azulejar acompanha este embasamento, o qual vem substituir um anterior, com singelas pinturas murais geométricas. Todavia, este embasamento parece durar pouco, sendo pouco depois substituído por outro embasamento que veio a ser forrado em madeira. Esta mudança poderá ter ocorrido na sequência do douramento do retábulo aprovado em 1659, levando a alterações pontuais que agora ficaram expostas.
Em 1755, o terremoto que destruiu Lisboa, fez-se aqui sentir com intensidade, como fica patente, nas respostas do pároco António Jozé Guião ao inquérito das Memórias Paroquiais:
En o terromoto horrerozo no anno de 1755 padeseo esta Igreja Matris alguma ruina ainda que nam concideravel aqual se axa ja reparada con tanto aseyo que parese templo feyto de novo na ocaziam do mesmo//
Sabemos, então, que em 1758 já as obras de reparação estavam concluídas e a Igreja quase como “nova”. Todavia, o processo de restauro em curso permitiu igualmente verificar quais as mazelas estruturais e não estruturais do impacto deste sismo. Como se afirmou em nota anterior, as sacristias laterais haviam sido fechadas com uma parede sob o arco, que pelo lado da Capela Mor recebeu o forro de azulejos que temos estado a comentar. Uma análise fina permitiu agora verificar que muito provavelmente o abalo sísmico de Lisboa fez-se sentir justamente nestes corpos acrescentados sem uma união forte à estrutura.
O trabalho de restauro e recuperação de fissuras presentes nas paredes laterais da Capela Mor permitiu verificar que estas deverão ter tido a sua origem no citado evento, que terá provocado fortes oscilações da parede que fizeram saltar os azulejos justamente na ligação desta ao arco da sacristia. A rapidez da recuperação, como mencionada acima pelo Padre António Jozé Guião, levou ao reaproveitamento dos azulejos que caíram no sismo, sem recurso a azulejador, perdendo-se o padrão, aplicando-se de modo desorganizado os azulejos recuperados, ao ponto de integrar no padrão de maçaroca azulejos da cercadura. Este facto demonstra a vontade, precipitada, de recuperar a imagem e uso da Igreja, sem lhe resolver de fundo as “mazelas” arquitetónicas que de algum modo nos trouxeram ao projeto atual e às preocupações que hoje nos ocupam. ◄
- Publicado no Jornal PALAVRA, edição de fevereiro 2023
Mais Noticías
CLDS4G chega ao fim: “Conseguimos, ao longo destes três anos, dinamizar cerca de 550 ações e alcançar 3800 destinatários”
“Todos, todos, todos!”
A JMJ Lisboa 2023 começou em Reguengos de Monsaraz