Os tempos que vivemos têm exigido de nós uma capacidade de adaptação extraordinária. Vivemos com limitações difíceis de suportar há meses, com sacrifício fomos afastados dos nossos familiares e amigos, vivemos com incerteza no futuro, obrigados a seguir orientações e a ter comportamentos a que não estávamos habituados. Cada vez menos motivados, a pandemia que dura há meses deixa-nos cansados e fartos, e todos caminhamos para a chamada “fadiga da pandemia”, que no fundo é um sentimento de sobrecarga por nos mantermos constantemente vigilantes, e de cansaço, por obedecermos a restrições e alterações na nossa vida.
Na crise pandémica que vivemos, temos observado que a seguir ao medo surgiu o cansaço e a exaustão, e este cansaço e esta exaustão, mais a “fadiga da pandemia”, podem levar a que a nossa perceção do risco fique afetada, representando perigo acrescido de diminuição dos nossos cuidados e aumento da nossa exposição ao contágio e à doença. O facto de já nos termos habituamos à existência do novo vírus, de por vezes termos dificuldade de adaptação às medidas de proteção, e também a disseminação de informação falsa, contraditória e sem fundamento científico, fazem com que a cada dia que passa mais confusos, cansados, e exaustos fiquemos. O importante é ter em conta que apesar de tudo isto não poderemos baixar a guarda, pelo contrário, teremos que continuar vigilantes, ainda que com esforço, pois a nossa proteção e a dos que nos rodeiam depende, em muito, de estarmos alerta e não nos deixarmos tolher pela exaustão.
Sabemos que não é fácil, até porque perspetivar o futuro e os efeitos colaterais da pandemia pode ser devastador – o desemprego, a perda de rendimentos ou a deterioração das condições de vida, são efeitos da crise socioeconómica que se adivinha e que geram insegurança, medo e ansiedade. É por isso essencial atenção redobrada também à Saúde Mental, já que toda esta conjuntura pode agravar dificuldades e problema psicológicos já existentes ou conduzir a quadros depressivos, de ansiedade e stress ou distress.
Mais do que nunca a nossa resiliência está a ser posta à prova, e apesar de se prever que uma percentagem significativa de pessoas (entre 20% a 30%, de acordo a Ordem dos Psicólogos Portugueses) sofram com o impacto psicológico da pandemia, devemos procurar manter-nos a salvo e à margem deste número, adotando comportamentos de autocuidado, que no fundo são o conjunto de ações que cada indivíduo promove para manter a própria saúde e bem-estar. O autocuidado está em tudo aquilo que fazemos para cultivar a nossa própria qualidade de vida. Assim, sempre com autonomia e de forma responsável, é importante continuarmos a fazer a nossa vida, a procurar atividades que aumentem o nosso bem-estar, sempre minimizando o risco em todas as situações em que nos encontremos. Com o olhar no futuro e a certeza de que tudo passará.◄
- Publicado em PALAVRA novembro 2020