O inédito período que vivemos motivado pela pandemia obrigou-nos a todos, uns mais do que outros, a uma grande pausa relativamente aquilo que era a normalidade do dia a dia; hábitos, horários, rotinas tudo mudou pela nossa saúde e pela saúde dos outros.
Não obstante esta realidade, é de saudar o considerável esforço feito por muitos e muitas vezes a partir de casa, na maior parte das vezes a expensas próprias, para manter, à distancia os serviços a funcionar, as questões a serem respondidas e os problemas resolvidos e acima de tudo a estruturar e operacionalizar os apoios necessários a quem mais precisa.
Nesta fase não existiram (e não existem) horários, estritas competências ou diferenças de opinião e sensibilidades, foi e é tempo de todos fazermos tudo.
A grande pausa foi portanto na normalidade e não no esforço e isso deve ser sublinhado, reconhecendo pessoas, instituições e organizações da sociedade civil mais e menos informais que se disponibilizaram de imediato para ajudar e percorrer a tal milha extra a que estas situações nos obrigam, mas reconhecendo também o esforço feito por muitos na administração publica que estando nas suas casas a resolver problemas de todos, quando saiam à rua para fazerem compras para si e para os seus familiares ainda ouviam o comentário de “estarem de férias”, é esta ignorância desinformada, cruel e ingrata que deve ser travada mas que “por dar dó” muitas vezes nem dá vontade de contrariar, fica apenas o sentimento de alguma incredibilidade por as vistas serem tão curtas.
Poderão me dizer que é esta a obrigação do serviço público, a de tentar fazer mais do que o possível e a estar presente, pessoalmente até concordo que assim seja, mas deve ficar também a reflexão do que este período podia ter sido se não existisse algo chamado serviço público, o tal que tantas vezes querem esvaziar, o tal que não é reconhecido, o tal que, diz a ignorância e o preconceito, nada faz e nenhum mérito tem, mas também o tal, ao qual, curiosamente, tudo se exige.
O tal que na pior das tormentas assumiu as rédeas da incerteza e procurou estar lá o mais possível para todos, cidadãos, empresas, para quem estava doente e para quem estava saudável, o tal que se assumiu quando alguns se esconderam esmagados pela dimensão do problema.
O problema da pandemia, até na sua vertente de saúde publica, está longe de estar ultrapassado, os desafios são enormes, mas começa a ser vencido coletivamente se todos tivermos a integridade de reconhecer o esforço enorme que todos; sector público e privado – cada um à sua maneira e em diferentes dimensões, tem feito para que possamos regressar a uma espécie de normalidade. ◄