Em entrevista durante o programa “Ser Igreja” e ao semanário diocesano “a defesa”, o arcebispo de Évora, D. Francisco Senra, afirmou recentemente “A vida como a Felicidade e a Paz aprendem-se a viver e conquistam-se de modo gradual e progressivo. Facilmente se perdem ou deterioram, muito difícil e lentamente se recompõem e se reconquistam”.
A entrevista, da qual demos nota da primeira parte, surge no contexto da avaliação do ano pastoral que findou e da programação que a diocese está a fazer para lançar o novo ano, com todas as incertezas que a situação pandémica impõe.
O arcebispo tece algumas notas sobre a realidade existencial do tempo presente reconhecendo sinais de “uma preocupante pobreza filosófica” e “uma evidente banalidade fútil de muitos comunicadores, e dos chamados ‘líderes e fabricantes de opinião’, sobretudo os sobranceiramente pretensos vanguardistas, quando afinal no seu snobismo… com consequentes propostas vazias , as quais, por vezes, parece nem eles entenderem e, por isso, não acreditarem definitivamente, mas servem para vender”.
Para D. Francisco estamos vive-se num “contexto superficial” e pode acontecer que atrevêssemos esta pandemia “sem ler os seus recados” mas, a verdade é que, “não podemos ir retomando a vida de modo leve, como se nada de decisivo e grava tivesse passado por nós e esteja ainda a passar por nós, sem ninguém perspetivar com confortante segurança o seu evoluir futuro e quais todas as suas consequências”. No entanto, salienta, “isto não quer dizer que importa ficar marcado ou traumatizado, mas significa não permanecer alheado e estrategicamente indiferente aos sinais que não carecem de legenda”.
O arcebispo traça alguns pontos essenciais de aprendizagem neste tempo de pandemia para corrigir a trajetória:
- O cuidado da casa comum – ”novos hábitos e modos de atuação”. É “urgente… uma ecologia global e antropológica, recusando as regras da economia que, no dizer do Papa Francisco, ‘mata, e gera o grito da terra e dos pobres’.
- A vida humana, a centralidade da família e a riqueza das pequenas comunidades – “a vulnerabilidade do ser humano, que perante crises desta amplitude não encontra resposta definitiva nem na ciência, nem na técnica, mas carece de esperança e sentido”. E prossegue o arcebispo “Talvez a pandemia nos tenha mostrado definitivamente o lugar da Vida Humana”, “a decisiva importância da família, enquanto berço natural da vida e último reduto da segurança humana”.
- A necessidade da Esperança – “Precisamos de quem nos mostre a esperança, diga onde mora, que é Alguém, como se chama e como se pode encontrar”.
- Cristãos desafiados para o testemunho da Esperança – “Eis o desafio de sempre e que volta aos cristãos do século XXI: Viver, testemunhar, anunciar a Boa Notícia que é Esperança. Todos têm direito, sobretudo as novas gerações, também elas, Esperança”.
- A Igreja vive o desafio do tempo – “a Igreja tem de viver estes tempos como novos e por si mesmos renovadores.
Relativamente à proposta pastoral para o próximo ano, o arcebispo de Évora salientou a continuidade do programa do ano anterior, pois trata-se de um projeto para três anos, até à jornada Mundial da Juventude que foi adiado um ano. Com o tema: “Procurar e acolher os sedentos de esperança”, o ano pastoral está centrado nos mais recentes documentos da Santa Sé e da Conferência episcopal.
A grande preocupação é a catequese que “exige uma reflexão muito séria” e acrescenta “o grupo de catequese é um grupo de trabalho que tem como modelo a família”, a solução, segundo o arcebispo, parece estar em grupos mais pequenos e na inclusão da família, pais e avós no processo catequético.
Relativamente aos grandes eventos, o arcebispo de Évora pretende, “respeitar todos os momentos habituais do ano a começar pelo Dia Diocesano a realizar no dia 5 de outubro.
No final da entrevista, D. Francisco, convida os cristãos a regressar à Eucaristia porque “a Igreja é um lugar seguro”, “Gostava de dizer a todos os cristãos que não tenham medo de voltar à Igreja”.