É sobre esta temática que, para este mês, decidimos ir á procura daqueles que já fizeram parte da nossa casa, muitos e muitos anos, e que ainda hoje em dia são parte de nós!
Apresentamos-vos, por isso, a Telma Salsinha Teles, que passou pela nossa casa de exploradora a caminheira e que, pela sua vida, tem sido para nós um grande orgulho e honra, em tê-la como irmã escutista deste 1085.
Pedimos então à Telma que nos escrevesse um pouco sobre a sua vida, ao longo destes anos fora do escutismo, mas sempre no caminho da Fé Cristã. Foi difícil, para a Telma, relembrar os tempos de escuteira e, “para vos ser sincera nem sei por onde hei de começar”…
“Realmente a minha vida podia resumir-se a trabalhar, cuidar da miúda, da casa e nada mais do que o normal, mas… essa não seria a minha verdadeira montanha russa.
Para vos ser sincera, anseio por ter uma vida “normal” e sem muitos afazeres, no entanto quis Deus que eu tivesse algo mais para vos contar e para transmitir aos outros. Pelo menos é assim que vejo as coisas que nos vão acontecendo e que nos vão surgindo.
Posso-vos dizer que em 16 anos de vida com o meu marido, só tivemos 15 dias de férias e foi a nossa lua-de-mel!
Até podia ter sido uma lua-de-mel numa ilha paradisíaca, mas… mais uma vez, essa não seria a minha cara. Fomos para Roma, andámos quilómetros e todos os dias tinham de ser iniciados no Vaticano. Porquê? Talvez porque há certos sentimentos, emoções que falam mais alto e que não se explicam… sentem-se.
Enquanto casal, todos os dias trabalhámos afincadamente porque queríamos dar uma vida melhor à nossa filha, porque tínhamos objetivos e sonhos por realizar. Até que um dia tudo mudou! A vida virou-nos de cabeça para baixo com uma sentença eterna, isto é, eu tinha de abrandar porque a minha saúde estava comprometida.
Foram notícias duras e difíceis de digerir, mas sempre com a certeza, mesmo na incerteza humana, de que o meu Pai não me abandonava e nem me dava uma cruz eu não conseguisse suportar.
Aos poucos e poucos deixei novamente que o sol brilhasse na minha vida, afinal de contas, tenho uma princesa que precisa que a mãe seja o espelho de força, resiliência e muita fé.
A verdade é que quando pensava que já estava tudo devidamente controlado eis que não me calha a mim a surpresa, mas ao meu marido, e ainda por cima era exatamente a mesma que eu!
Mas como seria possível que ambos tivéssemos exatamente o mesmo, apesar de se demonstrar de formas tão diferentes e tão intensas?
As perguntas sem resposta são enormes, mas a certeza de que Deus existe mesmo sem o enxergarmos também é inabalável.
Neste momento ainda estamos num processo de aceitação e rejeição. Agosto deveria ter sido um mês calmo, mas quis a vida que nos confrontássemos duas vezes com o meio hospitalar.
O regresso a casa foi duro e passei de paciente a cuidadora em questão de segundos.
Por incrível que pareça, os dias, apesar de curtos, têm mais tempo. Há sempre tempo para jogarmos às cartas, para comermos juntos e vermos televisão. Até há tempo para comtemplarmos as cores do céu. Ao longo desta jornada percebemos que nós somos livres de sermos quem quisermos ser. Que os amigos mesmo longe estão perto e que o amor tudo vence.
É verdade… o amor tudo vence, tudo supera e tudo alcança! Se há coisa que agradeço aos meus pais foram os valores que eles me transmitiram.
E se há coisa que aprendi nos escuteiros é o verdadeiro sentido de missão, equipa e união!
Só mais uma coisa, às vezes fazemos coisas que para nós são banais, como por exemplo dar um bom dia a uma pessoa na rua. Mas serão que essas coisas mesmo banais?
Num mundo onde se alimenta a discórdia, e onde por detrás de uma tecnologia todos são senhores e doutores muitos são os que se esquecem do que somos! Somos humanos e os nossos atos contam e podem fazer a diferença a qualquer momento.
Acho que estou pronta para lançar uma nova onda que espero que se torne viral, tal como todas as correntes e protestos que se fazem online. A minha onda será a onda do amor… O amor pelo ser humano. Não vou falar do amor pelos animais porque felizmente já há muito mais preocupação do que há uns anos atrás, vou sim falar sobre o amor pelo ser humano porque acho que todos nos esquecemos do que é ser humano.
Somos seres que precisamos de afetos, de uma palavra amiga, de um gesto, de um bom dia. Atitudes e gestos que podem mudar a vida de alguém, que podem colorir os nossos corações.
Às vezes, se não a maior parte das vezes, é mais fácil julgarmos quem não está ou quem não fez algo, mas… e colocarmo-nos no lugar do outro? Perceber o porquê de não ter feito ou de ter tomado aquela atitude? Mas como é que damos amor?
Dar amor é simples. Aliás é bem mais simples do que a maior parte das tarefas diárias que temos de fazer. Posso dar-te um pequeno conselho?
Começa por acordares e agradeceres a bênção por estares viva (o). Cuida de todos com a certeza de que deste o teu melhor.
Vai pela rua e mesmo que não conheças as pessoas, diz bom dia. Acredita que vais ter algumas caras fechadas, mas vais ter também imensos sorrisos que te fazem respirar com alegria.
Olha para o céu e agradece o sol, as nuvens, as estrelas…
No teu trabalho, sempre que puderes tenta dar um pouco de ti aos outros. Pergunta se precisam de ajuda e caso não queiram, respeita o seu espaço. E nunca te esqueças de cuidar de ti!
E é assim que vais dando amor aos outros, porque nunca te esqueças que é nos pequenos gestos que podes fazer a diferença. E já agora se puderes deixa-te contagiar pelo Espírito escutista! Acredita que a vida passará a ser muito mais preenchida e colorida.”
Que as palavras desta nossa irmã sejam motivadoras para todos nós, cristãos, e que nos façam olhar para o próximo e para o mundo sempre com um sorriso e de braços abertos para abraçar a felicidade que vem do próximo!
Obrigado Telma! ◄