Maria é o mais doce exemplo do Amor, do Serviço, do Silêncio e da Família. Maria é a oração que vamos fazendo com a vida, com as mãos colocadas no peito, segurando e fazendo correr entre os dedos as contas do rosário de Cristo. A Vida foi-nos dada pela sua entrega, sem medo, aceitando e fazendo o que se lhe colocava, sem reservas, sem temor, sem hesitar.
A Vida nasceu na Cruz e a nossa maternidade nasceu nesse dia pelas palavras de Cristo, padecido aos pecados do mundo que pretendia unificar. Nós, hoje, ontem e sempre, somos o Discípulo que Ele sempre amou e por quem vale a perda da sua vida. Nossa mãe é Maria, a Mãe de todas as horas e hoje, nesta noite, é hora de regressar ao seu regaço, aconchegando as dores, os medos, os sonhos e os sofrimentos no seu colo maternal e disponível.
Maria está tão disponível para amar, que se disponibilizou para ser berço das Famílias, criando, com o seu SIM, a família modelo para as nossas próprias famílias. A Família começa em Maria duas vezes na história da Salvação. A Família de Deus, comunidade viva em Cristo, começa na manjedoura de Belém e recomeça contigo na Cruz em Jerusalém. Maria é apelo, é desafio e é missão das Famílias de Deus, verdadeiras pedras vidas da comunidade cristã, da sociedade e do mundo. Lá longe, na Cova da Iria, nesta noite, a Mãe espera por nós, espera ouvir a nossa voz. Assim o faremos aqui, nesta noite, onde a distância de espaço é um encontro de tempo.
Maria, com a sua vida, transformou-se no discípulo exemplar de Jesus: seguiu-O, acolheu a Sua Palavra, conservou-a no coração e meditou sobre ela na sua vida. Foi Peregrina de Coração e sinal de opção de Deus pelos pobres. No seu Magnificat, Maria resume a proposta das Bem-Aventuranças. Maria recebe o Espírito Santo no nascimento de Jesus, aquando da Visitação do Anjo, e no nascimento da Igreja, aquando do Pentecostes.
Maria sabia que Jesus estava prestes a morrer. O tempo de festa havia acabado. A maior parte dos que O haviam seguido pelos campos, ouvindo a sua Palavra, não tinham chegado a subir a colina com Ele nesse dia. Tinham voltado para casa. Aqueles que tinham um dia deixado tudo para O seguir, haviam agora voltado ao seu mundo, às suas coisas, deixando Jesus para trás, com o peso da Cruz que pertencia a todos eles. Por medo, fugiram da vida que Jesus lhes tinha mostrado, sem sequer darem a Jesus uma única palavra de adeus. A história da humidade poderia acabar ali, com a morte de Jesus. Mas Jesus, resgatando o coração do mundo enquanto entregava o seu, chama toda a gente de novo, na figura do discípulo muito amado, eu e tu, cada um de nós, mesmo os que haviam corrido para suas casas. Ali entrega o mundo todo no colo de sua mãe. Troca a sua vida, a sua condição de filho, pela vida do mundo, na condição de seu mais amado discípulo. Maria soluça entre lágrimas e suspiros, mas mais uma vez, na simplicidade da sua fortaleza, aceita-nos no momento em que perde o seu filho.
A família não está em crise. A família tem sido sempre a unidade basilar das nossas sociedades e mais uma vez, neste conturbado tempo, tem dado mostras da sua verdadeira força, da sua natureza e das capacidades de cada um dos seus elementos. As pessoas estão confinadas em casa, privadas do tempo louco do mundo, mas às famílias tem sido dada a liberdade de serem felizes, de se recriarem, de se conhecerem melhor, de viverem mais tempo de qualidade, de superarem em conjunto dificuldades de todos e de cada um. Nestes dias, Maria tem estado com as famílias em casa, numa procura tão bonita de conquistar um espaço de trabalho, de lazer, de descanso, de criação, de encontro, de oração, de Deus. Maria fala às nossas famílias com a delicadeza do seu silêncio, pois o mundo calou a voz para que as famílias se possam ouvir…e que coisas tão belas as famílias têm dito…
Maria estava cheia da graça de Deus, pois Ele já a conhecia desde o tempo que estivera no ventre de sua mãe. Deus queria que pelo ventre da esposa de José, passasse o futuro da humanidade e por isso leva até ela uma grande luz, na forma de Gabriel um anjo que anuncia uma enorme missão. Maria não se deixou cegar pela luz, nem pela mensagem, nem pelo desafio, nem pela estrondosa missão. Maria não pensou em si mesma, mas pensou imediatamente em seu esposo José, na família que haviam planeado construir juntos. Maria não pensou no mediatismo que tal notícia poderia gerar, nem no desconforto, nem no alarido social. Maria, na sua serenidade imensa, guardou no seu coração e amadureceu essa ideia, não sem antes dizer ao Anjo que estava pronta e que faria tudo o que o Senhor Deus lhe pedisse. A futura mãe de Jesus não teve medo, viveu cada minuto com o espirito que a missão lhe exigia, até ao último dos seus dias, e muito para além desse marco temporal, falando mesmo hoje, aqui, a cada um de nós…
Quantas vezes a mãe cala e o pai espera? Quantas vezes a mãe reza e o pai consola? Quantas vezes a mãe confia e o pai pede? Quantas vezes o casal se encontra na dificuldade dos dias e daí parte renovado para a vida? Os problemas das famílias não é terem problemas, é sim não conseguirem forma de os enfrentar em conjunto, em unidade, em esforço repartido, respeitador, concertado. Mais do que cada problema que nos surge, é o peso de cada um de nós se esforçar em direcções opostas, fazendo com que a dificuldade se espraie à nossa volta. A primeira intervenção na dificuldade tem que ser Amar. Primeiro amamos, depois seguimos juntos nem que seja para o sofrimento da perda, a angústia da incerteza, a dor da dúvida, ou a amargura da derrota naquele momento. Famílias unidas ganham guerras, contabilizadas por batalhar perdidas e estonteantes vitórias de alegria e superação. Não há medo, a família reclama para si o mesmo Sim dado pela Mãe de Jesus, em todas as situações porque passou… ◄