Para além dos números de Covid-19 não pararem de aumentar no mundo com mais 36 milhões de casos confirmados e de 1 milhão de mortes, de acordo o site https://www.worldometers.info/coronavirus/, até ao dia 6 de outubro de 2020, a verdade é que com a chegada das estações mais frias no hemisfério norte, a gripe sazonal vai chegar como sempre gerando uma situação ainda mais complicada do que durante o período de março e abril para o Sistema Nacional de Saúde (SNS). É bom relembrar que, felizmente, a vacinação existe para a gripe sazonal e é exatamente o que esperamos ver resolvido pela ciência para a Covid-19 nos próximos tempos!
Em Portugal, o período de férias de verão, usufruído pela maioria dos portugueses, veio antecipar a esperada subida diária dos casos de Covid-19 nos próximos tempos. Nada de extraordinário, perante os comportamentos de riscos a que assistimos todos os dias de gente que julga que o mal só acontece aos outros, por pura ignorância. É lamentável que após mais de seis meses de pandemia ainda haja gente que não sabe colocar uma simples máscara no rosto e que ainda muitos, vergonhosamente, as deitam para o chão sem qualquer pudor provando a enorme falta de civismo existente entre nós.
Seria desejável que a governação, a par da televisão estatal, aquela que chega a TODOS, investissem mais tempo de esclarecimento à população nesta matéria em horário nobre, em detrimento de dar voz a outras palermices numa espécie de concorrência com a programação das televisões privadas. Não basta ser positivo e de acreditar em palavras bonitas de esperança como “Vai ficar tudo bem!”, trata-se apenas de ser realista e de saber que a coisa vai piorar mesmo porque tudo depende de nós. Sei bem que para os negacionistas, que enchem as redes sociais com comentários sem qualquer suporte científico, estamos a viver uma grande falácia! A pergunta que se deve fazer é saber se sem estas medidas de distanciamento social, higienização e uso de máscara, quais seriam os números de casos confirmados e de mortes no mundo e no país?! Deixo a resposta para os negacionistas!
Sob o pretexto do primeiro ministro António Costa dizer que o país não irá aguentar um novo confinamento igual ao de março, voltou tudo à suposta e desejada normalidade, embora camuflado com um plano de contingência, determinado por regras definidas por instâncias superiores de saúde pública, entenda-se DGS! Portanto, passámos do 8 ao 80, mesmo sabendo que agora a possibilidade de rotura do SNS é muito mais elevada e já comprovado com o aumento de camas de internamento e de cuidados intensivos nos hospitais.
Em plena pandemia, voltar a colocar cerca de 1,5 milhão de alunos nas escolas do país poderá ser um verdadeiro ato suicida, mas o tempo irá encarregar-se de contar esta estória. Decididamente, ou está tudo maluco, ou somos realmente governados por políticos, maioritariamente, incompetentes e por uma senhora da DGS que já deveria estar reformada há muito tempo permitindo o tão necessário rejuvenescimento da instituição. O pior de tudo isto é que são estas pessoas que decidem a vida dos nossos filhos e, por inerência, também as nossas! Não coloco em causa, a situação anómala que estamos a viver com esta pandemia e que nos empobrece a todos, ou melhor, à grande maioria, no entanto, certamente que vivemos menos incerteza do que outrora, uma vez que existe mais conhecimento sobre o vírus incluindo a previsível segunda vaga comprovada com os casos a aumentarem para valores médios piores do que em março e abril.
Comparo este regresso anormal à escola ao dos regimes totalitários cujo sistema de ensino, para além do óbvio conhecimento adquirido e dos alunos serem preparados para a vida, a verdade, é que tudo é feito na base do rigor frenético, da disciplina obsessiva e da obediência ideológica! Assim foi feito o regresso presencial no nosso país, à semelhança dos referidos regimes totalitários, embora de forma adaptada onde impera o suposto rigor (mascarado), disciplina (forçada) e obediência (desejada)!
Se para a maioria dos alunos e professores a escola já era pouco atrativa, agora será um verdadeiro tédio. Aprender desta forma autómata e sem jeito é perigoso e muito triste. A escola mais do que aprender é fonte de liberdade, de comunicação, de partilha, de convívio, de crescimento entre crianças e jovens da mesma idade que era aquilo que eles mais desejavam há muito tempo.
Perguntem aos alunos, aos professores, aos assistentes operacionais, aos encarregados de educação, … no fundo, a toda a comunidade educativa, se é este o regresso à escola e o ensino desejado?! Não é certamente. Alguns dirão que é o possível, é verdade, mas poderia ser diferente e bem melhor em prol da sanidade mental de todos.
Mas que loucura é esta que exige tanto para quase tudo, mas que no essencial, ou seja, naquilo que pode contribuir para a disseminação do vírus, é o deixa andar, como por exemplo, salas sem condições de permitir o distanciamento social, quer por excesso de alunos, quer por falta de carteiras individuais, quer ainda pelo uso de máscaras de proteção duvidosa contrariando as próprias medidas impostas pela DGS. Mais uma vez, lamento tanta passividade de sindicatos de professores e associações de dirigentes escolares sobre estas questões essenciais.
Só um burro é que não vê, e apresento desde já as minhas sinceras desculpa a este animal que tanto gosto e me faz recordar a infância junto do meu avô materno, o qual, infelizmente, se encontra em vias de extinção, que os extremismos do tudo ou nada sob o lema de que não pode voltar a ser tudo igual é um erro que pode pagar-se caro!
Só um burro é que não vê que o espaço físico das escolas, em geral, não suporta tanta exigência proferida, contribuindo, isso sim, para a criação de horários escolares insensatos que contraria a tão falada paixão pela educação ao tratar os alunos e os professores desta maneira tornando irrelevante aspetos pedagógicos!
Só um burro é que não vê, que criar circuitos no espaço escolar com o único intuito de enfiar os alunos numa sala para supostamente aprender é pura obsessão! Comunicar dias inteiros com uma máscara no rosto e à distância é motivador para quem?! Para ninguém, obviamente.
Só um burro é que não vê que o ENSINO MISTO seria aquele que daria a melhor e a mais equilibrada resposta ao período pandémico que ainda temos pela frente. Nunca a velha máxima “no meio é que está a virtude” fez tanto sentido para a realidade que estamos a viver permitindo uma melhor gestão de recursos e um regresso mais moderado às escolas e mais feliz dos alunos.
Sou acérrimo defensor do regresso à escola plural e livre, mas desta triste e atabalhoada forma, vai ser um ano escolar de verdadeiro inferno contribuindo apenas e só para o desgaste emocional e psicológico, sobretudo, dos alunos e dos professores! Os alunos são únicos, as escolas também são únicas, por isso, tratar tudo por igual continua a ser o maior atentado ao ensino em Portugal, embora baseado na suposta, mas falsa, autonomia das escolas!
Termino com um desejo que não é utopia, mas que certamente em vida jamais verei concretizado, no entanto, acredito que o avanço da nossa civilização, com base na EDUCAÇÂO PARA TODOS, irá não só combater o surgimento de extremismos no mundo como permitirá a existência de ESCOLAS SEM MUROS E SEM GRADES porque este regresso, não é MAU, é pior do que o regime de MAO! Um ótimo e feliz dia para todos! ◄
- Publicado na edição impressa de outubro 2020