Este país à beira-mar plantado ainda é conhecido pelo país dos 3 F’s; FADO, FÁTIMA e FUTEBOL, atributo que lhe foi conferido durante o longo período do regime ditatorial do FASCISMO!
Atualmente vivemos ainda com o estigma dos mesmos F’s, mas enquanto Salazar ditava o tão FAMIGERADO “orgulhosamente só”, os F’s de hoje são mais requintados e reconhecidos globalmente!
Temos o FADO como património imaterial da humanidade, desde 2011, (no Alentejo, a nossa FALA cantada – o cante – também o é, desde 2013, mas que, para mim, perdeu a sua genuinidade ao deixar de ser cantado espontânea e voluntariamente nas tradicionais tabernas) que, e depois de um período menos FÉRTIL, se sente um renascer rejuvenescido, sobretudo, este ano com a comemoração do centenário do nascimento da FADISTA Amália Rodrigues! Temos FÁTIMA a comemorar e a viver os seus mais de cem anos com a visita dos últimos papas ao santuário e a receber crentes de todas as partes do mundo! Temos ainda o FUTEBOL que, e para além de sermos os campeões da europa em título, também conseguimos atingir o patamar superior, a nível individual, com o melhor jogador, treinador e empresário do mundo! É algo para dizer com alguma ironia, FANTÁSTICO! Para os mais melindrados, acrescento que me orgulho sempre dos FEITOS conseguidos pelas pessoas com o seu trabalho, empenho, dedicação e, até crença pessoal ou FÉ, mas sem FANATISMO! Aliás, emociono-me mais com os FEITOS do que com as FATALIDADES!
É aqui que entra o quarto F de FACEBOOK! Com mais de 2375 milhões de utilizadores mensais ativos no mundo, conquista o primeiro lugar do pódio mundial e, simultaneamente, em Portugal. No nosso país, e apesar de 20% dos portugueses nunca ter tido contacto com a internet, 90% dos cerca de 8 milhões de utilizadores recorre à rede social FACEBOOK, o que se traduz em 7,2 milhões de contas ativas num universo de pouco mais de 10 milhões de portugueses. É por isso que o FACEBOOK passa a ser o quarto F do país dos F’s, e curiosamente associado ao poder dos media, conhecido como o quarto poder depois do poder legislativo, executivo e judiciário!
O FACEBOOK terá, sem dúvida, alguns aspetos positivos na relação social que gera, no entanto, será sempre algo desvirtuado e irreal onde impera a vaidade e a inveja, talvez os piores dos pecados mortais! Um mundo onde nunca se leu e escreveu tanto em toda a história da humanidade, mas que, simultaneamente, nunca se leu tanta inutilidade e se escreveu tão mal, em que, paradoxalmente, a maioria das pessoas não lê um livro e tem dificuldade em escrever uma carta! Um mundo onde imperam as FALSIDADES, FUTILIDADES, FIGURAS e FIGURINHAS e FOFOQUICES! Um mundo onde todos comentam o FRACASSO alheio e, tantas vezes, são incapazes de resolver os seus próprios problemas! Um mundo anestesiante que nos esgota em informação e nos rouba a mais preciosa matéria-prima da vida, o tempo! Um mundo que nos obriga a estar permanentemente conectados, que nos rouba o sono e nos conduz ao agora tão em voga e conhecido estrangeirismo, bornout! Um mundo onde incrivelmente se parabeniza por tudo e por nada e até se dá os sentimentos pela morte de alguém que nunca conhecemos!
É aqui que entra o sociólogo polaco Zygmunt Bauman (Poznan, Polónia, 19 de novembro de 1925 – Leeds, Reino Unido, 9 de janeiro de 2017)! Bauman considerado para muitos como o pai da pós-modernidade, algo que ele próprio rejeitou categoricamente, durante os seus 91 anos de vida, escreveu mais de 40 livros, entre eles, Modernidade Líquida, Amor Líquido, Vida Líquida, Tempos Líquidos,… Em 2000, cria o conceito de “Modernidade Líquida” afirmando que “Vivemos tempos líquidos. Nada é para durar.” Bauman compara a água líquida a algo que se pode moldar ao espaço do momento e depressa flui para outro espaço diferente, na verdade, usa a palavra liquído/a como uma metáfora representativa dos dias de hoje “onde não há laços permanentes” contrapondo com a modernidade sólida do passado! Um bom exemplo da modernidade sólida pode ser o conceito de FAMÍLIA que se tem vindo a “liquidificar”! Basta perceber que em Portugal somos campeões em destruir a solidez do matrimónio de outrora, a qual, atualmente, já não existe mais porque os números falam por si, ou seja, em cada 100 casamentos, 60 resultam em divórcio!
Segundo Bauman, e com o qual eu concordo, as pessoas já não se ouvem mais umas às outras, as conversas são, maioritariamente, vãs e sem conteúdo, apesar de todos termos opinião certa sobre tudo! Vivemos um individualismo extremo com uma forte componente narcisista para apenas mostrarmos aos outros onde fomos, o que vestimos, o que comemos, o que fazemos,… recorrendo a post’s de FRASES FEITAS e a FOTOGRAFIAS tiradas no momento em que é obrigatório sorrir para mostrar a nossa suposta FELICIDADE aos outros, na esperança de receber uma quantidade de emoji’s e like’s justificativos da nossa existência triste e solitária, atrás do ecrã de um computador ou de um telemóvel!
É no mínimo curioso, vivermos numa democracia que sabe mais de nós do que no tempo vivido em ditadura! A questão central é que tudo isto é feito com a nossa conivência permitindo através daquilo que publicamos nas redes sociais, a criação de algoritmos inteligentes que sabem exatamente os nossos gostos e interesses pessoais e com o qual somos bombardeados diariamente! Queremos saber de tudo, mas não damos importância a nada! Votamos mais facilmente numa banalidade do que nas eleições democráticas! Passamos o tempo a reclamar, mas ignoramos qualquer petição pública ou manifestação de luta pelos nossos direitos!
Parafraseando a tão atual e conhecida “parábola da caverna” de Platão, é preciso sair do “FOSSO”, é preciso não FOSSILIZAR porque a mudança está em nós próprios e não nos outros, porque a nossa FELICIDADE depende única e exclusivamente das escolhas de cada um de nós! Recordo dois conceitos que constam desde sempre na “República de Platão”, a “doxa” e a “episteme”! Resumidamente, a doxa refere-se à simples opinião enquanto que a episteme aborda o verdadeiro conhecimento! Mais do que nunca, é preciso abandonar definitivamente o primeiro em prol do segundo, ou seja, da verdade, do saber, da crítica construtiva e factual, do pensamento livre porque, e na verdade, sempre que nos questionamos para entendermos o mundo e expomos as nossas ideias aos outros, somos também filósofos e políticos, assim como foi Bauman, filósofo e político! Curiosamente, e no sentido etimológico da palavra, o político é aquele que se “abre aos outros”, contrariamente, o idiota é aquele que se “fecha sobre si mesmo”!
Termino com duas frases de Bauman para refletir, “As redes sociais são uma armadilha” onde se adicionam e apagam “amigos” ao sabor de um click e, por isso, “Para mudar o mundo, os jovens precisam trocar o mundo virtual pelo real”, mas, e na verdade, a coisa não está nada FÁCIL! Bauman merece ser ensinado nas escolas de hoje! Um ótimo e FELIZ dia para todos!◄

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