A falta de uma reflexão que faça emergir a consciência das coisas faz com que, no final, a resposta seja “o que cada um quiser”. Por isso é que, muitas conversas sérias terminam com a conhecida afirmação “fica com a tua que eu fico com a minha” ou “leva lá a bicicleta”. Muitas vezes somos confrontados com a afirmação decisiva “essa é a sua opinião”. Então, a liberdade, a cidadania, a verdade, o amor, a alegria, a democracia, a saúde, a paz, a justiça, a educação, a felicidade, a proteção, o cuidado e…, a lista pode ser exaustiva, tudo o que nós quisermos, está cativo, penhorado à opinião individual. Para uns é uma coisa e para outros é outra bem distinta.
Enão, pode ser o que cada um quiser? Poder pode… mas na verdade as coisas têm essência e, este “pode” é para aqueles que não tendo consciência não buscam a essência das coisas, ficam na sua “opinião”. É por causa disto que, em determinados temas, circunstâncias ou acontecimentos, se levanta um grande burburinho, por vezes alarido, ou mesmo um ruído ensurdecedor, em que cada um diz o que lhe apetece sem pensar, e tudo termina na esterilidade de um esquecimento porque o assunto não interessa, interessa a discussão. Antigamente dizia-se “da discussão nasce a luz”, mas já nada é como antigamente e o mais certo é nascerem trevas onde havia luz, por causa de uma discussão estéril.
O facto é que “ninguém” está interessado em chegar à verdade, “ninguém” quer aprofundar o assunto, não há interesse em conhecer, não faz parte do programa apurar os factos, conhecer a temática, ter em conta as diversas perspetivas, encontrar soluções e, isto significa que, não há verdadeira preocupação pelas pessoas. O único interesse é agitar. É pena, porque há oportunidades únicas para chegar a uma solução que fortaleça as estruturas e garanta o bem comum, preservando a diferença, favorecendo a diversidade, sem perder a própria identidade e deixando a todos numa situação melhor.
Claro que esta afirmação final exige de todos mais entrega, mais dedicação, mais estudo, mais aprofundamento, mais avaliação, mais análise, mais escuta dos diferentes pontos de vista. Numa palavra, mais trabalho e, por vezes, senão sempre, um espaço próprio onde se tratem os assuntos com seriedade. Em muitos temas da sociedade portuguesa, no momento presente, não há interesse em fazer este trabalho sério para chegar a conclusões que abram portas a verdadeiras soluções. O que interessa é fazer barulho na comunicação social.
No momento atual, passada a ilusão de que “vamos ser todos melhores”, percebe-se o interesse em lançar fogo e deixar arder com a ajuda de ideólogos, especialistas de serviço, peritos de ocasião, políticos, religiosos e muitos jornalistas e comentadores. Para fazer ruído é preciso uma boa dose de todos estes ingredientes. Tudo, a favor dessa coisa que ninguém sabe o que é, mas a que todos chamam liberdade e seus derivados. Essa liberdade que faz com que uns vivam ao acaso, outros por conta própria e muitos ao serviço de “outro”.
Quem é que nunca entra nesta discussão? Os últimos. Esses aguardam que a discussão acabe para ver o que lhes calhou em sorte.
É a saúde, os hospitais, as unidades de cuidados, os médicos, os enfermeiros, as instituições de solidariedade social, os lares, os responsáveis, os funcionários, a Segurança Social e a ARS, os ministros da saúde e da Segurança Social, bastonários disto e daquilo, tudo à mistura. Uma gritaria em que ninguém se entende, que diverte as televisões e assusta o povo.
Uma confusão em que uns falam dos lares como se fossem hotéis e outros acham que são hospitais. Por isso é que há quem entenda que a mão de obra excedente da hotelaria, agora em crise, devia apostar nos lares e outros querem que os enfermeiros, que não existem, encham os lares, as equipas técnicas e as direções das instituições.
Confundem Instituições particulares de solidariedade social com lares particulares e acham que todas são subsidiadas pela Segurança Social e que todas são pagas a peso de ouro. É só barulho. Tudo pelo superior interesse dos idosos.
Um pequeno exemplo foi o que aconteceu na reunião entre políticos e peritos. Durante a reunião era suposto falar-se dos lares porque os idosos são pessoas de risco altíssimo e o governo diz que tem os lares como prioridade. Que aconteceu? Não se falou do assunto. Quando Ferro Rodrigues chama a atenção para o problema, a ministra da saúde responde “o Estado não escamoteia as suas responsabilidades”, mas, de seguida, responsabilizou os lares que no seu entender são privados e sociais. Ou seja, ela não tem nada a ver com o assunto. E continua dizendo que é aos lares que cabe o “dever de guarda”, ou seja, a responsabilidade, como se a saúde fosse da responsabilidade do social. Não percebeu nada, não aprendeu nada, não assume nada. Atira o problema para cima dos outros. Foi mais ou menos isto que Ferro Rodrigues quis dizer na ocasião.
Seria bom menos barulho e mais atenção às pessoas. Esta gente nunca entrou num lar, nunca deve ter visto um idoso, fazem parcerias e desresponsabilizam-se, não escamoteiam mas olham para o lado.
Mas há mais! Educação, Escolas, professores, alunos, pais, cidadania, obrigatório, facultativo. Presidentes, ministros, pensadores, políticos e bispos. Educação rodoviária, desenvolvimento, igualdade de género, Direitos Humanos, educação financeira, Segurança e Defesa Nacional, Voluntariado, ambiente, educação para os média, saúde e sexualidade, empreendedorismo, educação do consumidor e projeto Europeu.
Tudo isto à mistura deu origem a dois manifestos e muita literatura jornalística. Esgrimir argumentos é habilidade de todos os lados. De um lado “coitadas das crianças que têm um pai daqueles” e do outro “coitadas das crianças que têm que participar naquela lavagem ao cérebro” do outro, o lado de que ninguém fala, “coitado do professor que nem sabe do que há de falar”, porque ainda que a disciplina de Educação para a Cidadania seja obrigatória os alunos bem sabem que aquilo “não interessa para nada”, são eles que o dizem (também o dizem do Inglês e da Matemática). Tudo pelo superior interesse da criança e do jovem.
No final, o ministério decide que as crianças podem transitar de ano sem terem frequentado a disciplina. Ou seja, matou o assunto, matou a disciplina e desvalorizou o ensino e a Escola sem ter feito nenhum tipo de reflexão séria.
E se a preocupação não fosse por esta ou aquela disciplina, mas pela Escola. A Escola é a maior maravilha que o homem foi capaz de criar. É necessário proteger a Escola que não é apenas uma disciplina. A Escola é encontro, relação, afetos, aprendizagens, descoberta de si e dos outros… é um lugar de aprendizagens múltiplas. A Escola é mais do que uma sala de aula. Valorizar a Escola para lá desta ou daquela disciplina, deste ou daquele professor que não se enquadra no nosso perfil, é fundamental. O essencial, aquele que é o papel de todos, pais, professores, sociedade em geral é dar às crianças o gosto pela Escola e o respeito pelo percurso, aprendendo a discernir, porque vão ter que o fazer o resto da vida.
A valorização da Escola enquanto lugar onde crescem crianças e jovens é mais do que o conteúdo de uma determinada matéria, embora se deva ter a máxima atenção aos conteúdos.
Afinal, aprendemos alguma coisa? Ficamos melhores? Percebemos o que é ser livre num tempo novo? Sabemos distinguir a verdade e persegui-la? Somos cidadãos de que cidade?◄

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