Foi há dezasseis anos que a então Vila de Reguengos de Monsaraz foi elevada a cidade. A situação pandémica que o mundo atravessa não permite qualquer celebração festiva para além do que foi decidido na última reunião de Câmara, o içar das bandeiras comemorativo da efeméride.
Há dezasseis anos PALAVRA escrevia na página 17 da edição 450 de dezembro:
Reguengos é cidade!?
Nascida a 29 de fevereiro de 1840, a então chamada Vila Nova de Reguengos, não podia imaginar que, passados pouco mais de cento e cinquenta anos, se tornaria cidade de Reguengos de Monsaraz.
A “novidade” iria surgir num dia de nevoeiro, a recordar a tão portuguesa espera de El Rei D. Sebastião, na serenidade de um habitual dia de trabalho, apenas interrompido pelo soar da sirene dos Bombeiros, pelo repicar dos sinos da igreja e pelo ribombar dos foguetes.
Este acontecimento parece não ter alterado em nada a vida dos munícipes do concelho de Reguengos mas, a verdade é que, nada será como antes. Agora, a Vila já não será chamada assim, mas de cidade e tudo se construirá em torno desta realidade.
Não adianta, agora, questionar se foi ou não uma medida acertada, mas questionar o futuro sobre o que nos é pedido fazer para tornar Reguengos uma das cidades alentejanas com maior desenvolvimento, prosperidade, cultura e segurança, de forma a que todos os que venham a adotar esta cidade como sua terra, bem como todos os que por aqui passem, possam dizer que esta é uma terra de gente feliz.
Certamente, muitos dirão que Reguengos é uma terra com todas as condições para ser cidade e outros dirão precisamente o contrário, mas a realidade impõe-se mais forte do que as opiniões. Já é cidade e não pode continuar a crer-se uma terra sem futuro, senão que esse futuro tem que se tornar uma realidade tão visível como o é, para todos, a recente elevação a cidade.
As cidades não começam todas da mesma maneira. Há as que se impõem pela sua vida social, política e económica, as que são fruto da luta incansável dos seus habitantes, confiantes nas suas capacidades e nas possibilidades da sua terra. Mas há ainda as que, tendo possibilidades de chegar a ser o não são senão pela teimosia de alguns, que por todos os meios lutam para conquistar um título, nem sempre aceite por todos.
Não pretendo fazer nenhum tipo de avaliação da situação que conduziu à elevação de Reguengos a cidade. Sei que as opiniões se dividem e que se mudam consoante os ventos. Há sempre os que perante o fracasso apontam o dedo dizendo que não se realizaram os esforços necessários para ter êxito e que perante o êxito consideram desnecessário o esforço realizado.
Prefiro ser mais realista e afirmar que Reguengos, muito embora manifeste carências a muitos níveis, tem todas as possibilidades de se tornar uma cidade invejável, sem perder a qualidade de vida própria das localidades alentejanas.
As cidades não se medem pelo tamanho, e atrevia-me a dizer que, tão pouco pelos bens patrimoniais. Há cidades grandes onde viver é insuportável e há cidades e vilas que tendo bens para uso cultural não têm cultura. Há cidades com património histórico que não serve nem os residentes nem os visitantes. E poderia continuar esta descrição até à exaustão.
Reguengos é uma cidade e mais do que questionar esta realidade cabe-nos perguntar que cidade queremos. Temos uma cidade acabada de nascer a quem podemos dar um futuro risonho. Não sejamos os primeiros a desprezar, com demagogias desajustadas, as possibilidades que se colocam diante de nós.
Vale a pena perguntar o que fazer do património histórico, da riqueza natural sem esquecer outros setores que garantam a estabilidade socó-económica em tempos de crise. Vale a pena questionar a riqueza artesanal deste concelho em ordem a uma maior valorização do tradicional como elemento complementar do turismo derivado da Vila de Monsaraz e do Alqueva. Vale a pena questionar o futuro do desporto, da educação, da cultura e da saúde desta cidade e abrir caminhos novos.
É necessário descobrir a riqueza ambiental que podemos usufruir e oferecer, como uma mais valia relativamente a outras regiões, tocadas para sempre pelo flagelo da poluição.
Torna-se agora fundamental perguntar pelo nosso património social, cultural e histórico e o seu futuro no desenvolvimento da cidade e da região.
Será necessário também perguntarmo-nos sobre as pessoas, a sua situação, carências e expetativas, em ordem a uma resposta mais eficaz não só na resolução dos seus problemas mas na sua promoção individual, social e familiar.
Reguengos é cidade, não a cidade que todos gostávamos de ter, mas a cidade que todos podemos construir. De olhos no futuro, contemplando o passado, construamos o futuro que nos espera.
Se a festa não aconteceu, ela tem necessariamente que acontecer, porque vale a pena celebrar um acontecimento que afinal nos diz respeito e que a todos deve orgulhar.
Reguengos está de parabéns e estão de parabéns os seus habitantes. Haja festa, música, danças, foguetes e lancemo-nos na luta que nos levará a um futuro melhor, unindo-nos por tudo o que nos orgulha sem estagnar por causa do que nos divide.