“Se vi mais longe, foi porque estava aos ombros de gigantes” Isaac Newton
Nestes últimos dias tem-me vindo à memória a metáfora dos anões sobres os ombros dos gigantes, atribuída a Bernardo de Chartres, o qual ilustra bem que nós, enquanto anões aos ombros de gigantes, podemos ver mais e mais longe, não porque temos mais visão ou mais altura que os nossos antecessores, mas porque temos o privilégio de ser carregados sobre a sua estrutura robusta e consolidada. Esta metáfora foi mais tarde recuperada por Isaac Newton numa carta escrita a Robert Hooke em que refere: “Se vi mais longe, foi porque estava aos ombros de gigantes”. Uma frase curta, mas com um enorme potencial de reflexão. Tudo o que alcançamos ou onde chegamos, não o conseguimos exclusivamente pelas nossas virtudes, mas porque nos apoiamos em conhecimentos e saberes prévios.
Permitam-me que me aproprie desta metáfora para a cena política e para a vida daqueles que são decisores políticos. Entendo que somos anões aos ombros dos gigantes que percorreram os caminhos antes de nós, somos anões aos ombros daqueles que nos elegeram e que confiaram em nós para sermos a voz de TODOS. Ao aceitarmos ser servidores da causa pública assumimos a responsabilidade de falarmos “num Nós e nunca num EU”, pois NUNCA estamos sozinhos em nada, no percurso que fazemos ou nas decisões que tomamos.
Em política nunca existe uma só voz, não é possível falarmos num “Eu”, pois por trás de tudo o que dizemos, decidimos ou fazemos, existe sempre uma pluralidade de vozes. Enquanto decisores políticos, a nossa missão é dar voz a todos os que nos elegeram, aos que nos acompanham e às comunidades que representamos. Somos resultado de uma vontade coletiva e é para um coletivo que trabalhamos, pois, governar só é possível com uma pluralidade de vozes dentro de nós.
Dar voz à comunidade que representamos é a única forma que temos de abrir o sistema político aos cidadãos, alcançando, desta forma, o único sentido possível de comunidade, seja ela local, nacional ou transnacional. É necessário que todos nós interiorizemos um sentimento de cidadania que leve os cidadãos a participar na construção de uma vida coletiva, para que isso se verifique a nossa voz tem que ser uma voz plural, uma voz construída tendo como estrutura basilar a voz de todos.
Somos, em última instância, anões aos ombros de gigantes, somos um “Eu” que se deve diluir num “Nós” para que o verdadeiro interesse público prevaleça sobre os egoísmos.
Assumirmos no nosso dia-a-dia esta “sabedoria” tranquiliza-nos a consciência e faz-nos sentir verdadeiros servidores públicos.
Que todos os “anões” pensem nisto!◄