Há cerca de seis meses Portugal entrou na onda pandémica que tem avassalado o mundo. O confinamento com os sucessivos Estados de Emergência e o desconfinamento lento, faseado e intermitente por causa das precauções face aos sucessivos surtos que vão surgindo aqui e ali, tem trazido à luz do dia a situação de muitas empresas e de muitos trabalhadores. Há sinais claros que mostram estarmos perante uma pandemia económica. Há empresas que não abriram após o desconfinamento e outras a fechar, trabalhadores em Lay off, em teletrabalho e no desemprego. As situações são muitas e variadas. O panorama nacional levou-nos a pensar em Reguengos de Monsaraz e na situação em que se encontram as empresas do concelho. O nosso olhar dirigiu-se para as grandes empresas. Procurámos saber de que modo foram afetadas pelo Covid-19, como estão a reagir, o que podemos esperar destas empresas no futuro próximo e em que situação se encontram os que ali trabalham.
Das empresas consultadas recebemos as respostas da Maporal – Matadouro de Porco de Raça Alentejana, S.A, Esporão S.A. e CARMIM (Cooperativa Agrícola de Reguengos de Monsaraz).
Estas três empresas dão uma imagem das prioridades e preocupações que se sobrepuseram nestes tempos de pandemia. Estabelecer o equilíbrio entre a salvaguarda da saúde e da vida e manter a produção para garantir o futuro económico da empresa e os postos de trabalho.
Marco Henriques, CEO da Maporal, revela que não foi difícil gerir porque “a saúde dos nossos funcionários é de extrema importância e sempre esteve e estará em primeiro lugar”, foram feitos testes Covid-19 a todos os funcionários que, se revelaram negativos e mantiveram apenas a expedição a funcionar como estava já previsto por causa das obras de ampliação em curso. Já o Diretor Geral da CARMIM, João Caldeira, refere que a proteção sanitária começa em cada um, no entanto, “sentimos a necessidade de comunicar de forma muito insistente, reiterando a necessidade de alterar atitudes e comportamentos”, foram tomadas medidas para evitar aglomerados de pessoas e novas regras na utilização dos espaços comuns como o refeitório, entre outras propostas pela DGS, quem podia passou a teletrabalho e os restantes trabalharam por turnos. No Esporão, Elsa Ramos, Diretora de Recursos Humanos, define duas fases, a da surpresa em que foram tomadas medidas como teletrabalho para todos os que podiam fazê-lo e em que foi necessário repartir equipas e reformular horários. A segunda fase passou por “definir, implementar e formar as pessoas nas medidas de proteção e segurança necessárias à salvaguarda da saúde de todos”.
Uma das grandes preocupações é manter os postos de trabalho que, para João Caldeira passa por “manter um excelente serviço aos nossos clientes e promover os nossos produtos e as nossas marcas aquém e além fronteiras. (…) lançar novos produtos ou renovando a imagem de outros”, situação que o Esporão resolveu utilizando os “mecanismos disponibilizados pelo governo e definimos políticas internas de proteção aos colaboradores com mais baixos rendimentos”. Marco Henriques é categórico “em momento algum os postos de trabalho estiveram em causa. Mantemos todos os trabalhadores dos nossos quadros”.
Para a CARMIM, no entender de João Caldeira, “os efeitos da pandemia ainda não se fizeram verdadeiramente sentir em toda a sua extensão”, sendo claro que já se nota uma alteração dos clientes, há “um crescimento no peso dos clientes da distribuição moderna” e uma diminuição clara ao nível da restauração. O Esporão sentiu que “a área do Turismo foi sem dúvida a mais afetada” e na Maporal, os efeitos são mais ao nível “da área logística e área comercial”, mas esperam recuperar no segundo semestre.
A quebra na faturação não foi muito sentida na CARMIM porque as vendas on line têm compensado as vendas tradicionais para a restauração e as exportações têm-se mantido ao nível do ano anterior, sobretudo para o Brasil. No Esporão as quebras registaram-se no “mercado nacional, o mais afetado”. A diminuição de faturação, na Maporal, indica Marco Henrique, teve “o mesmo perfil dos grandes exportadores europeus”.
Apesar das dificuldades do momento, as empresas são unânimes em afirmar que não está em causa o seu futuro nem se prevê que haja preocupação com os postos de trabalho, afirmando Marco Henriques que, “assim que finalizar as obras de ampliação da Maporal teremos necessidade de contratar bastante mais colaboradores”.
A CARMIM ficou de fora das ajudas do governo por causa do desempenho registado nestes meses o que “registamos com algum alívio”. No entanto, entende João Caldeira que, para o governo ajudar o tecido empresarial, “bastava reduzir a carga fiscal e simplificar, desburocratizando, a vida das empresas”. Mas não faltam projetos à Cooperativa Agrícola de Reguengos de Monsaraz que no próximo ano celebra 50 anos de existência, “lançámos um espumante da marca Monsaraz, renovámos a imagem do clássico Terras d’el Rei e, num mais que merecido tributo aos nossos oleiros de São Pedro do Corval, colocámos no mercado uma nova imagem do Olaria. Ainda tivemos tempo para acrescentar um vinho de talha ao portfolio, o Tarefa. Estamos a preparar para setembro novidades para a marca Reguengos” e acrescenta “Temos de a preparar para a segunda metade do seu primeiro século de vida”.
Elsa Ramos, da Esporão S.A, não falou das medidas de apoio do governo nem quis revelar as novidades que estão a ser preparadas em tempo de pandemia.
Para Marco Henriques esta crise, “não será uma crise que os governos possam garantir saídas rápidas”, no entanto, Reguengos pode esperar do Grupo Maporal “resiliência”, pois a empresa “tem um grande projeto para desenvolver e seguramente com os seus colaboradores irá conseguir” e “acreditamos que a nossa equipa é diferenciadora e capaz”. No final Marco Henriques afirma “Reguengos pode e deve contar com a Maporal”. Reguengos podem também contar com a Esporão S.A. e com a CARMIM, que fazem parte da paisagem empresarial do concelho como diz João Caldeira “esta cooperativa é indissociável da paisagem empresarial e económica do concelho e da região, e tem um legado intransmissível que só a ela cabe cumprir”.
Não quisemos deixar de questionar as duas maiores empresas produtoras de vinhos sobre as perspetivas na qualidade e quantidade de uva na próxima vindima. Segundo o Esporão, na opinião de Rui Flores “prevemos produções ligeiramente abaixo do ano de 2019, devido ao míldio e ao escaldão. Esta perda de produção não põe em causa a qualidade da mesma. As castas que já foram vindimadas (início da vindima a 3 de agosto) apresentaram um bom potencial enológico” e a CARMIM refere “tanto em quantidade como em qualidade acreditamos ser próxima daquela do ano anterior”.◄