Deus tornou-se homem no ventre de uma mulher, Maria. Por sua infinita bondade e pela bondade cândida da jovem Maria. De dentro do seu coração para o mundo, Maria foi mudando a sua vida, foi somando experiência de Deus à sua experiência humana. Jesus fez-se humano e cresceu de menino a Salvador do Mundo. Jesus ainda hoje é um Homem que nos inspira Deus.
Jesus nasceu num dia, como eu. Nasceu do ventre de sua mãe que viveu esse tempo de graça como todas as mulheres de todos os tempos o vivem. Foi amado ainda antes de ter nascido. Os corações de seu pai José e de sua e nossa mãe Maria, encheram-se de dúvidas e de sonhos. O casal ansiou pelo dia do nascimento, não sem antes ter tido as suas discussões, os seus medos. José foi um homem bom, daqueles que se deixam assustar num momento, para no momento seguinte serem abrigo de sua esposa. Deus falou a José, colocou-lhe a mão carinhosa no ombro e encorajou-o a amar o seu filho.
Jesus nasceu um dia e nunca mais morreu de divino que era por humano ter sido. Jesus nasceu e cresceu na sua família de forma natural. Muitas horas os seus pais ficaram quedos, apenas a olhar a sua face mimosa, carregada de música inaudível que faz os pais dançarem e cantarem dentro dos seus corações. Tudo era silêncio no ventre de Maria, mas desde cedo tudo era caminho por percorrer, era movimento de Deus a reedificar as relações, os amores, as amizades e as vizinhanças de promessa de novos tempos. Tudo se alinhou e no céu nasceu a luz que havia de nuca mais se apagar, a mais bela luz de presença da humanidade inteira, aquela luz que deixamos ainda hoje acesso no topo das escadas, para que os nosso filhos não tenham medo do que não podem ver.
Quando começou a construir frases, fruto da experiência do que ia ouvindo, foi comunicando e foi surpreendendo todos com a forma como amava o outro. Jesus amava para sempre. Jesus amou desde o primeiro minuto e as suas palavras assaltavam de amor os corações de quem o escutava. Seu nome era Jesus de Nazaré. Ao longo da sua vida foi atraindo a presença de muitas pessoas. Falou com João e André, abordou Simão Pedro, chamou Zaqueu e pediu água à Samaritana. Perdoou a mulher pecadora, deu vida a Lázaro e deixou que Maria o ouvisse a seus pés, enquanto alertava Marta para a pressa com que vivia a sua vida. Jesus nunca teve pressa, nem de morrer, nem de nascer de novo. Jesus não nos quer com pressa, não nos dá pressa, não os pressiona. Somos nós que nos apressamos, e nem sempre o fazemos como Maria o fez, apressadamente, mas tão tranquila e graciosamente para a visitação.Nem sempre nos deixamos visitar. Encerramos portas e janelas e ficamos sentados e encolhidos no interior do nosso peito, aguardando que ninguém venha, esperando que nos esqueçam. Temos medo de ser chamados, temos medos de não ouvir. Sabemos que Ele virá, por mão da sua Mãe, que é nossa pela entrega no madeiro cruzado. Nem sempre nos deixamos visitar, mas Deus, pelo seu filho Jesus, tudo pode, e pode sempre, chega sempre, e toma sempre a nossa mão, mesmo no escuro, convidando-nos a ser luz de presença na vida dos outros. Jesus visita-nos e nós somos no fim de contas Isabel que também carrega no seu ventre o amigo de Jesus, aquele que o imerge nas águas do Jordão e em suas mãos o devolve à vida de luz de presença. Jesus perguntou um dia a Pedro, depois da sua morte e ressurreição, se o AMAVA. O AMOR! tudo se resume ao amor, a história de Jesus na nossa vida é amor. Apesar de ter feito a sua experiência humana, enquanto filho do Homem, é por amor que morre e é por amor que a sua experiência humana se transforma numa manifestação divina na nossa vida. Jesus vive dentro de nós, e isso transforma o que nós somos, leva-nos a viver experiências de vida. Dessa vez, Pedro respondeu-lhe: “Sabes que te amo Senhor.” Então o Senhor disse-lhe: trata das minhas ovelhas.
“Senhor, Tu sabes que Te amo”. E os outros? saberão os outros que nós amamos Jesus? Saberão os outros que nós os amamos? Que experiência é a nossa vida? O que tentamos e não tentamos fazer por essa vida? Por nós? Por quem nos ama? Jesus hoje diz-nos tal como naquele dia disse a Simão Pedro, junto ao Mar de Tiberíades: “Simão, tu me amas?”. Ele não diz: “Não peques, não traias, não sejas incoerente, não te faças mal, não deixes os outros ficarem mal, não te ofendas nem ofendas a outros,”. Quando Ele nos pergunta: Tu amas-me? Ele diz: sê feliz, vive a experiência de estar vivo, sendo amigo de Jesus. Só isso. A tua experiência de vida é a tua capacidade de viver com Jesus por amigo. Quando olhamos no presépio, se fecharmos os olhos ouvimos a mesma pergunta: Tu amas-me? Quando nos sentamos aos pés da Cruz onde Jesus deu a sua vida por nós, ouvimos a mesma pergunta: Tu amas-me? Quando os nossos amigos nos procuram, ouvimos a mesma pergunta. Quando ouvimos soar dentro da nossa cabeça e do nosso coração a vida, ouvimos a mesma pergunta.
João e André ficavam parados a ouvir Jesus. Os discípulos de Emaús caminharam com Jesus. A Samaritana ficou com Jesus. Lázaro deixou que Jesus entrasse na sua vida. Multidões de pessoas, cheias de vida, cheias de experiência humana, mudaram a sua vida por serem amigos de Jesus, porque o escutaram, porque o deixaram entrar no seu coração. Por vezes nós não encontramos Jesus na experiência de vida, porque apenas procuramos experiências humanas, físicas, esquecendo que o divino de Jesus, quando encontrado na experiência divina pode transformar tudo. Temos a ideia de que não conseguimos falar com Jesus, não temos jeito, não temos maneira, não temos tempo. Pois então que possamos apenas ouvir. Se conseguirmos ouvir, aprenderemos rapidamente a falar com Ele. Zaqueu tinha uma profissão. Não conhecia Jesus, não sabia falar com Ele. Um dia ouviu-o no seu coração e teve curiosidade de saber mais. Ficou à espera, meio escondido, mas num plano mais acima. Jesus falou-lhe, encontrou-o no meio da multidão e quis ficar em sua casa. Zaqueu mudou a sua vida. A sua experiência humana foi relegada para segundo plano, deixou tudo e seguiu a Jesus. Nós gostamos naturalmente de Jesus. A sua presença é simpática e inspira ao amor. Será que ouves a pergunta que Ele te faz, como fez a Pedro e a tantos outros? Tu amas-me? Tu amas-me? Tu amas-me?
Nós somos Pedro, André e João. E amamos a Jesus. Essa é a nossa experiência humana.◄
- Publicado em PALAVRA novembro 2020