Com o tema “estende a tua mão ao pobre” tirado do livro de Bem-Sirac, o Papa Francisco convida a Igreja e o mundo a dar atenção aos que se encontram em situação de pobreza, por ocasião do IV Dia Mundial dos Pobres. Na mensagem que escreveu, o Santo Padre, refere que estas palavras do Antigo Testamento “ressoam (hoje) com toda a densidade do seu significado para nos ajudar, também a nós, a concentrar o olhar no essencial e superar as barreiras da indiferença”
O mestre do Antigo Testamento fala ao homem do século XXI desafiando-o a procurar a “sabedoria que torna os homens melhores e capazes de perscrutar profundamente as vicissitudes da vida”. Em tempos de grandes dificuldades, semelhantes às que o mundo vive atualmente, o autor mestre bíblico dirigiu o seu “pensamento foi dirigir-se a Deus para Lhe pedir o dom da sabedoria. E o Senhor não lhe deixou faltar a sua ajuda”.
A Oração a Deus e a solidariedade para com os pobres e os enfermos, diz o Papa, são inseparáveis. “Por isso, o tempo que se deve dedicar à oração não pode tornar-se jamais um álibi para descuidar o próximo em dificuldade”. Pelo contrário, a oração dirigida a Deus é escutada se for acompanhada “pelo serviço aos pobres”.
Os pobres são um desafio necessário para “imprimir a justa direção da nossa vida pessoal e social”. Desafio que não consta de “palavras, mas antes de comprometer concretamente a vida, impelidos pela caridade divina”. Um desafio que a comunidade cristã deve assumir como seu “não é lícito delegá-la a outros” e há de fazê-lo a partir da experiência pessoal da pobreza evangélica. A comunidade cristã tem obrigação de ouvir o “clamor silencioso de tantos pobres” e colocar-se na frente de batalha “para lhes dar voz, defendê-los e solidarizar-se com eles face a tanta hipocrisia e tantas promessas não cumpridas, e para os convidar a participar na vida da comunidade”.
Sabendo que a Igreja não tem soluções para tudo é chamada. No entanto, a oferecer gestos concretos de partilha, como testemunho, consciente de que os pobres são “um compromisso vital, que se concretiza na tentativa de não esquecer nenhum”.
Estender a mão ao pobre faz-nos descobrir “que dentro de nós existe a capacidade de realizar gestos que dão sentido à vida” diz o Papa. A pressa com que se vive a vida impede a realização normal destes gestos e impede que se veja na sociedade os gestos de tantos “santos de ao pé da porta” que o fazem diariamente. Habituados a contemplar a violência e maldade que diariamente aparecem nas televisões e nos jornais faz pensar que no mundo quem manda é o mal, mas não, diz o Papa, “vida está tecida por atos de respeito e generosidade que não só compensam o mal, mas impelem a ultrapassá-lo permanecendo cheios de esperança”
“Estender a mão é um sinal: um sinal que apela imediatamente à proximidade, à solidariedade, ao amor”. Durante a pandemia muitas mãos se estenderam diminuindo a distância, como o foram as mãos dos médicos, dos enfermeiros, dos farmacêuticos e de tantos outros. “Todas estas mãos desafiaram o contágio e o medo, a fim de dar apoio e consolação” refere. Mas também nos deixou mais vulneráveis porque limitados em muitos aspetos da nossa liberdade. “A perda do emprego, dos afetos mais queridos, como a falta das relações interpessoais habituais (…) as nossas riquezas espirituais e materiais foram postas em questão e descobrimo-nos amedrontados”.
Perante este mundo novo “descobrimos como é importante a simplicidade e o manter os olhos fixos no essencial” e o essencial é “a exigência duma nova fraternidade” “voltar a sentir que precisamos uns dos outros”, “assumir os pesos dos mais vulneráveis”, em ações concretas como as que sugere Bem-Sirac: “não fujas dos que choram”, “não sejas preguiçoso em visitar um doente”.
O Papa Francisco chama atenção para a indiferença de muitas mãos estendidas para os teclados do computador a transacionar grandes quantias de dinheiro de um lado do mundo para o outro e as mãos “estendidas a acumular dinheiro com a venda de armas”, “mãos estendidas que, na sombra, trocam doses de morte”, mãos estendidas que às escondidas trocam favores ilegais para um lucro fácil e corruto” e “mãos que, numa hipócrita respeitabilidade, estabelecem leis que eles mesmos não observam”.
No meio disto, ”os excluídos continuam a esperar” e nós “quase sem nos dar conta, tornamo-nos incapazes de nos compadecer”, já não choramos à vista do drama dos outros, nem nos interessamos por cuidar deles, como se tudo fosse uma responsabilidade de outrem, que não nos incumbe”. Mas, reforça, ”o objetivo de cada ação nossa só pode ser o amor: um sorriso que partilhamos com o pobre é fonte de amor e permite viver na alegria”. ◄