Na abertura das Jornadas da Comunicação Social, pela primeira vez realizadas online José Tolentino Mendonça, o cardeal português responsável pela Biblioteca do Vaticano, afirmou que com a pandemia “Entrámos numa nova etapa da história e somos chamados a encarar o presente como ponto de partida para pensarmos a realidade da Igreja e do mundo.
O cardeal citou Chico Buarque na canção: “a dor da gente não sai do jornal” para afirmar que o jornalismo tem obrigação de dar voz a quem não tem voz. Tolentino Mendonça refere a dificuldade de contar histórias de insucesso e sofrimento e diz “muitas vezes, não ter um trabalho significa ficar de fora, também dos circuitos de comunicação. É sair fora do radar, e sabemos que numa sociedade há muita gente está fora do radar. Não tem emprego, não tem oportunidades, e depois não têm voz, nem vez. Penso que é, de facto, um grande desafio da comunicação social ouvir a voz dos que não têm voz”.
Manifestou o seu desagrado pelo jornalismo empobrecedor que põe uns contra os outros “Vemos, por exemplo, na televisão, de um lado o A, do outro o B, e esse radicalizar de uma comunicação em chave de contraposição é muito empobrecedor, e acentua essa surdez e incapacidade de nos escutarmos e valorizarmos uns aos outros”. E acrescenta que “a comunicação mais rica é aquela que acontece em chave de complementaridade, onde a diferença é exposta, mas a complementaridade é percebida, é acolhida”.
Falta, no entender do cardeal “dar voz a novos atores”, muitas vezes “a comunicação é uma amarra fundamental”. “A grande pergunta é – refere – ‘está aí alguém?’. Nós precisamos de ter alguém do outro lado, de saber de uma presença, temos fome de presenças, e a comunicação oferece presenças, transporta presenças” e insiste “temos de lutar por uma comunicação que não seja apenas estar ligado, mas estar ligado ao essencial”.
As Jornada foram promovidas pelo Secretariado Nacional das Comunicações Sociais da Igreja, e realizaram-se durante o dia de ontem e hoje, 24 e 25 de setembro.