Varias vezes me tenho deparado ultimamente, em livros e artigos, com uma nova ideia no âmbito da cultura politica que desconhecia; o conceito de pós-verdade, reconhecendo a minha ignorância, fui consultar algumas, obvias, fontes sobre o tema e deparei-me com algumas considerações interessantes.
Aparentemente esta ideia da pós-verdade pretende criar e influenciar a opinião publica, não através dos (segundo se consta já ultrapassados) factos, mas sim através de apelos essencialmente emocionais que se tornam mais importantes do que a irredutibilidade dos factos e a frieza dos números.
Ao que parece a generalidade da opinião publica encontra muito mais conforto, acredito que especialmente em tempos de incerteza, em apelos emocionais que vão ao encontro das suas aspirações, baseados muitas vezes em sentimentos sociais primários, do que em cruéis constatações factuais mesmo que estas estejam alicerçadas na realidade.
Esta veneração por estes fugidios apelos, pretende somente nos manipular através da nossa parte mais vulnerável; as emoções, com muitos coraçãozinhos á mistura instalou-se definitivamente na liturgia do dia a dia das redes sociais, um mundo cor de rosa onde tudo se pode, basta querer, onde a todos se deseja ajudar, como se a perfeição fosse uma possibilidade, e claro, nada pagando e tudo exigindo.
Esta senda, ou melhor dizendo, esta tragédia e fachada humana, que deve ser exposta, tem apenas um único objetivo; a manipulação da opinião publica para a obtenção do poder, foi assim com Trump, Bolsonaro, Salvini ou Kurz, o problema é que os velhinhos e fora de moda – factos – dizem-nos que Trump não fez a America grande outra vez, que o Brasil de Bolsonaro não está melhor do que o Brasil de Lula ou Dilma, que a Itália de Salvini apenas se destaca pela militarização e pela politica anti-migrantes (nada como ser forte com os fracos portanto), e que na Austria, Kurz teve de se aliar aos Verdes para continuar a governar depois de sofrer moções de censura.
Pois é, o choque da realidade é tramado, e estes ilusionistas da opinião publica, quando conseguem o poder, fazem ás vezes o mesmo e quase sempre pior do que quem por lá esteve, nada acrescentam, porque nada têm que possa acrescentar, a sua força reside não na sua capacidade politica, inteligência ou na qualidade do seu projeto, mas sim em sensações e emoções que conseguiram cirurgicamente plantar na opinião publica para atingirem os seus objetivos e nada mais, uma vez no poder e noutros contextos formais de discussão politica esse vazio revela-se.
Isto é válido para as venturas e desventuras de Portugal, mas também para níveis mais micro, como o poder local, onde sempre vão aparecendo aprendizes de feiticeiro que, em vez de se centrarem em, de uma forma séria, apresentarem um projeto de qualidade para as populações e os territórios e por aí ganharem vantagem e naturais simpatias politicas, servem-se apenas das nossas emoções para nos manipular.
Serão os chamados feitiços da lua?
*Publicado na edição impressa do mês de dezembro