Não é novidade para as leitoras e leitores desta coluna que por aqui se fala de Abril com frequência e coração, mesmo agora que entramos em dias mais escuros e frios, menos primaveris em (praticamente) todos os sentidos. Porém, não podia, novamente, deixar de falar em Abril e nas suas conquistas, sobretudo pela importância que senti não ter perdido no passado dia 18/09/2020 em Évora.
Estando a 200 quilómetros longe de casa, foi de coração quente que acompanhei, pelas redes sociais e variadíssimos vídeos e fotografias nelas partilhados e partilhadas, a manifestação convocada pela Frente Unitária Antifascista, na mesmíssima data onde tomava lugar a Convenção Nacional do Partido Chega. Acompanhei, de coração quente, os inúmeros conterrâneos que foram além-partidarismos para entoar Zeca Afonso pelo Giraldo, em nome da Liberdade e da Igualdade, mostrando uma vez mais que o Alentejo nunca foi, não é, nem nunca será, terra onde habite fascismo, sobretudo com o descaramento com que começa a apresentar-se em todo o lado.
De resto, a Convenção terá corrido mais ou menos conforme expetável: como diria a minha avó, “meia dúzia de gatos-pingados” a discutir assuntos que pecavam ora por total falta de relevância ou interesse nacional, ora por excessiva gravidade das ideologias que os sustentavam. Como se costuma dizer, terá sido “uma mão cheia de nada”, mas suficiente para voltar a agitar as águas da comunicação social, sobretudo pela assombrosa proposta de remoção de ovários a mulheres que recorram à interrupção voluntária da gravidez.
Apesar de a sugestão se ter ficado por ali, importa sublinhar que foi subscrita por ex-militante do PNR (sem surpresas), e que terá contado ainda com uma mão cheia de votos a favor.
Ora, sabendo em momento posterior o tipo de discussão inflamada que ocorreu na dita Convenção, mais aquecido ficou o meu coração pela postura de todos quantos se fizeram presentes, em jeito de contramanifestação, na Praça do Giraldo no passado dia 18/09/2020.
Foi um reclamar do Alentejo que é nosso; foi um demonstrar que o Alentejo é como o Zeca o canta, e não como o André o anuncia; foi um recordar do Alentejo da Catarina Eufémia, e não do André Ventura; e foi uma promessa de que, por estas terras, temos memória fresca e raízes fortes.
A 200 quilómetros de casa, senti-a verdadeiramente perto de mim nessa tarde. ◄

 

  • Publicado na edição impressa de outubro 2020

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