Cada vez mais observo, felizmente principalmente no estrito mundo das redes sociais, um discurso extremista e de intolerância sobre o que é diferente, desconhecido ou que pura e simplesmente, não se sabe ou consegue compreender, este discurso, aparentemente em voga, é confortável porque não obriga a um esforço suplementar para compreender os “porquês do outro”, deixa-nos reis e senhores da nossa própria ignorância e príncipes do nada.
No entanto num olhar que se quer mais apurado sobre o fenómeno, complementado com um documentário sobre a Cambridge Analytica; Nada é Privado – O escândalo da Cambridge Analytica, leva-me a concluir que estamos de facto a ser direcionados para um discurso do ódio e para um extremismo para com o outro que é de facto pouco saudável e de procurar evitar.
Os impactos sociais e pessoais da utilização das redes sociais é ainda território por explorar em termos de análise sociológica e da psicologia, mas começa a ser um facto que passou a ser tabuleiro essencial em questões como a perceção do outro relativamente à nossa pessoa, a notoriedade pessoal ou a perceção e avaliação do trabalho político partidário pela sociedade, neste caso pela “sociedade em rede”.
Como o referido documentário demonstra, são contratadas empresas para influenciar a nossa opinião através da perceção que as redes sociais nos dão do mundo, se é uma janela para o mundo (será?) tem uma paisagem e essa paisagem influencia decisivamente a nossa perceção e dessa forma as nossas opiniões, pois é… por vezes as nossas ideias não são nossas, são colocadas à nossa frente para que concordemos com elas e para que as apropriemos como nossas.
Esta estratégia, devemos dizê-lo, intelectualmente desonesta, incide principalmente sobre pessoas que através da análise dos seus perfis são sinalizadas como indecisos, influenciáveis ou passíveis de divulgarem informação sem confirmação, que incita ao ódio a minorias étnicas, religiosas ou outras, a pegar em vídeos ou frases descontextualizadas e apresenta-las como sendo verdades absolutas perante outros olhares que já se sabe serão acríticos e basicamente acreditarão em tudo e que irão divulgar então novamente e todo o ciclo se irá repetir.
Face a este cenário considero que é importante alertar para este direcionamento para a intolerância, e o que me parece ser uma agenda escondida mundial, que muito me ultrapassa, mas certamente alguém ou algo capitaliza esta intolerância.
Ser individualmente e coletivamente inteligente é não ir nestas “cantigas” e compreender que o mundo é um espaço amplo de sensibilidades, de opiniões, de crenças e de etnias, fomos até nós Portugueses que tivemos um papel decisivo na miscigenação do mundo através das Descobertas no séc. XV e XVI, e temos sido exemplares no caminho da tolerância e da diversidade, essa aliás, uma das nossas principais forças e características enquanto país.
Ser inteligente é perceber que se as pessoas estiverem polarizadas, extremadas e divididas umas com as outras não se conseguem compreender e dessa forma não conseguem trabalhar conjuntamente, e isso inviabiliza o desenvolvimento, o caminho do dito desenvolvimento, da abundância e da paz só pode ser conseguido com tolerância e trabalho coletivo tendo presente que independentemente das nossas diferenças será sempre muito mais o que nos une do que o que nos separa.
O caminho do desenvolvimento passa em grande medida por compreender os “porquês do outro”.
Muita saúde a todos e protejam-se!◄