Papa Francisco publicou hoje uma nova Encíclica intitulada “Fratelli Tutti (Todos irmãos), na qual elenca uma série de problema do mundo atual e analisa diversas situações que merecem a atenção de todos. A guerra, os refugiados e imigrantes, a descriminação entre homens e mulheres, a dívida dos países pobres, o mercado, , entre muitos outros temas. Apresentamos aqui alguns excertos mais significativos.
A dupla verdade
Guerras, atentados, perseguições por motivos raciais ou religiosos, e tantos atentados contra a dignidade humana julgam-se de modos distintos de acordo com os interesses que convêm a determinados grupos, fundamentalmente económicos. O que é verdade quando convém a um poderoso, deixa de sê-lo quando já não o beneficia.
Mercado
O mercado por si só não resolve tudo, ainda que uma vez mais nos queiram fazer acreditar neste dogma de fé neoliberal. Trata-se de um pensamento pobre, repetitivo, que propõe sempre as mesmas receitas para todos os problemas.
Dívida
O pagamento da dívida em muitas situações não só não favorece o desenvolvimento como o limita e condiciona. Se é verdade o princípio de que toda a dívida legitimamente contraída deve ser paga , o modo de cumprir este dever que muitos países pobres têm para com os ricos não pode chegar a comprometer a sua subsistência e o seu crescimento.
Diferença de género
De modo semelhante, a organização das sociedades em todo o mundo estão longe de refletir com clareza que as mulheres têm exatamente a mesma dignidade e idênticos direitos que os homens. Afirma-se com palavras, mas as decisões e a realidade gritam outra mensagem. É um facto que “as mulheres que sofrem situações de exclusão, maus tratos e violência são duplamente pobres porque com frequência se encontram com menos possibilidades de defender os seus direitos”.
Paz
Os que querem pacificar a sociedade não podem esquecer que a iniquidade e a falta de desenvolvimento humano integral não permite gerar a paz.
Política
Em muitos países, hoje, utilizam-se mecanismos políticos de exasperar, exacerbar e polarizar. De muitas formas nega-se a outros o direito de existir e opinar e, para isso, usa-se a estratégia de ridicularizar, suspeitar e de os aprisionar.
Liberdade
O direito de alguns à liberdade de mercado não pode estar por cima dos direitos dos povos nem da dignidade dos pobres, nem do respeito pelo meio ambiente.
A quem se dirige
Entrego esta encíclica social como uma humilde colaboração para a reflexão para que, diante das diversas e atuais formas de eliminar o de ignorar os outros, sejamos capazes de reagir com um novo sonho de fraternidade e de amizade social que não se fique nas palavras. Escrevi-as, é verdade, a partir das minhas convicções cristãs, que me dão alento e me alimentam, mas procurei fazê-lo de tal modo que a reflexão se abra ao diálogo com todas as pessoas de boa vontade.
Memoria, Verdade y Justiça
É fácil hoje cair na tentação virar a página e dizer já aconteceu há muito tempo e que temos que olhar em frente. Não! Nunca se avança sem memória, não se evolui sem uma memória integra e luminosa.
Pós-pandemia
Se não conseguirmos recuperar a paixão compartilhada por uma comunidade de pertença e solidariedade, à qual saibamos destinar tempo, esforço e bens, desabará ruinosamente a ilusão global que nos engana e deixará muitos à mercê da náusea e do vazio. Além disso, não se deveria ignorar, ingenuamente, que «a obsessão por um estilo de vida consumista, sobretudo quando poucos têm possibilidades de o manter, só poderá provocar violência e destruição recíproca». O princípio «salve-se quem puder» traduzir-se-á rapidamente no lema «todos contra todos», e isso será pior que uma pandemia.
Diálogo Inter-religioso
Entre as religiões, é possível um caminho de paz. O ponto de partida deve ser o olhar de Deus. Porque, «Deus não olha com os olhos, Deus olha com o coração. E o amor de Deus é o mesmo para cada pessoa, seja qual for a religião. E se é um ateu, é o mesmo amor. Quando chegar o último dia e houver a luz suficiente na terra para poder ver as coisas como são, não faltarão surpresas!»
Propriedade privada
A par do direito de propriedade privada, sempre existe o princípio mais importante e antecedente da subordinação de toda a propriedade privada ao destino universal dos bens da terra e, consequentemente, o direito de todos ao seu uso.
Pena de morte
Há outra maneira de eliminar o outro, não destinada aos países, mas às pessoas: é a pena de morte. É inadequada no plano moral e já não é necessária no plano penal. Não é possível pensar num recuo relativamente a esta posição. Hoje, afirmamos com clareza que «a pena de morte é inadmissível» e a Igreja compromete-se decididamente a propor que seja abolida em todo o mundo.
Guerra
Toda a guerra deixa o mundo pior do que o encontrou. A guerra é um fracasso da política e da humanidade, uma rendição vergonhosa, uma derrota perante as forças do mal. Não fiquemos em discussões teóricas, tomemos contacto com as feridas, toquemos a carne de quem paga os danos. Voltemos o olhar para tantos civis massacrados como «danos colaterais». Interroguemos as vítimas. Prestemos atenção aos prófugos, àqueles que sofreram as radiações atómicas ou os ataques químicos, às mulheres que perderam os filhos, às crianças mutiladas ou privadas da sua infância. Consideremos a verdade destas vítimas da violência, olhemos a realidade com os seus olhos e escutemos as suas histórias com o coração aberto. Assim poderemos reconhecer o abismo do mal no coração da guerra, e não nos turvará o facto de nos tratarem como ingénuos porque escolhemos a paz.