Prestes a entrar num novo ano, tenho passado as mais recentes noites de segunda-feira agarrada à televisão, em canal pelo qual não nutro particular simpatia, para ouvir as entrevistas de Miguel Sousa Tavares, por quem não nutro simpatia de todo. Estar em casa com esta frequência trouxe-me muito disto: descobrir e valorizar a televisão. Durante anos, aliás, nem tinha televisão em casa. Os finais de tarde eram sempre passados em jardins, cafés, casas de amigas e amigos, e ocasionalmente deitada com o computador ao colo. Este ano deu à televisão uma nova importância na minha vida. É por isso que passo todas as segundas-feiras a ouvir o Miguel Sousa Tavares na TVI a entrevistar candidatos à presidência da República: nem gosto muito, mas é mais forte que eu.
Sem ficar minimamente surpreendida por a rubrica ter iniciado com o candidato do partido de extrema-direita com assento parlamentar, acabei o primeiro episódio a dizer que não ia olhar mais para aquilo: não sabia bem quem me chocara mais, se as perguntas desfasadas de Sousa Tavares e a postura desinformada, se o jorrilho de disparates do primeiro candidato convidado (sobre os quais não vamos aqui discorrer, sob pena de falta de papel).
A raiva foi tanta que saltei a entrevista seguinte (ao que parece não perdi grande coisa), mas voltei a ligar para ouvir João Ferreira a ser entrevistado, ou pelo menos assim o presumi; na verdade, ouvi mais considerações sobre o PCP tecidas por Miguel Sousa Tavares do que propriamente intervenção (sem interrupções) de João Ferreira. Marisa Matias seguiu-se, e alguém no twitter decidiu, por diversão sem graça nenhuma, contar o número de vezes que o entrevistador interrompia a entrevistada: cinquenta, apesar de até acreditar que o tenha feito mais na entrevista da passada semana.
Ora, a televisão tem sido uma permanente companhia nestes últimos meses, e a companhia é algo que aprendi a (re)valorizar, depois de tanto tempo a tomá-la por garantida, ainda que noutros moldes. É, também, ou deveria ser, uma fonte de informação, se não parcial, pelo menos fidedigna, honesta, e o mais transparente possível. Não reconheço a Miguel Sousa Tavares nenhum destes adjetivos, e a forma como tem orientado a entrevista com todos os candidatos à presidência da República de Portugal tem demonstrado como se torna urgente repensar este tipo de rubrica televisiva ou, pelo menos, quem as dirige e como as conduz; afinal de contas, apesar de a minha relação com o pequeno ecrã ser recente (ainda estamos a construí-la, às vezes não lhe dou a devida atenção, outras vezes ela falha-me como as notas de mil em jeito de retaliação), a televisão é há muito companhia de muitos portugueses.
Pessoalmente, aprendo muito também em conversas de jardins, cafés, e casas de amigos: no diálogo há sempre tanto a beber e a servir. Mas este ano tampouco houve oportunidade para este tipo de aprendizagem. Muitos de nós estão verdadeiramente confinados (outro assunto importante para outra altura), e teremos se não em regime exclusivo, certamente em regime preferencial, a televisão como companhia. Seja barulho de fundo ou praticamente uma espécie de telescola, está lá, como “sempre” esteve. É pois urgente que, no início do próximo ano, os portugueses se possam deslocar às urnas (podendo! – e novamente outro assunto muitíssimo importante para outra altura) de posse do máximo de informação possível, e o mais esclarecidos que possam.
Que se oiça pois o que as nossas candidatas e candidatos têm a propor: que se oiça mesmo, que se perca tempo, ou que se ganhe, a dissecar o que é dito, analisar as entrelinhas, repensar sobre as promessas, sem pequenas (grandes) distrações e táticas que acabam por me fazer desligar a televisão e pensar: “Ora, raios – que perda de tempo!”. ◄

Deixe um Comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *