“As obras que decorriam no exterior da Fundação decorriam há seis meses atrás, as pinturas exteriores estavam contratadas desde fevereiro desse ano” afirma José Calixto, presidente da Câmara de Reguengos de Monsaraz, em entrevista à rádio Campanário. A questão é a requalificação da instituição após o surto de Covid-19 que atingiu a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva em junho passado, onde dezenas de idosos e funcionárias ficaram infetados e onde morreram 16 utentes e uma funcionária.
Para José Calixto “não se tratou de uma requalificação”, mas do início de uma nova fase, “tratou-se do renascimento de uma instituição”. A desinfeção dos espaços onde foram descarregados “cem litros de contaminante com gorduras” exigia uma limpeza. “Tínhamos que limpar, pintar e preparar a instituição para uma nova fase”, refere o autarca, que adianta de imediato “a anterior fase não envergonha ninguém. A anterior fase tem relatórios da tutela, da Segurança Social, não estamos a falar de um lar ilegal, de um lar com falta de pessoal”.
José Calixto adianta que ficaram “muitas funcionárias contaminadas, é porque existiam” e acrescenta, “nós não tínhamos falta de enfermeiros, nem de pessoal auxiliar”. Quanto aos médicos o autarca informa que a instituição não tem obrigatoriedade de ter médico e adianta “os médicos do Centro de Saúde, da Unidade de Saúde Familiar, têm que tratar dos doentes da Fundação, como da Santa Casa da Misericórdia de Reguengos, como do Lar de S. Lucas nas Perolivas, da mesmíssima forma” e arremata “Nós tínhamos todos aqueles funcionários, em excesso, que a lei obriga por contrato com a Segurança Social”.
Quanto ao surto da Covid-19 que atingiu o Lar da Fundação, José Calixto reconhece que se tratou de um drama para a instituição e para a sociedade reguenguense, mas aproveita para acrescentar que o que se passou em “Reguengos, não sabemos muito bem porquê, teve um mediatismo anormal face a uma realidade dramática que é transversal a todo o país”. “Hoje sabemos de dezenas de lares, nos quais, faleceram, infelizmente, dramaticamente dezenas de utentes, centenas de utentes que estão infetados ao mesmo tempo, lares em que a totalidade de funcionários e utentes viveram estes dramas” a diferença está em que Reguengos “foi um dos primeiros e, por motivos que ainda hoje prescindo de me preocupar deles, teve um impacto mediático de uma dimensão acima do dramatismo que vivemos”.
Relativamente ao inquérito instaurado pelo Ministério Público, o autarca recorda que a sua decisão foi a da maior transparência desde o primeiro momento, “nada havia a esconder”. Por isso, todos os relatórios que se fizeram sobre o número de infetados e de óbitos foram dados a conhecer diariamente através da comunicação social com “total transparência” refere. Quanto ao resultado final do apuramento que o Ministério Público possa vir a concluir entende o presidente da Câmara de Reguengos que “tudo o que a Autoridade de Saúde Pública está a fazer, a investigação epidemiológica, e tudo aquilo que as entidades oficiais, nomeadamente o Ministério Público possa vir a averiguar, é a única fonte de verdade” e rejeita tudo o que são inquéritos “parciais” ou “inquéritos que ouvem geometricamente um conjunto de pessoas e não ouvem geometricamente outro conjunto de pessoas”.
Quanto aos procedimentos relativamente ao surto, José Calixto recusa a ideia de ter havido falhas ou atrasos nas respostas. Passadas 48 horas do início do surto estavam os militares dentro da instituição num “gesto que revela a proatividade que tivemos e que devia servir de exemplo para outros casos que ainda hoje estão a acontecer, e na nossa região, e que pelos vistos não aprendemos nada com esta experiência”.
O que falhou? O autarca entende que nada falhou. Desde abril que estavam preparadas estruturas de retaguarda, “havia 4/5 instalações preparadíssimas”. “A única questão era a dimensão do surto” e seria necessário ajustar o número de camas perante a situação que se apresentasse, mas “não era meia dúzia de camas que iam atrasar a operação. O que atrasou a operação, critica, foi a determinação de se mudarem para lá”. “Nós tivemos no concelho de Reguengos três infraestruturas a funcionar ao mesmo tempo”. O atraso não teve a ver com “questões operacionais”, foram questões de verificação de condições que tinham que ser realizadas por entidades exteriores. Depois de autorizada pela Saúde Pública, a operação fez-se imediatamente.
Isto tudo foi feito “quando não havia brigadas de intervenção rápida, não havia pessoas preparadas para agir nesta situação” nem equipas mistas e critica “havia muitas bases de dados de voluntários, mas não apareceram em Reguengos” e arremata “houve instituições que aprenderam com este surto”.
O presidente da Câmara de Reguengos, não deixa para trás os créditos que lhe pertencem e ao núcleo concelhio de Proteção Civil afirmando que “temos hoje uma das duas únicas infraestruturas supramunicipais do Alentejo para acolher os casos que possam existir em Lares, estruturas sociais, IPSS no Parque de Feiras, que continua preparado para cerca de oito dezenas de utentes.” E acrescenta “em condições, hoje magníficas, segundo todas as entidades, na altura foi motivo para uma ordem deontológica vir fazer um inquérito (um suposto inquérito) a propósito dessa infraestrutura que hoje é um exemplo e que já ajudou outros concelhos.”
Os créditos estão também na sua presidência da CIMAC e recorda que desde março criou “uma infraestrutura no hospital de Évora que permitiu ter capacidade de ventilação para doentes graves. Arranjámos 300 mil euros para meter um hospital que tinha cinco ventiladores com vinte e cinco ventiladores” “Este trabalho teve nomes, teve rostos” “o concelho de Reguengos de Monsaraz arranjou um terço destes recursos”.
José Calixto acredita que no futuro terá “oportunidades como a que estou a ter agora” em outros “meios de comunicação social” para “dizer com tranquilidade aquilo que se passou que é muito diferente de outras narrativas”.
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