No dia 3 de dezembro comemora-se o Dia Internacional das pessoas com deficiência. Reguengos de Monsaraz possui diferentes formas de trabalho, de acolhimento e desenvolvimento para pessoas portadoras de deficiência, entre as quais se contam o CAO – Centro Ocupacional de Atividades, da Santa Casa da Misericórdia e a sala de multideficiência do Agrupamento de Escolas.
Criado em 1992 pela ONU o objetivo deste dia é despertar a sociedade pata as pessoas portadoras de deficiência e perceber o lugar que elas têm na sociedade com direitos e deveres como todos os cidadãos.
PALAVRA em colaboração com o CAO da Santa Casa da Misericórdia preparou esta reportagem para despertar as consciências e valorizar a missão dos pais e instituições que têm por missão acompanhar pessoas em situação de deficiência.
O André é feliz
Era 13 de maio e Teresa rezou várias vezes o terço, pedindo a Nossa Senhora que a amparasse…
Tinha 28 anos quando foi mãe do terceiro filho. Vivia em Sines. André, nasceu dia 14 de maio com 4,750kg, de cesariana, após longas horas em trabalho de parto. “O rapaz sentou-se e ninguém tinha dado por isso” diz a mãe. O tempo de espera foi demasiado e as lesões cerebrais ficaram para sempre.
Teresa desabafa “podia ter sido fatal para os dois”. Em risco de vida, este recém-nascido seguiu para Lisboa, para a maternidade Alfredo da Costa, sofrendo duas paragens cardíacas pelo caminho. Entretanto, anestesiada, Teresa não sabe de nada. Um filho tinha-lhe sido tirado à nascença. Ao acordar, Teresa, pergunta pelo seu filho e só lhe diziam: “ele já volta para ao pé de ti”.
Depois é informada da situação e fica a saber que o seu menino está longe, porque está mal. Apodera-se dela a revolta de mãe, sentindo que as suas orações não foram ouvidas, “ainda hoje peço perdão, mas na altura só fiquei bem partindo a imagem de Nossa Senhora que encontrei no corredor do hospital. ‘Não me ouviste, só quero o meu filho’… mas Ela é grande e devolveu-me a minha Luz. Arrependo-me do que fiz, mas precisava de aliviar o que sentia…”
Ao terceiro dia pediu alta e sem ninguém saber seguiu para Lisboa. Foi lá que recebeu a notícia da realidade que vive até hoje.
“Segundo os médicos o seu filho ficava sem ver, ouvir e falar, foi o verdadeiro choque. Deixei de saber quem eu era, onde estava. Perdi-me naquele hospital”.
O André tem hoje 16 anos, com paralisia cerebral de 95,99% de incapacidade, depende assim de terceiros para tudo na sua vida.
A Teresa nunca baixou os braços, nunca escondeu o seu filho da sociedade. “Assumi a situação do André com toda a resistência, naturalidade e sem ajudas de entidades. Fui sempre só eu”.
A incapacidade do André tem evoluído de forma positiva, “é hoje o meu bebé adolescente”, foi integrado no ensino normal e especial, com acompanhamento específico. Está hoje no 11º ano, mas com a situação da pandemia, os tratamentos e a escola ficaram para trás, o que impede o André de continuar a sua luta. A cadeira de rodas faz parte da mobília, os irmãos assumem o seu papel de estimuladores no crescimento dele. Para Teresa “o André é a nossa Luz, é feliz. Não consigo cortar o cordão umbilical”.
Em 2012, partiram para a Zurique, Suíça, passando lá seis anos e o André integrou uma escola específica para a situação dele, onde aprendeu o Alemão. Assumindo o que lhe era pedido para fazer, “sei que ele entende, melhor do que eu que não fui capaz”, refere a mãe que não aprendeu a falar aquela língua estranha.
Já sentiu a discriminação por ter um filho especial e por querer integrá-lo na vida social. Ao passar na rua as pessoas olham, julgam e abordam, “muitas vezes com pena, e eu não quero que sintam pena do meu filho, ele entende e fica doente”.
André vê, ouve, mas pouco fala, “diz mãe, com o som, é tão bom! Olha para as fotografias dos irmãos e eu sei que ele quer saber deles”. O cuidado ao André é a prioridade nesta família.
Quanto ao futuro, Teresa desabafa como mãe: “ Tenho medo de morrer…o André é o meu oxigénio, a minha sobrevivência. Gostava de ver o meu filho a uma secretária a comandar num computador alguma coisa. Eu sei que ele é capaz. Gostava de o ver andar…com ajuda ele chega lá, queria a independência dele, acredito que é possível, mas ainda leva tempo”.
Teresa vive cheia de esperança no crescimento do seu filho. O André é Feliz.
- Continua
* Publicado no jornal PALAVRA edição de novembro