Ordem dos médicos entregou relatório final sobre o Lar Maria Inácia Vogado Perdigão Silva de Reguengos de Monsaraz, ao Ministério Público, Ministério da Saúde, Direção-Geral da Saúde e à Ordem dos Advogados.

O relatório avalia as circunstâncias clínicas em que se deu o surto Covid-19 e os procedimentos imediatos decididos pelos responsáveis. De acordo com o relatório “não existia, por exemplo, definição de circuitos de limpos e de sujos, o que foi feito apenas a 26 de junho, nove dias depois de ter sido confirmado o primeiro caso”, “os recursos humanos foram insuficientes para a prestação de cuidados adequados no lar, mesmo antes da crise de covid-19, uma situação que se agravou com os testes positivos entre os funcionários, que os impediram de trabalhar”. Em consequência “vários doentes estiveram alguns dias sem as terapêuticas habituais, por falta de quem as preparasse ou administrasse” e “houve casos de preparação e administração de fármacos por pessoal sem formação de enfermagem”.

A falta de “recursos humanos adequados e preparados” devia ter agilizado formas de suprir, “de acordo com as boas práticas clínicas” essa falta, o que não aconteceu.

Segundo o relatório, esta situação foi favorável à “rápida disseminação, com responsabilidades para quem geria o espaço”. E acrescenta que “o processo inicial de rastreio – desde a primeira zaragatoa até aos resultados finais de todos os utentes e funcionários – demorou perto de três dias, período de tempo em que os potencialmente infetados conviviam e partilhavam espaços, quartos, corredores e casas de banho” e conclui ter havido uma “desorganização e consequente prejuízo para os doentes, atribuível à Autoridade de Saúde e à ARS do Alentejo”.

Havia uma “subordinação da liderança clínica às intervenções superiores administrativas, com consequente descoordenação logística de meios e do pessoal de saúde (médicos, enfermeiros), bem como da articulação com o pessoal auxiliar e voluntário” e que “os responsáveis, que foram alertados pelos profissionais, não agiram atempadamente e em conformidade, mantendo os doentes em circunstâncias penosas e facilitando o crescimento do surto, antes da transferência para o pavilhão”.

“A Autoridade de Saúde Pública não visitou o Lar para avaliar localmente estas circunstâncias. Delegou as funções, designadamente no ACES [Agrupamento de Centros de Saúde], cujo diretor clínico foi designado pelo presidente da ARS como responsável do pavilhão”.

Da parte da instituição refere não sido apresentado aos elementos da Comissão “qualquer plano de contingência interno da instituição na fase anterior ao surto, nem evidência de que os funcionários do lar tiveram formação nessa matéria”, pelo que “não cumpriu as regras estabelecidas e não teve assim condições para enfrentar com rigor o surto”

Relativamente à mudança dos utentes para o pavilhão a que chama “alojamento sanitário” são apontadas algumas críticas tais como ter sido tardia, “quando já se contabilizavam 8 mortos e 138 casos ativos” e que este espço“nunca foi denominado de ‘hospital de campanha’ nem tinha condições para ser considerado um hospital” . E conclui que,  depois de terem melhorado as condições do Lar, “mesmo em melhores condições, a falta de coordenação e gestão continua a impedir que os doentes, os profissionais e os voluntários estejam em ambiente seguro”.

O surto que vitimou 18 pessoas e infetou 162, está prestes a ser considerado finalizado, mas a problemática sobre o Lar de Reguengos indica estar ainda no início.

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