“As Instituições de Solidariedade Social (IPSS) do concelho de Reguengos de Monsaraz mantêm os Centros de Dia encerrados. Perante a lista de exigências apresentada pela Direção Geral de Saúde (DGS) e o risco de fácil disseminação da COVID-19 que permanece e se prevê de maior intensidade nos próximos meses, os responsáveis decidiram continuar a assistir os idosos que estavam inscritos em Centro de Dia (CD), com o serviço de Apoio Domiciliário (AD).
Apesar de todos os responsáveis das instituições entenderem que a reabertura dos Centros de Dia seria uma prioridade, a verdade é que, medidas todas as consequências, é mais vantajoso para os idosos permanecerem nos seus domicílios.”
Tiago Abalroado, presidente da União da Instituições Particulares de Solidariedade Social (UDIPSS) em entrevista ao jornal PALAVRA revela a sua preocupação.
Enquanto presidente da UDIPSS como vê as condições impostas para a reabertura dos Centros de Dia?
Ainda que compreendendo as razões e a intenção de segurança e proteção dos idosos subjacentes às condições definidas pela DGS para a reabertura dos Centros de Dia, encaro com especial apreensão a viabilidade do seu cumprimento por parte da grande maioria das IPSS que promovem esta resposta social. Há que ter em conta que cerca de 70% dos Centros de Dia do nosso país se encontram acoplados a outras respostas, partilhando com estas infra-estruturas, espaços e outros recursos, sendo, por isso, muito difícil assegurar a sua completa separação. Dentre aqueles cujo edificado é autónomo, encontramos também um número acentuado de imóveis antigos e/ou com características arquitectónicas que condicionam o integral cumprimento das normas definidas. É, por isso, muito reduzido, quer em Portugal quer no Distrito de Évora, o número de Centros de Dia que conseguirá reabrir portas no quadro de medidas atualmente estabelecido.
Como se sabe a grande maioria dos lares não abriu esta resposta social. qual a sua opinião acerca desta situação?
É uma situação que nos preocupa muito e que, a nosso ver, não é nova. Logo no mês de Maio, quando o país começava a preparar o desconfinamento, alertámos que seria importante pensar e projetar bem a reabertura dos Centros de Dia, pois, conhecendo a realidade das instituições, dos utentes e dos estabelecimentos, era expectável que o cenário com que nos confrontamos viesse a verificar-se.
Manifestou a sua opinião e fez alguma pressão para que fossem publicada as orientações para a reabertura dos Centros de Dia. Qual a sua opinião sobre as exigências divulgadas?
Julgo que o foco do impasse que atravessamos não tem a sua génese nas medidas em si, mas sim no processo que conduziu à sua estruturação. A DGS desenhou estas medidas com o suporte do Instituto da Segurança Social, o que, por princípio, me parece correto, mas sem um grande envolvimento das Confederações e Uniões que representam o setor, na minha perspetiva muito por responsabilidade destas últimas que, talvez por inércia, acabaram por se demitir da sua responsabilidade de assessorar o Estado neste âmbito. Podem ter sido ouvidas/consultadas mas não foram interventivas nem proativas no aprofundamento de soluções alternativas ou complementares. Ainda que, por vezes e em certos aspetos, possamos identificar falhas no funcionamento do Estado, entendo que nesta matéria em particular foram as estruturas representativas do setor que falharam possibilitando a transposição de diretivas genéricas para um contexto muito particular e muito especial, diria até estruturante.
O facto de não abrirem muitos Centros de Dia deixa um elevado número de idosos em casa. que avaliação faz desta situação?
Este é, sem dúvida, o aspeto que nos causa maior inquietação. Na atual configuração social, os Centros de Dia são a porta de entrada para as Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas (Lares de Idosos), pelo que as pessoas quando dão entrada nesta resposta social já apresentam um conjunto de condicionantes físicas, psíquicas ou sociais que comprometem a sua plena autonomia; basta pensar que se estivessem em condições de permanecer sozinhas em casa iriam eventualmente requerer o Serviço de Apoio Domiciliário e não optariam por uma institucionalização, ainda que parcial. Ora, forçar os idosos, cuja rotina diária se encontra esquematizada de acordo com as dinâmicas do Centro de Dia, a ficar em casa, em cerca de 80% dos casos isolados, beneficiando apenas de um apoio pontual das instituições nas tarefas mais elementares (como alimentação e higiene), vai, no mínimo, impactar sobre a sua saúde mental e conduzir a cenários de solidão, depressão ou degradação.
Enquanto presidente da UNITATE assumiu a responsabilidade do Lar da Vendinha, conseguiram reabrir o Centro de Dia? Se sim, em que condições? Se não, indique-nos o porquê?
Infelizmente ainda não foi possível reabrir o Centro de Dia na Unidade de Ação Social da Vendinha, exatamente porque “coabitam” no mesmo espaço o Centro de Dia e o Lar de Idosos. Requeremos na passada semana ao Centro Distrital da Segurança Social de Évora uma avaliação às condições do imóvel e tentaremos prover o cumprimento dos requisitos necessários para a reabertura através da autonomização das respostas e da instalação complementar de instalações sanitárias móveis. No entanto, para que tal ocorra será preciso que esta solução mereça a concordância da Segurança Social, da ANEPC e da Autoridade de Saúde.