Por norma, no mundo da ficção, raro é o SUPER-HERÓI que não usa máscara sempre que é preciso agir contra o mal! Assim nos é exigido vivermos hoje, com máscara! Então que nos tornemos verdadeiros super-heróis ao usarmos CORRETAMENTE a máscara nesta nova realidade que veio para ficar e já roubou a vida a muita gente! Os números não param de aumentar no mundo e, segundo o site worldmeters.info, existem, até ao dia 2 de agosto, mais de 18,2 milhões de casos confirmados de Covid-19, dos quais já resultaram mais de 693 mil mortes, no entanto, e como aspeto positivo, mais de 11,5 milhões estão recuperados da doença.
É mais forte do que eu, não referir, para memória futura, que os EUA de Trump e o Brasil de Bolsonaro, infelizmente, representantes legítimos do pensamento estúpido da ultradireita do séc. XXI, os quais têm “brincado” com o uso de máscara, representam mais de 41% de todos os casos confirmados e, simultaneamente, mais de 36% de mortes no mundo pela Covid-19!
Em 2018, pela necessidade de realizar um transplante bipulmonar, passei a integrar o grupo de mascarados de Portugal e facilmente identificados a cada ida ao hospital, centro de saúde ou espaços fechados com muita gente! E por quê?! Porque quem realiza um transplante, independentemente da sua natureza, não fica curado, mas troca uma doença terminal por outra que necessita da toma criteriosa de medicação imunossupressora diária, até ao último dia da sua vida para evitar a rejeição do órgão doado. Como “não há bela sem senão”, este tipo de medicação, apesar de melhorar a qualidade de vida aos transplantados, reduz-lhe acentuadamente a sua imunidade, tornando-os mais vulneráveis a infeções, no fundo, à semelhança do vírus Sars-Cov-2, para o qual ninguém tinha defesas no seu sistema imunitário e é, por isso, que todos devemos usar máscara em que os grupos de risco como os idosos e as pessoas imunodeprimidas precisam de cuidados redobrados de proteção.
O aparelho respiratório é aberto, contrariamente, e por exemplo, ao circulatório que é fechado, ou seja, significa que existe uma relação direta com o ambiente exterior, refletido no ato de respirar, através da inspiração e expiração, ou seja, na entrada e saída de ar do nosso organismo! Assim, a probabilidade de contrairmos algum agente patogénico, como bactérias, fungos e vírus, é facilitada e daí a necessidade do uso de máscara como a única barreira para evitar o contágio e consequente doença, o que é perfeitamente lógico!
Para os mais resilientes ao uso de máscara, penso que fui claro. Se antes já usava máscara para me proteger, agora uso-a com um duplo objetivo, o de me proteger e o de proteger os outros! Segundo, o filósofo francês existencialista Jean-Paul Sartre, “O inferno são os outros”, ou, e de acordo com o pensamento filosófico contemporâneo, do brasileiro Leandro Karnal, “O inferno somos nós”?! Penso que perante o momento pandémico que vivemos todos, os dois têm razão! Protejo-me a mim para também proteger os outros e vice-versa!
É verdade que o uso de máscara me tem originado situações constrangedoras no dia a dia! Já esqueci as vezes que fui obrigado a esclarecer as pessoas que me olhavam com DESCONFIANÇA impossibilitando-me de o fazer àquelas que fugiam de mim como “o diabo foge da cruz” e preferirem viver na IGNORÂNCIA. Por outro lado, tenho estórias muito engraçadas, todas elas com crianças, bem reveladoras da espontaneidade e pureza destas ao terem sido surpreendidas por mim, com máscara! Lembro-me que uma disse ao pai que viu um pato, outra que disse à mãe que eu era o doutor e outra que num aceitável ato defensivo do inesperado, formou uma pistola com o dedo indicador e o polegar e deu-me um tiro imaginário na hora!
A pandemia veio ensinar-nos que os vírus existem e que provocam doenças letais, que nada é estável e que a vida é uma eterna aprendizagem, mas, sobretudo, veio demonstrar o valor imensurável da LIBERDADE! Relembro que as zoonoses (doença animal) são, e segundo a definição da OMS, “doenças ou infeções naturalmente transmissíveis entre animais vertebrados e seres humanos enquanto hospedeiros de vírus, bactérias, protozoários, helmintos (lombrigas, ténias…) e até artrópodes (pulgas, carrapatos, mosquitos, carraças…) que proliferam pela natureza.” O atual e triste exemplo da bárbara invasão sem controlo da AMAZÓNIA, para além do grave CRIME AMBIENTAL à escala mundial e do GENOCÍDIO INDÍGENA, irá trazer novas zoonoses adormecidas, entre elas, as virais, à semelhança do Sars-Cov-2, existentes em áreas inexploradas pelo ser humano, até hoje! Serão essas futuras conexões com animais selvagens que irão trazer para as cidades essas novas doenças e que, infelizmente, todos sabem disso!
Após estes meses de pandemia, fala-se em voltar à normalidade que não sei muito bem o que é isso de ser normal, até porque nunca me senti anormal por ter que usar máscara para me proteger! Relativamente ao concelho de Reguengos, e após uma fase inicial com 8 casos confirmados e todos recuperados, a “bomba” explodiu no lar da Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, no dia 18 de junho, após mais de 70 dias sem novos casos e provando aos mais céticos que o vírus continua entre nós! Enquanto residente neste concelho, há 18 anos, consciente de que a VIDA não tem preço e que a IGNORÂNCIA não tem lei, só me resta continuar a cumprir as regras comportamentais exigidas, algo que já fazia antes, para evitar contrair o vírus e tão simples como, o DISTANCIAMENTO SOCIAL, a HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS e ALIMENTOS e o USO ADEQUADO DA MÁSCARA! É preciso exigir às autoridades competentes que, e de forma pedagógica, interfiram junto dos incumpridores ou, e se necessário, de forma punitiva.
É inevitável, e dada a existência de inúmeros lares de idosos em toda a região alentejana, perguntar para perceber, por que razão o surto de Covid-19 atingiu apenas estas proporções no lar em Reguengos de Monsaraz e respetiva comunidade com, pelo menos, 170 casos confirmados e 18 mortes?! Para os mais melindrados com a pergunta, relembro que nesta vida não existe apenas o preto e o branco, mas uma infinidade de cinzentos relembrando que a transparência e a crítica construtiva fazem parte da salubridade e essência da DEMOCRACIA!
Vimos os nossos sonhos e objetivos pessoais adiados, mas não acabados e falo por mim que passei a viver cada dia com o máximo potencial defendendo a minha dignidade, iluminado por uma enorme GRATIDÃO! Pessoalmente, no início do mês de agosto e em representação de Portugal, iria realizar o SONHO de participar na prova dos 5000m, nos Campeonatos da Europa para Transplantados realizados em Dublin, capital da Irlanda e que, certamente, poucos terão conhecimento. Já dizia o filósofo alemão Nietzche “O que não me mata me fortalece”, por isso, continuo a superar-me a mim mesmo, agarrado a objetivos claros sendo os mais motivadores, o de homenagear o meu DADOR e a sua FAMÍLIA que, e por uma questão ÉTICA, não me foi, não me é e não me será permitido alguma vez conhecer! Recordo que desde 2009, e apenas institucionalizado em 2019, se comemora, no dia 20 de julho, o Dia Nacional da Doação de Órgãos e da Transplantação, o qual coincide com o dia do primeiro transplante (renal) realizado no país, em 1969! A pedido irrecusável da Sociedade Portuguesa de Transplantação, realizei e divulguei um pequeno vídeo como forma de agradecimento a todas as pessoas envolvidas neste complexo processo. Aproveito a oportunidade para fazer, publicamente, o meu agradecimento aos BOMBEIROS que em missão me foram buscar a casa naquela noite de 14 de fevereiro de 2018, o João Janeiro e o jovem Fábio Vogado, MUITO, MUITO OBRIGADO!
Termino com a frase do filósofo empirista francês Francis Bacon “Conhecimento é poder!” Não o poder de subjugar, mas o poder de nos transformar a nós e aos outros, sobretudo, de nos dar a capacidade de sabermos lidar com as tragédias da vida! A vida é feita de escolhas e não há escolha sem consequências, seja para o bem ou para o mal! Todos os nossos comportamentos atingirão um fim que ficará gravado na nossa CONSCIÊNCIA enquanto seres humanos, por isso, cabe a cada um saber se quer ser um suicida, um homicida ou, simplesmente, um SUPER-HERÓI! Um ótimo e feliz dia para todos! ◄