O artigo deste mês aborda o tema do momento vivido a uma dimensão mundial, nacional e, inevitável e infelizmente, local. Escrevo da Covid-19, a normalidade que entrou nas nossas vidas e com a qual estamos a aprender a viver e a conviver.
Todos sabemos pelo que passámos recentemente na nossa terra, onde um grupo de pessoas da comunidade foi apanhado por esta doença. Felizmente temos muitos recuperados e é para esses que escrevo.
Como recuperar da doença física com saúde psicológica?
Em primeiro lugar é importante salientar que o normal é que a experiência da doença seja um fator muito stressante por vários motivos, desde logo pelos sintomas físicos, mas também pelo medo e pela insegurança que uma situação nova e ainda mais vivenciada como perigosa, acarretam. Para além disto, o receio da estigmatização por parte dos outros, a frustração e o desconforto de ver todas as rotinas alteradas, e ainda o facto de se verem condicionadas nas atividades normais, poderão contribuir nas pessoas infetadas para um desequilíbrio emocional compreensível e até, de certa forma, esperado.
São pois fundamentais para o processo de cura a adoção de algumas diretrizes, que poderão ajudar muito. Em primeiro lugar deve-se assumir que se está num processo de recuperação, que é possível que embora com resultado negativo no teste à covid-19 permaneçam ativos alguns sintomas, e que a pessoa poderá sentir-se emocionalmente instável, por isso é necessária calma e paciência, acompanhadas de um retomar tão lento quanto possível das atividades regulares, incluindo o regresso ao trabalho – um retomar faseado ajudará ao equilíbrio físico e afetivo, fundamentais para uma recuperação plena e para evitar questões futuras quer do foro físico, quer psicológico. Por outro lado é essencial a retoma de contactos com amigos, familiares e colegas que transmitam confiança e disponibilidade para ouvir os sentimentos e as emoções vividas durante a doença e no período de recuperação, permitindo que os outros escutem, amparem e apoiem – muitas vezes estamos sozinhos por um processo de autoimposição e os outros não se aproximam só porque nós não o permitimos. Ainda muito importante é não ter receio de partilhar a experiência da doença com outras pessoas que tenham passado pelo mesmo, a partilha aproxima, ajuda a diminuir a ansiedade e a mostrar que não se está sozinho e que no fundo os medos, receios e anseios são comuns a todos, sobretudo na fase da convalescença, onde impera a insegurança nos dias futuros. Por fim, qualquer processo de recuperação exige tempo, e este tempo deve ser reservado para atividades prazerosas, só ou com a família. É essencial ter um lugar em casa que transmita tranquilidade, onde se possa ouvir música, ler, ver televisão, ou realizar qualquer outra atividade que acalme. Este tempo é muito importante e fundamental para o processo de recuperação física e emocional.
Deve ainda ter-se em atenção que esta é uma fase difícil e em momentos difíceis todos podem precisar de ajuda, se for o caso não deve hesitar-se em procurá-la junto de um profissional, que ajudará à reorganização e reestruturação afetivas. ◄

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