O município de Reguengos de Monsaraz lançou as bases para a construção da Carta Arqueológica do concelho, com coordenação dos arqueólogos Rui Mataloto, André Pereira e Manuel Calado.
Conversámos com Rui Mataloto, um dos responsáveis pela realização desta Carta que, segundo ele “pretende ser um documento no qual se sintetize e sistematize, de modo atualizado, o enorme manancial de informação disponível sobre a ocupação humana do território concelhio, desde a Pré-História aos inícios da Época Moderna. Este trabalho procurará estabelecer uma base de informação a integrar nos documentos municipais de gestão e ordenamento do território, por forma a promover a sua salvaguarda, contribuindo para um desenvolvimento mais harmonioso e sustentável, baseado num forte sentido identitário de enraizamento milenar”.
Não será melhor “a equipa disponível para este trabalho é “gestora de um enorme manancial de trabalho e informação gerado por inúmeros investigadores e investigadoras que nos precederam” afirma o arqueólogo. Ainda assim, prevê-se “a realização de muitas centenas de quilómetros de prospeção arqueológica com equipas muito experimentadas”. Na carta arqueológica “procuraremos igualmente integrar a colaboração de muitos dos investigadores que tiveram ou ainda têm o território concelhio como espaço privilegiado de desenvolvimento da sua investigação”.
O arqueólogo destaca a “relevância do Património Arqueológico de Reguengos” e dos trabalhos prévios e a decorrer, “como no caso do complexo dos Perdigões, dirigido por António Valera, os diversos trabalhos no âmbito do Megalitismo desenvolvidos por V. S. Gonçalves e a indissociável associação do casal alemão Leisner, que aqui esteve nos anos 40 do século XX, permitem ter neste documento uma síntese que ajude a consolidar Reguengos de Monsaraz como a grande capital da investigação da Pré-história em Portugal”.
Relativamente à área de estudo, Rui Mataloto informou que “este trabalho procurará bater de modo equilibrado e equitativo todo o território concelhio, dentro das condicionantes espácio-temporais que temos. Essencial será, com a tecnologia hoje disponível, atualizar e precisar a localização da maioria das ocupações já conhecidas, com particular atenção para o Património Megalítico, cuja perenidade das Grandes Pedras está hoje fortemente ameaçada pelos avanços da agricultura contemporânea”. Exemplifica com o caso das Antas do concelho, que inclui “mais de 140 antas, muitas das quais destruídas desde os anos 40 do século XX. A relocalização e cartografia de precisão das antas de Reguengos de Monsaraz será um dos objetivos primordiais, essencial para a sua salvaguarda. Muitos destes sepulcros não mais voltaram a ser vistos e avaliados desde a estadia do casal alemão George e Vera Leisner, que os identificou e deu a conhecer em meados do século XX”. Além de toda a informação que já é conhecida resultante de trabalhos anteriores “será absolutamente necessário muito trabalho de campo, onde se espera, com grande certeza, registar muitos novos vestígios de ocupações do passado, de entidade certamente diversa, mas de onde não descoramos podermos vir a identificar ocorrências de grande interesse patrimonial”. O arqueólogo frisa que “gostaria, no entanto, de sublinhar que temos que entender uma Carta Arqueológica como um documento aberto que tem que continuar em permanente atualização, com o contributo de todos!
Sobre a informação a incluir na Carta Rui Mataloto adianta que “o propósito de base é, “justamente”, a localização e relocalização de ocorrências. Pontualmente pretendemos adicionar informação arqueológica relativamente a planta e achados, descrevendo-os de modo detalhado”. Acrescentou que “estamos já a trabalhar com o Município para que numa fase subsequente possamos continuar este processo de registo com o acréscimo de informação por cada sítio, uma vez mais com maior enfase no património megalítico, com a realização de limpeza e levantamento detalhado de muitas das antas existente que ainda hoje carecem de uma planta detalhada, sendo no projeto em curso, manifestamente impossível desenvolver de modo alargado esta faceta”.
Sobre a disponibilidade da informação final obtida, e além do carácter científico que este trabalho obviamente inclui, o arqueólogo refere o carácter administrativo “a fornecer à equipa do PDM”, uma vez que “o projeto contempla a elaboração de uma publicação que ficará disponível a todos os interessados”. Sobre a questão da disponibilização dos resultados deste trabalho, Rui Mataloto acrescenta que “julgamos que seria importante no futuro criar uma plataforma aberta online que recolhesse a mais relevante informação sobre o património local, destacando alguns dos sítios e da sua relevância para a História da presença humana no concelho de Reguengos de Monsaraz”.
Igualmente, do ponto de vista da gestão agrícola será um “elemento de auxílio ao planeamento por parte dos promotores, nomeadamente na área agrícola, terem acesso aberto às localizações arqueológicas de modo a promover antecipadamente a ação de salvaguarda”. Para as atividades lúdicas e de turismo, a carta Arqueológica também poderá ter uma contribuição importante, já que “muitos dos sítios patrimoniais possam vir a ser integrados em percursos pedonais existentes ou a criar que permitam a sua visita e a fruição, na construção e reforço de um sentido de identidade local”. Esta Carta Arqueológica deverá “servir de exemplo a outros municípios da região que ainda não dispõem de um compêndio semelhante” afirma o arqueólogo, que acrescenta que “gostaríamos também que servisse para reforçar o sentido identitário milenar de toda uma região”.
Em relação à história que a Carta vai contar o arqueólogo diz “veremos que História nos irá contar, já que estamos essencialmente no início do processo, mas certamente nos trará muitos novos episódios da pujança e fraqueza, da glória e miséria, do esplendor e desgraça das diversas comunidades humanas que se enraizaram no território concelhio e que, de alguma forma, serviram para moldar todo um sentido de lugar e pertença do que é hoje Reguengos de Monsaraz”. ◄
- Publicado no Jornal PALAVAR, edição de maio 2021
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