O Vereador
Quem é o Vereador Miguel Singéis?
R: Sou um homem de família, simples e atento. Não penso ser diferente, nem mais, nem menos extraordinário. Sou eu, sou eu como a vida me moldou. Sou um homem que não esqueço a minha história e muitas vezes injusto comigo por não a valorizar. Sou um homem que erra e que acerta, um homem cujo maior sonho foi ser pai.
Como maior defeito diria que para mim não existem meios caminhos, nem “nins”, nem talvez, ou é ou não é. Como virtude diria que sou extremamente pragmático, o que aparece é para resolver, na vida como no trabalho.
Como paixão tenho a arquitetura, a música, o cinema, a ornitologia e o desporto. Como repulsa tenho os “jogos” interrelacionais, o desrespeito e a desonestidade. A humanidade só avança se tivermos respeito uns pelos outros, em igual medida.
Nunca é demais lembrar os princípios da vida em sociedade e a responsabilidade humana tão bem estudados e descritos por grandes académicos da Escola Ecológica de Chicago, como Robert Ezra Park, Ernest Watson Burgess e Roderick Duncan McKenzie, que estudaram a sociedade e o desenvolvimento urbano num autêntico laboratório social que representou a reconstrução de Chicago após o grande incêndio de 1871. Penso que todos devíamos revisitar essas conclusões. Tantas vezes é melhor dar um passo atrás para consolidar os passos à frente.
Por fim, sou um homem muito grato à minha esposa e aos meus filhos que toleraram a minha ausência sem nunca deixar de me amar.
O que tem representado para si esta experiência autárquica?
R: Para mim, tudo na vida se destina a uma aprendizagem; um motivo de retrospeção, reflexão e conclusão. Foram 4 anos que representaram uma honra e pelos quais me sinto grato! Foram 4 anos que me revelaram facetas da vida e comportamentos que desconhecia por completo. Foram 4 anos que tive a oportunidade de participar dando a minha parte à comunidade. Foi um curso intensivo de relações humanas, de gestão de situações limite e de averiguação dos meus próprios limites. 4 anos que devem ser analisados com humildade, eu diria pelo menos ao longo de toda a minha vida.
Planeamento, Ordenamento do Território e Urbanismo
Relativamente a este capítulo tão vasto da sua vereação, como é o seu olhar sobre a cidade? E sobre o concelho? Como define a situação das nossas aldeias?
R: Na realidade, observo e estudo a Cidade e o Município, nesta vertente, há mais de uma dezena de anos. Integrei a equipa de elaboração de planos municipais de ordenamento do território, como o Plano de Urbanização da Cidade de Reguengos de Monsaraz e o Plano de Intervenção no Espaço Rural do Centro Náutico de Monsaraz. Planos que foram totalmente desenvolvidos com recursos internos. Nesse período trabalhei no planeamento, no ordenamento e na gestão urbanística, felizmente sempre acompanhado de grandes equipas técnicas.
O meu olhar sobre a cidade é um olhar consciente da história urbana que a atravessou. Nasceu de dois núcleos no final do século XVI, Reguengos de Cima e Reguengos de Baixo, que se ligavam pela rua de Lisboa e mais tarde no século XVIII formaram apenas um único centro urbano. Tornou-se sede de Concelho em 1838 e no ano seguinte por decreto régio foi designada por Vila Nova de Reguengos.
Atingida esta estabilidade urbana, no início do século XX, a Vila Nova de Reguengos viu ser relocalizado todo o seu centro administrativo e religioso.
Este curto enquadramento histórico visa apenas ajudar a compreender a diversidade das linguagens arquitetónicas, da morfologia das edificações, dos alinhamentos, das materialidades, enfim, de todas as características urbanísticas e arquitetónicas da Cidade. Estamos perante a necessidade de um longo processo de planeamento que deverá, na minha opinião, envolver toda a comunidade técnica local. Será necessário um olhar atento sobre o seu todo e desenvolver estratégias de reabilitação urbana que resultem na valorização de todo o sistema urbano.
Sobre o Concelho, eu diria que temos todos os ingredientes para vingar. É impressionante a diversidade paisagística e patrimonial que podemos observar. Muito trabalho tem sido feito ao nível do levantamento, cadastro e da valorização destes aspetos. Mas muito ainda há a fazer, estou certo que o novo Plano Diretor Municipal (adiante PDM) será um excelente catalisador de uma estratégia sustentável e com identidade. Considero que estamos ainda numa fase de adaptação ao potencial do Grande Lago Alqueva. No rescaldo da avaliação das medidas de salvaguarda absoluta dos sistemas ecológicos versus potencial turístico, desportivo e de lazer do regolfo. Uma análise que exige a máxima ponderação e gestão de prioridades em busca do equilíbrio Ser Humano/Natureza.
Por fim, mas não menos importante, as nossas aldeias. Lá por casa, dizemos que uma das melhores decisões da nossa vida foi ir morar para a aldeia. As nossas aldeias são muito ricas no que respeita às relações humanas; penso que para lá do PDM, merecem um olhar particular e profundo do ponto de vista urbano. Como criar condições para o desenvolvimento dos setores básicos nas aldeias? É necessário perceber a identidade de cada uma, perceber as mais-valias e vocações, ordená-las e valorizá-las. Sou apologista de sistemas urbanos em rede, complementares e a nossa realidade permite-o.
O que está por fazer neste capítulo? Que novidades temos atualmente relativamente ao Plano Diretor Municipal?
R: É certo que todas as páginas do jornal não chegariam para completar esta resposta. O ordenamento do território não é estático, há sempre muito por fazer. Existe uma enorme dinâmica na forma como nos apropriamos do território. Existem sistemas e valores a salvaguardar. As políticas nesta área deverão ser definidas no sentido de tudo ser feito para se imprimir o maior ritmo de atualização possível.
O novo PDM trará muitas novidades. É um plano que eu designaria de terceira geração e onde tentamos ser pioneiros introduzindo algumas valências que geralmente não são previstas; como a componente desportiva (costumo dizer que o nosso território é o nosso melhor ginásio), de usufruto da paisagem e do património, da salvaguarda de caminhos históricos, como por exemplo as ladeiras de Monsaraz, na defesa da floresta contra incêndios e na salvaguarda do sistema ecológico histórico, como o Olival da Pêga, entre outras. Vamos criar condições para valorizar os lugares históricos que já tiveram uma importância fulcral, como os Mendes, os Cerros, o Monte Branco e o Álvaro Gil. É um plano que representa um enorme desafio pela recente imposição legal de reclassificação do sistema urbano, a total mudança de paradigma relativamente ao passado. O olhar para dentro em vez de olhar para fora dos núcleos consolidados.
Estou convicto que será um excelente instrumento de gestão territorial de âmbito municipal como ponto de partida para estudos mais pormenorizados, como por exemplo o plano de salvaguarda de Monsaraz, o plano de urbanização da Cidade de Reguengos de Monsaraz e eventuais planos de pormenor de reabilitação urbana.
Equipamento Urbano
De que equipamentos necessita urgentemente a cidade? Quais os equipamentos que estão subaproveitados e porquê?
R: No âmbito geral, a cidade encontra-se servida de importantes equipamentos com diversas finalidades que garantem o acesso da população ao usufruto ou ao recurso aos serviços por estes assegurados. Poderia destacar muitos, mas vou optar por referir três que me são muito queridos por toda a capacidade de adaptação que todos os intervenientes tiveram durante todo o período da pandemia: o NOSSO Mercado Municipal, as NOSSAS Piscinas Municipais e a NOSSA Praia Fluvial de Monsaraz. A rede de equipamentos de uma Cidade nunca estará completa; imensos fatores indicarão o caminho a seguir. As necessidades das populações, as decisões políticas, o estabelecimento de prioridades. Eu sei o que gostaria de ver reforçado mas, nesta altura do meu mandato, seria egoísmo e de extrema deselegância para o atual e futuro executivo e para a população, revelar os meus anseios, até porque a implementação de equipamentos públicos deve resultar de uma análise universal e não particular.
Que reflexão lhe merece a situação atual da circulação rodoviária e a sua relação com as pessoas? Concretamente, a existências de ruas sem passeios, passeios demasiado elevados que obrigam a grandes desníveis por causa das entradas para as garagens, passeios demasiados estreitos com um sinal de trânsito no meio, que impede a passagem de uma cadeira de rodas e de carrinhos de bebés… etc?
R: Merece a minha melhor reflexão e todas as horas que já o passei a fazer. Repare, as soluções implementadas no espaço público não podem ser analisadas sem termos em conta o enquadramento histórico em que foram adotadas. Em cada período de tempo existiram necessidades que foram supridas tendo em conta as premissas e condicionantes desse mesmo período de tempo. Ora bem, quando a determinada altura o conhecimento, as necessidades e as normas induzem soluções diferentes, estamos perante uma tarefa brutal e com fortes implicações financeiras e funcionais. Veja que a proteção do existente prevista em todo o quadro legal da construção revela esta consciência desde há dezenas de anos. No entanto, nada disto implica que não exista a ambição imperativa de melhorar. A procura de soluções para estas problemáticas é algo que assombra o pensamento de qualquer ser consciente que tenha a missão de pensar e intervir no ambiente urbano. A vida não é feita de desafios?
A Praça da Liberdade, recentemente remodelada, tem sido motivo de muitas críticas. Que se lhe oferece dizer relativamente ao resultado final?
R: Primeiro que tenho total confiança na equipa projetista. Que lhes agradeço a coragem de terem aceitado tão exigente desafio. A arquitetura tem uma característica que mais nenhuma arte tem, o resultado está visível para todas pessoas. E ainda bem. Não há projetos perfeitos, eu diria que para um arquiteto os projetos estão sempre inacabados. Por outro lado, os verdadeiros projetistas interiorizam a ideia que a sua obra é passível de todos os tipos de críticas, muitas vezes dos próprios! É saudável que assim seja.
Penso que todos concordamos que a “tela” inicial de trabalho era de uma enorme complexidade. Havia a questão histórica e cultural, o hábito dos sentidos a uma realidade muito antiga e que a maior parte nunca a viveu de outra forma. Desde sempre fui defensor da consolidação de um eixo, para utilização essencialmente pedonal, entre o Parque da Cidade e a Praça de Sto. António. Como projetista, ajudei a concretizar parte desse caminho com a abertura do Parque da Cidade aos braços do Mercado Municipal. Claro que esta aproximação nunca poderá ser autista relativamente às restantes valências da utilização da via pública. Convido a uma visita à Cidade Jardim de Howard!
Tenho como princípio que a arquitetura não se avalia pela estética, mas sim pela força do conceito e qualidade funcional. A avaliação estética caberá a cada um tendo em conta a sua sensibilidade e gosto pessoal. Por piada, costumo dizer que é como o Cartão do Cidadão, pessoal e intransmissível.
Funcionalmente acho que a ideia base foi um sucesso! Hoje podemos observar isso quando vislumbramos os tabuleiros cheios! O Alentejo volta à rua! Esta ocupação em muito se deve à ideia de tabuleiro único que seria fortemente prejudicada com a introdução de elementos de grande verticalidade. Por outro lado, a existência de balizadores é fundamental para que o tráfego automóvel não invada, inadvertidamente, o espaço pedonal. Se foi a melhor solução técnica? Penso que sim, tendo em conta que todas elas têm mais e menos valias. Esta solução está implementada há mais de uma dezena de anos no Parque da Cidade e, que eu saiba, não foi catalisadora do aumento de acidentes no espaço público. Contudo, como sucede em todas as decisões, as soluções deverão ser monitorizadas no sentido de verificar a sua eficácia. No caso de não resultar, resta a humildade necessária de tudo fazer para melhorar. Isto acontece em praticamente todas as obras públicas. Muitas vezes o projeto tem de se adaptar à realidade física aquando da sua implementação, é um processo natural.
A impossibilidade de virar à direita no cruzamento, para a Avenida António José de Almeida, foi um erro de planeamento? E o escoamento das águas dos repuxos foi falha de obra?
R: Relativamente a estas questões, considero ser normal aferirem-se estratégias aquando da implementação dos projetos. Estar no local no papel, não é o mesmo que estar no lugar. O projeto serve para aproximar as duas realidades, mas não para uma substituir a outra.
Cito duas das minhas referências:
– Acredito que as coisas podem ser feitas de outra maneira e que vale a pena tentar., Zaha Hadid;
– Cem vezes pensei que Nova York é uma catástrofe; cinquenta vezes, que é uma bonita catástrofe., Le Corbusier.
Os pinos separadores, usados na Praça, pela cor e pelo número chamam a atenção e impõem-se num ruído visual abusivo. Porque não se optou por uma demarcação dos espaços mais discreta, com distinção de materiais em vez destes obstáculos, que têm causado até alguns acidentes? A seu ver, o que é que hoje teria sido diferente nesta obra?
R: Relativamente aos balizadores penso já ter respondido. No que respeita ao que faria diferente, não fui o projetista, nesse sentido não considero ter legitimidade e seria uma deselegância apropriar-me do projeto e dizer o que faria diferente.
Ambiente
Ainda há situações de insuficiência de saneamento básico no concelho?
R: Que eu tenha conhecimento, não. O município há mais de uma dezena de anos que adota estratégias que visam dar resposta à qualidade exigível de todas as infraestruturas fundamentais. É uma prioridade absoluta. Mas temos consciência que é um processo que nunca acaba e que haverá sempre algo a fazer e a melhorar. A título de exemplo e em matéria de abastecimento refiro um projeto muito importante que está praticamente finalizado: Zonas de Medição e Controlo (ZMC) das Redes de Abastecimento de Água do Concelho de Reguengos de Monsaraz, um investimento de cerca de 160 mil euros, financiado a 53% pelo POSEUR, cuja implementação tem como objetivo reduzir as perdas reais em cerca de 10% e, deste modo, não ser paga pelo município à Entidade Gestora do sistema em alta esta água que não é consumida.
Há ruas da cidade onde o mau cheiro é intenso. Porque não se resolvem estas situações? Na Rua 1º de Maio, por exemplo, mesmo depois das últimas obras, o mau cheiro continua. O que é que falhou?
R: Toda a cidade é atravessada por um importante ribeiro, o “Ribeiro Pelado”, que no passado para que o desenvolvimento urbano fosse possível na expansão da Vila Nova de Reguengos, relocalizou todo o centro administrativo e religioso, este ribeiro foi contido em galerias no subsolo. Estas galerias estão localizadas, em grande parte, debaixo de edificações. Ora bem, a urbe só tem significado se for habitada, e durante os anos a população adaptou as suas edificações com novas necessidades e muitas vezes não era possível a diferenciação dos sistemas de drenagem. O resultado são inúmeras ligações de saneamento às galerias, com as respetivas consequências. É fácil assim imaginar a dimensão da intervenção necessária para a resolução do problema.
No entanto, na última década, o município levou a cabo várias intervenções, que foram orçamentadas em vários milhares de euros de fundos próprios. Não foi desperdiçada qualquer oportunidade de intervir a este nível mesmo que isso significasse um esforço financeiro acrescido.
Deste modo, foi possível substituir troços, mas o problema mantém-se a montante e a jusante destes troços. Nesta consciência criamos rotinas de descargas que pretendem mitigar o problema.
Será um processo muito complexo e longo, não seria verdadeiro dizer o contrário.
Nos últimos anos tem sido evidente a falta de limpeza nas ruas da cidade. A que se deve esta situação e que resposta pode esperar-se do município?
R: Os trabalhos de manutenção no espaço público, onde se inclui a limpeza urbana, não têm propriamente um início, um meio e um fim, como a maioria das tarefas a que estamos habituados a realizar. Sempre que possível são elaborados planeamentos, no entanto a utilização universal do espaço leva-nos muitas vezes a ter de ser reativos ao invés de pró-ativos. Há imensos acontecimentos que todos os dias nos obrigam a corrigir o caminho. É claro que tenho sempre presente que nem tudo corre bem, mas nesta equação é importante todos pensarmos como queremos a nossa rua. É fundamental limpar, mas também é fundamental não sujar.
No que respeita às infestantes (“ervas”), o estabelecimento de serviços mínimos no último ano e meio por força da implementação de medidas preventivas face à pandemia em conjunto com as excelentes condições de germinação que tivemos, gerou-nos grandes problemas para conseguir controlar a situação. Só a enorme dedicação dos funcionários operacionais municipais das mais diferentes áreas e a grande capacidade de planeamento dos seus responsáveis, permitiu que se conseguisse estabilizar a situação nas fases pós confinamento. Serei sempre grato pela total disponibilidade e pelo esforço que todos imprimiram e que foi muito acima do que lhes era exigido.
Penso que as novas formas de gestão do espaço público que se começam a perfilar para o futuro irão trazer a necessidade de grandes adaptações e obrigar os decisores a ponderar muito bem o caminho a seguir.
Eficiência energética
O que é que tem sido feito neste âmbito pela autarquia?
R: Das várias ações que implementamos nesta matéria eu destacaria duas: a substituição de todas as luminárias de iluminação pública do município de Reguengos de Monsaraz e a disponibilização de áreas do domínio privado do município para colocação de fontes de energia renováveis. Relativamente à primeira, tratou-se de um projeto desenvolvido em articulação com a CIMAC e que significou para Reguengos de Monsaraz um investimento de cerca de 1.7 milhões de euros, a 12 anos, nas componentes da instalação e da manutenção. Foram substituídas mais de 4000 luminárias cuja eficiência energética representará para o município uma poupança que pode atingir os 75%. É um investimento que se autofinancia e, além de promover a qualidade da iluminação do espaço público, representa uma enorme pegada verde dada numa das maiores infraestruturas do território.
Relativamente ao segundo processo foram disponibilizados por edital vários espaços do domínio privado do município, que não possuíam qualquer utilidade acrescida, para a instalação de milhares de painéis fotovoltaicos e para aquecimento de águas de serviço. A primeira ação, permite a geração de eletricidade de fonte renovável que após a sua introdução na rede gera receita a que o município tem acesso na parte acordada e contratualizada publicamente com a entidade exploradora.
Sabemos que o governo tem programas de apoio para ajudar os particulares a tornarem mais eficientes e fáceis de climatizar as habitações. No entanto, sabemos que não são suficientes e que as pessoas precisam de ajuda na elaboração das suas candidaturas. Reguengos podia ser, ao nível eficiência energética das habitações, uma cidade modelo. Que seria necessário fazer para que isto acontecesse?
R: O município dispõe de um Gabinete de Apoio ao Desenvolvimento que tem como objetivo ajudar os munícipes e as empresas a implementarem as suas pretensões, tendo em conta as competências atribuídas à Autarquia. Além disso, nos últimos anos temos implementado um procedimento de vistorias e emissão de pareceres que visam dotar os munícipes de documentação oficial que comprove a legitimidade de aceder a apoios na área da reabilitação e implementação de medidas que visem dotar as edificações de estratégias de eficiência energética.
Relativamente à última questão, o que seria necessário é que TODOS quiséssemos realmente seguir esse caminho.
Recentemente foram alocados na Praça da Liberdade, Campo 25 de abril e Rua Alberto de Monsaraz postos de carregamento de veículos elétricos. Estão previstos mais locais de carregamento na cidade?
R: De momento é necessário percebermos a evolução da tecnologia. Demos um bom arranque cuja resposta necessita ser estudada. Devemos ser pacientes quando trilhamos um novo caminho, observar, analisar e atuar. Sabemos que a estratégia nacional tem passado em muito pelo carregamento doméstico com recurso a energias renováveis. Vamos ver como resulta.
O Desporto
O pelouro do Desporto e as atividades desportivas normais e previstas em 2020 um duro revés com a suspensão de praticamente todas as disciplinas e modalidades. Foi difícil aceitar um ano sem desporto no concelho? Com o desconfinamento em curso, que planos tem a edilidade para retomar/incentivar as atividades durante esta primavera/verão? Que resposta está a ser pensada para fazer regressar os jovens à prática do desporto?
R: A estratégia nesta dimensão desportiva era ambiciosa, a criação de um verdadeiro ordenamento desportivo. Em primeiro lugar, a valorização da formação através do incentivo à prática e a estreita articulação com o desporto escolar, acolhemos 2 grandes eventos de caráter regional que envolveram em conjunto mais de 2500 alunos e 300 professores. Estávamos a preparar um grande evento nacional de desporto escolar interrompido pela pandemia. Fizemos desta parceria um eixo fundamental para a criação da Estação Náutica de Monsaraz, com o intuito de colocar as modalidades náuticas no ordenamento desportivo. Contactámos e reunimos com mais de uma dezena de federações na busca de contratos-programa na área da formação. A mero título de exemplo, recentemente foi assinado o acordo de cooperação com a Federação Portuguesa de Ginástica, que irá permitir a criação de um centro de alto rendimento de ginástica de Trampolins. Acolhemos o estágio de Observação da Seleção Nacional de sub 18 Masculinos de Basquetebol e a final da Taça Nacional de Basquetebol de Sub 16 Masculinos. Criámos a oportunidade dos nossos atletas poderem ter a experiência da competição ao mais alto nível e incutir-lhes essa ambição.
Em segundo lugar, a valorização dos atletas. Existe um Regulamento de Apoio ao Associativismo Desportivo e todos os pedidos de apoio pontuais e regulares foram submetidos e aprovados por deliberação da Câmara Municipal. Muito foi feito para melhorar a qualidade das instalações da prática desportiva. Que não chegamos a todo o lado? Claro que não! Trata-se de uma maratona e não de uma prova de velocidade. É bom lembrar que falamos de avultados valores de investimento que raramente têm ajudas do Estado e que a Europa não apoia há mais de uma dezena de anos.
Em terceiro lugar, a valorização do nosso território como recinto privilegiado para a prática desportiva, desportos da natureza. Apoiámos grandes eventos de Trail, BTT, Cicloturismo, Ciclismo, Windsurf, Pesca Desportiva, Todo-o-Terreno, Enduro e Trial. Retomámos o Corta Mato Paulo Guerra e fomos membros fundadores do circuito Nacional de Swimrun. Captámos novas modalidades como a Orientação e o Triatlo. Tínhamos previsto para o ano de 2020 o Campeonato Nacional de Esperanças em Canoagem, que a pandemia infelizmente não nos deixou concretizar.
Por fim, não esquecemos a valorização do desporto adaptado e a atividade Sénior. Apoiamos a realização da semana do Boccia, envolvendo a comunidade escolar e com uma excelente exibição do nosso campeão Filipe Mendes, estávamos muito próximos de conseguir uma prova Nacional. Reguengos viu jogar o seu Campeão! Integrámos a rede de Encontros Fit Sénior em parceria com mais 7 municípios dos Distritos de Évora e Beja. Em tempo de pandemia, a nossa equipa dos Séniores a Mexer nunca parou e assegurou sempre o acompanhamento aos idosos através do telefone, aulas online e um Guia de Exercícios e Dicas.
Acolhemos ainda duas importantes Galas: a 1ª Gala do Basquetebol do Alentejo e a 13.º Gala do Futebol Distrital.
No final somamos qualquer coisa como 38 competições nacionais e 20 competições internacionais, o maior número de sempre! Números que seriam impossíveis de alcançar sem a colaboração das nossas associações locais e o forte empenho da equipa de desporto do município, que aceitou um arrojado desafio e o ajudou a concretizar com toda a competência. Recordo ainda que o percurso traçado foi abruptamente interrompido pela pandemia, que afetou fortemente toda a prática desportiva e o seu planeamento no último ano e meio.
O impacto da pandemia foi um “enorme murro no estômago” para todos os atores e apaixonados pelo desporto. Destaco o elevadíssimo sentido de responsabilidade das nossas associações desportivas que participaram afincadamente na procura de soluções que minimizassem os estragos. Demos o nosso melhor no sentido de providenciar toda a ajuda possível, nomeadamente com o fornecimento de material de desinfeção e EPIS, atribuição de apoios extraordinários, apoio à realização de testes COVID e a criação de um regime especial de apoios para o ano de 2021.
Relativamente ao futuro, a retoma da atividade não é programável com o desconhecimento da evolução pandémica e a sua implicação legal. Para já passa por uma análise cuidada das novidades e ter a destreza de encontrar oportunidades.
Por fim, o apoio à retoma da formação está previsto desde que existe Regulamento de Apoio ao Associativismo Desportivo e que foi reforçado no ano de 2018. Por outro lado, existindo essa possibilidade, a continuação da implementação da estratégia de ordenamento desportivo. E por último, cá estaremos para analisar eventuais ações extraordinárias que se revelem fundamentais para garantir o acesso de todos à prática desportiva e um futuro mais animador.
O Património
Como vê a situação do Património no concelho, tanto ao nível da recuperação como ao nível da divulgação? Que mais pode ser feito?
R: Penso que é clara a aposta na recuperação do património arquitetónico, nomeadamente no que respeita às fortificações da Vila de Monsaraz. Foram realizados investimentos de muitos milhares de euros e aproveitadas todas as hipóteses de cofinanciamento que surgiram. Se é suficiente? Claro que não é. Nunca será! O nosso Município possui um riquíssimo património, nesta fase encontra-se a decorrer um enorme trabalho de levantamento, que resultará numa Carta Arqueológica. Este documento será fundamental para a definição de estratégias de intervenção quer ao nível da recuperação quer ao nível da reabilitação.
No entanto, o nosso património não se revela apenas na dimensão edificada, estende-se também à paisagem e à nossa cultura. Também muito foi feito nessa matéria: dou como principais exemplos o apoio à consolidação da perpetuação do nosso Cante e a elaboração e aprovação no ano de 2020 do Plano das Florestas.
O que mais pode ser feito? Um sem fim de ações que apenas serão bafejadas de sucesso se existir a participação de todos, entidades e população, de outro modo dificilmente existirá unicidade na aproximação necessária.
Balanço
Dos pelouros que dirige, qual foi o mais difícil de gerir? Porquê?
R: Não consigo fazer destrinça pois quando damos o nosso melhor e queremos que as coisas resultem, todas as tarefas são complexas e difíceis, mas também são fáceis quando as fazemos com entusiasmo. Para mim não existiram pelouros mais ou menos difíceis, tal avaliação seria injusta, tendo em conta que todos são para ser desenvolvidos apenas numa medida: dar o máximo!
Que balanço faz da sua vereação?
R: Quando aceitei este desafio e tive a honra de o poder exercer, o meu objetivo centrou-se no respeito. Respeito pelas propostas apresentadas a escrutínio; respeito pelas pessoas; respeito pelo serviço público; respeito pelo próximo. É certo que tinha um receio óbvio e avassalador de falhar, mas acabo esta fase da minha vida de cabeça erguida. Tive ilusões e tive desilusões. Concretizei muito do que me propunha. Tenho de ser justo comigo e aceitar que a pandemia baralhou um pouco as coisas. Mas não sou um homem de desculpas, sou um homem que dá a cara, e se não concretizei totalmente os meus objetivos foi porque falhei algures. Não existem governações perfeitas, é certo, mas não custa tentar.
O balanço? Ao olhar para trás vejo que, no mínimo, a minha vereação teve personalidade e a vários níveis deixou algumas marcas e caminhos trilhados que podem vir a revelar-se interessantes no futuro.
O futuro
A atividade política está no horizonte da sua vida?
R: A única atividade que está no horizonte da minha vida é ser bom pai, bom marido, bom filho, bom neto, bom genro, bom irmão, bom amigo, bom Cristão e bom profissional. Aprendi da pior maneira que devemos consolidar o presente e não perder energia, nem com o passado, nem com o futuro, Deus reserva-nos muitos caminhos e desafios, temos de ser perspicazes na sua avaliação. Se formos verdadeiros, conscientes e caminharmos com fé, encontraremos sempre as respostas na altura certa. Dou graças pela vida que tenho e peço que a minha felicidade seja a felicidade dos que me rodeiam, isso fará de mim um homem feliz, hoje e sempre.
Citando Aristóteles: “O valor fundamental da vida depende da perceção e do poder de contemplação ao invés da mera sobrevivência”.
Equaciona a possibilidade de se candidatar à presidência da Câmara Municipal no futuro? Como valoriza politicamente estes quatro anos de vereação?
R: Não. No que respeita à minha vida profissional, eu diria que o meu coração se divide. Sou convictamente um Arquiteto por paixão, é o meu universo, a minha água quando tenho sede, o meu mundo quando me perco na Lua; por outro lado, sou técnico superior e da opinião que ser funcionário público se reveste de um caráter extraordinário e de grande responsabilidade; um desígnio de trabalhar em prol do nosso semelhante e que me preenche em grande medida. Tive a sorte de ter grandes e exigentes mestres como o saudoso Viriato Fonseca e a Graça Charrua, que me incutiram esta grande paixão e vontade de fazer sempre melhor.
Sinto-me completo nestes papéis no palco da vida, certamente apenas sei que o meu futuro passará por estes trilhos.
Relativamente à segunda questão, não tenho a capacidade nem a intensão de valorizar politicamente os quatro anos da minha vereação. Esse papel de avaliação cabe às pessoas para as quais trabalhei, dando sempre o meu melhor e total dedicação. Costumo dizer que tirei de casa para meter na rua, felizmente lá por casa tive muito apoio e compreensão.
A valorização política talvez faça parte da avaliação de quem apenas vive de e para a política. Não é melhor, nem pior, é uma opção que não a minha.
A minha escolha foi valorizar a atuação no sentido de ser efetivamente consequente na qualidade do serviço prestado. É por este motivo que ao longo da minha vida sempre estive tranquilo nas funções que me foram confiadas.
Termino com a certeza que Reguengos tem e terá sempre pessoas de grande valia para assumir funções executivas. Tenho esperança num futuro próspero e de união para nos reerguermos com toda a força do mal que nos assolou no último ano e meio.
A esperança é o sonho do homem acordado, Aristóteles.◄
- Publicado no Jornal PALAVRA, edição de maio 2021
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