Deus: um encontro repetível

Dos vários encontros que podes ter na tua vida -, disse-me um dia o “velho”, – o maior, o mais importante, o mais transformador, o mais impactante na tua vida, é o encontro com Deus.

Fiquei calado. Nunca tinha visto Deus. Nunca o tinha encontrado, nunca tinha feito nada para que isso acontecesse, e talvez, sabendo que esse encontro pudesse ocorrer, tivesse mudado o rumo para que não acontecesse de todo. Fica calado. Nunca tinha visto Deus. Nunca o tinha procurado, nunca tinha feito nada para que isso acontecesse, e talvez, depois de ouvir o velho, tenha ficado com uma ligeira sensação de vazio na minha vida, assim mesmo cá por dentro, como se sempre me tivesse faltado um pedaço de mim.
E agora? Como explicar ao “velho” que eu não conseguia ver Deus, nunca o tinha visto ao longo da minha curta vida e não considerava isso sequer importante para mim. O “velho” continuou então: -… e não penses que esse encontro é um grande encontro, daqueles que levas meses a preparar, ao mais alto nível, do tipo que leva líderes de países à mesma mesa, ou junta-te àquela rapariga de quem sempre gostaste, no dia em ganhas finalmente coragem de lho dizer, depois de semanas de preparação. Esses encontros, com sucesso, por norma acontecem uma vez na vida e se não der certo, possivelmente não surgirá outra oportunidade.
O encontro com Deus, ou melhor, os encontros com Deus, são diferentes de tudo isso, não são planeados, nem programados, nem exigem deslocações intercontinentais, nem rosas brancas acabadas de colher. Os encontros com Deus, são sempre únicos, não por serem de um vez apenas, são únicos, cada um é único, porque é o encontro que te faz, que te transforma, que te pega e te eleva, no mesmo momento em que tu sabes, sentes e vives Deus em ti, naquele preciso momento. Depois a vida resvala, ou não, a vida afirma-se, e tu voltas a encontrar Deus.

Podes até dizer que Deus esteve sempre ali. Isso não é o mais importante. Que te importa se na tua vida o outro está e tu não dás por ele? O que importa é o momento sublime em que tu és o encontro e isso meu jovem, é único…mas repetível, e vai acontecer tantas vezes quantas a tua vida, tu e Deus, o permitam. Mas não esqueças, mesmo que Deus esteja sempre ali, tu tens que o reconhecer lá, tens que o crer lá, tens que o ser lá… Deus não é de um encontro só, Deus é para sempre e para toda a vida de desencontros e de oportunidades de te encontrares. Deus é hoje mas também é amanhã. Deus és tu a rir muito mas também é as lágrimas que te correm cara abaixo. Deus é ontem, no dia em que passou a ver-te sem tu sequer o olhares, mas Ele via-te, encarava-te, colocava-te as mãos nos ombros sem tu te dares conta e impelia-te para a frente.
Os melhores encontros são aqueles que podes repetir. Lembra-te como é estar com os teus amigos, com quem passas aqueles serões tão agradáveis em torno de uma boa conversa. Não é tão bom fazer isso de vez em quando? Pois claro que é. Com Deus é igual, não é tão bom poderes parar a vida por breves momentos e ficar a ouvir-te a ti próprio rezar profundamente, encontrando-te com Deus no teu trabalho, no teu desporto, na tua escola, na rua, no dentista, na fila para pagar não sei o quê.
Os melhores encontros são pois repetíveis, dá-te a saudade e fazes com que aconteçam, é só isso. O resto? O resto é fogo de artificio: sobre, rebenta e desvanece-se no firmamento…
Compreendo e quero sempre saber mais dizer Deus aos homens, sobretudo aos jovens, mas embarcar nessa odisseia é viver antes de mais a oportunidade de unir oração, conhecimento e ação. Este princípio é efetivamente o meu princípio, aquele que materializa a minha forma de ser pastoral e a minha forma de ser povo de Deus. Quanto mais conhecemos Deus, mais fazemos as perguntas cujas respostas terão efetivo impacto no que fazemos para, de forma missionária, levar a todos o seu exemplo de vida. Se oramos e se conhecemos, agimos e essa ação gera nos outros encontros com Deus, únicos e repetíveis, porque quem ama, conhece, encontra-se e parte dando voz ao Amor.◄

• Publicado no Jornal PALAVRA, edição de junho 2021

Autor

Nuno Camelo

contributor

42 anos, casado, 2 filhos com 9 e 4 anos.
Geógrafo de profissão desde 2003. Jovem de Cristo desde 1977. Percurso natural de crescimento na Fé, com discernimento crescente na sua missão ao serviço da Igreja que conta já com 25 anos de participação, dinamização e vivência de múltiplas experiencia em torno de Cristo Vivo.
Ligado deste sempre a vários movimentos da Igreja Arquidiocesana, recentemente integra as Equipas da Pastoral da Juventude, da Pastoral das Vocações e da Pastoral das Famílias. Da sua relação com a casa Salesiana de Évora, desde 2005, releva-se atualmente a sua participação no Movimento Juvenil Salesiano, no Escutismo Católico Português (Junta Regional de Évora e Agrupamento 320 – N.ª S.ª Auxiliadora), na Pastoral da Comunicação e na Pastoral Vocacional onde colabora como animador.
A relação com a escrita e com a palavra contada de experiências de Fé, tem permitido que deixe sempre a sua marca nas ações onde participa. É um homem de palavras, sendo colaborador do Jornal Palavra, interruptamente desde o ano de 1999 e tendo produzido alguns conteúdos para vários movimentos, obras e eventos.

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