jornalpalavra

jornalpalavra

Évora Capital Europeia da Cultura 2027

Ao contrário de todos os prognósticos, Évora foi escolhida para ser Capital Europeia da Cultura em 2027. Pela quarta vez Portugal vai ter uma cidade distinguida com tal título, depois de Lisboa em 1994, Porto em 2001 e Guimarães em 2012. Candidataram-se doze cidades, tendo quadro sido selecionadas para a fase final: Braga, Aveiro, Ponta Delgada e, claro, Évora. O Júri decidiu atribuir, por unanimidade, sublinhe-se, a honra à cidade alentejana. Foi, pode e deve dizer-se com grande propriedade, a vitória da humildade. Os meios utilizados para publicitar a candidatura foram manifestamente inferiores aos das outras candidatas. Aquilo que foi decisivo na vitória eborense terá sido o tema unificador da candidatura. A palavra “vagar” foi a chave da vitória numa candidatura que quer, agora, mostrar a toda a Europa outra forma genuína de estar na vida. E o Júri compreendeu como o “vagar” faz parte daquilo que é ser alentejano na perspetiva de contributo para uma outra forma de vida e uma outra abordagem da vida, de desaceleração, de um outro tempo, de construção de um futuro mais amigo do ambiente, mais inclusivo e mais sustentável.

A Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Alentejo definiu de forma feliz esta proposta de Évora, ao referir o seguinte: “A candidatura eborense baseou-se na herança cultural, intangibilidade e biodiversidade que definem este território, e reclamou para Évora, e para o Alentejo, um lugar próprio e central na formação de uma nova vaga para a Humanidade com a Cultura no centro.”

O Júri que avaliou as candidaturas, que visitou os locais e decidiu a vencedora (refira-se mais uma vez, que foi por unanimidade) era constituído por onze elementos, nomeados pelo Estado Português, pelo Parlamento Europeu, pelo Conselho Europeu, pela Comissão Europeia e pelo Comité Europeu das Regiões.

Este evento trará perspetivas fenomenais para Évora, mas também para o Alentejo. O impacto será marcante no futuro da região. Permitirá que Évora e o Alentejo possam inverter o despovoamento e o abandono a que têm estado votados. Se recordarmos todas as dinâmicas regionais que se geraram antes, durante e depois de 2012 na sequência do certame de Guimarães, talvez percebamos que será um motivo que não podemos perder. Mas não sei se todos os eborenses, e todos os alentejanos, estarão irmanados do mesmo espírito. De fato nos últimos meses, à medida que a decisão se ia aproximando, vimos vários adversários políticos da força que governa a autarquia, desacreditarem e até escarnecerem da candidatura. Também autarcas de concelhos limítrofes não esconderam a sua “azia” (perdoe-se-me o plebeísmo) depois de conhecida a vitória de Évora. Eu compreendo que para alguma luta política de baixa índole, quanto pior melhor. Mas alguns dos autarcas e líderes locais de partidos devem definitivamente começar a pensar no coletivo, antes de considerarem as suas lutas pessoais. Eu sei que é chato (pedindo desculpa por outro plebeísmo) ser uma cidade cujo Presidente é membro do PCP e eleito pela CDU a ser escolhida por um Júri internacional de eurocratas, que valorizaram verdadeiramente a qualidade do trabalho apresentado, pois ninguém acredita que algum dos jurados tenha alguma simpatia pelo ideal comunista. Mas se a cidade não se unir em torno de este desiderato que é “Évora Capital Europeia da Cultura 2027” será mais uma grande oportunidade perdida. E não será sério queixarmo-nos depois!

Autor