Título improvisado do filme ‘Querido Mês de Agosto’, de Miguel Gomes, um filme que acontece num meio rural do interior beirão de Portugal, onde se encontram emigrantes portugueses de férias, visitando a terra natal na época de verão. Afinal o mês de agosto é o mês de eleição elegido pelos emigrantes para revisitarem a cidade natal.
Agosto à parte, o mês de Maio é o mais especial, o mês de Maria, mês de todas as mães, um mês também de revolução – o dia de trabalhador – o mês em que nasceu Karl Marx, para mim uma das figuras mais revolucionárias no âmbito político e filosófico por falta de mais referências, o mês no qual se celebra o fim da segunda guerra mundial, ainda o mês em que nasceu Sigmund Freud e por razões muito pessoais é também o mês da minha querida avó que celebrou os seus noventa anos. É por tudo isto um mês muito querido.
Voltando às mães, revolucionárias como só elas o sabem, tenho a memória das mães refugiadas, dos tempos em que estagiei no Conselho Português para os Refugiados, em Bobadela, trago-as na memória principalmente aquelas que fugiam de África à procura de asilo por razões políticas e religiosas, para que as suas filhas não fossem sujeitas à mutilação genital feminina, que como nós sabemos é ainda uma prática muito comum. As mães vão até ao fim do mundo, num barco sem segurança, sem saber o que as espera do outro lado, sem saberem se o seu barco não voltará para a ‘guerra’ de onde saíram, como já tantas vezes aconteceu em mares mediterrâneos. É um mês que me faz sentir estas crises humanitárias de uma forma mais intensa, esta violência aos direitos humanos que continuará a ocorrer e a silenciar-se.
Por falar em silencio, foi preciso um contexto de pandemia para desvendarem uma situação que se passa há anos – tráfico de migrantes em Odemira – escravatura pura e dura em contexto Alentejano, que para quem não sabe, o Alentejo é a região de Portugal que tem contribuído mais a nível estatístico para o tráfico de migrantes ilegais. Não os queremos com direitos – queremos mãos, braços e pernas para trabalhar. No caso de refugiados, mesmo os que dispõem de permissão de asilo, é um facto que não conseguem encontrar casa em Portugal porque os proprietários recusam-se a arrendar casas a pessoas refugiadas. Estamos perante um cenário de crimes humanitários ao qual todos queremos fechar os olhos, mas que mais tarde pagaremos o preço justo.
São pessoas que atravessam clandestinamente o estreito da Silia, muitos deles morreram afogados em Lampedusa, viajaram a pé de Honduras a Guatemala: são presos, ficam em campos de detenção sob condições nefastas, fecham-lhes fronteiras. Estas pessoas vão atraídas pera miragem da prosperidade e da segurança e tudo o que os espera é violência. A Europa tem sido uma vergonha, a maioria dos refugiados estão na Turquia, Líbano, Jordânia, Quénia, Uganda, Paquistão, Congo, Etiópia, Irão e finalmente Alemanha é o país da Europa que acolhe mais refugiados e, pasmem-se agora: a Hungria constrói um muro de 4 metros na fronteira com a Sérvia.
Qual é a solução legal para tal calamidade? – aumentar o tempo legal de detenção de um refugiado, aliás, no reino único nem há ‘tempo legal’, ficam em campos de detenção a vida toda.
Digo-o porque é calado e silenciado. Sempre que possa serei voz e farei uso de meios democráticos para o dizer. Nem que seja pelo sentimento comum de que casa não é onde nascemos, é onde nos sentimos bem, qualquer pessoa incapaz de poder cumprir os seus sonhos tem direito a imigrar, à livre circulação porque ninguém é ilegal no planeta terra. ◄
- Publicado no Jornal PALAVRA, edição de maio 2021
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