“A água é um direito humano. Ninguém deve ter esse acesso negado”
António Guterres
É sabido que a Água é essencial à vida na Terra. Sem água nenhuma espécie vegetal ou animal, incluindo o ser humano, poderia sobreviver. Cerca de 70% da nossa alimentação e do nosso próprio corpo são constituídos por água.
A indústria (incluindo a produção de energia) é atualmente responsável por 19% do consumo de água e as famílias por 12%. Prevê-se que a procura global da água potável irá sofrer um aumento na ordem dos 20 a 30% até 2050 e que, caso a degradação do ambiente e as pressões insustentáveis sobre os recursos hídricos globais continuem, em 2050, 45% do PIB mundial e 40% da produção mundial de cereais estarão em risco. Mas existem mais factos muito preocupantes sobre a água e a gestão que a Humanidade está a fazer deste recurso escasso, fonte de todas as formas de vida:
• 2,1 mil milhões de pessoas não têm acesso a serviços de água potável com segurança;
• 4,5 mil milhões de pessoas não têm acesso a serviços de saneamento com segurança;
• 1,5 milhões de crianças com menos de cinco anos morrem todos os anos de doenças relacionadas com a diarreia;
• A escassez de água já afeta quatro em cada dez pessoas;
• 90% de todos os desastres naturais estão relacionados com a água;
• 80% das águas residuais retornam ao ecossistema sem serem tratadas ou reutilizadas;
• Cerca de dois terços dos rios transfronteiriços do mundo não possuem uma estrutura de gestão colaborativa.
É neste contexto que devemos compreender as preocupações constantes que todos devemos ter com a eficiente gestão da água no mundo. O ciclo urbano da água é uma dessas preocupações para as entidades gestoras, nomeadamente os municípios que, em Portugal são responsáveis pelas redes de distribuição em baixa de abastecimento de água e saneamento básico, aquelas redes que permitem o consumo nas nossas habitações e a devolução dos efluentes à natureza, depois de tratada, ou mesmo a sua desejada reutilização.
O Município de Reguengos de Monsaraz – nomeadamente o seu Serviço de Água e Saneamento Básico – tem trabalho realizado nesta matéria e orgulho nos resultados obtidos ao longo da última década, na busca constante de eficiência nas redes sob a sua gestão.
Se analisarmos a evolução do indicador Perdas Reais de Água pelo Município de Reguengos de Monsaraz, segundo os dados retirados da Entidade reguladora do setor ERSAR, na última década, podemos observar um sistema com perdas reais bem acima dos 30% correspondentes a mais de 150 litros diários por ramal. Este indicador corresponde a um difícil ponto de partida, comum em grande parte do território nacional.
Chegamos a 2019 (últimos dados disponíveis) com uma recuperação de 25,6 pontos percentuais de perdas reais de água, face a 2013. Esta evolução significa uma redução de 70% nas perdas reais de água da rede, só entre 2013 e 2019.
Esta notável evolução começou a ser desenvolvido no início do presente ciclo autárquico com o importante contributo conceptual do trabalho realizado em 2008 pelo Eng. Paulo Chaveiro “Contribuição para o Controlo de Perdas de Água no Sistema Público de Adução e Distribuição a Reguengos de Monsaraz”, o qual teve os seguintes indicadores iniciais de referência:
• uma enorme dispersão de dados que necessitavam urgentemente ser reajustados;
• em 2006 esta entidade gestora apresentava um índice de Perdas Reais de Água de 50,2%.
A sequência de trabalho técnico de recolha de informação a partir de 2010 permitiu:
• realizar o cadastro georreferenciado de toda a rede de distribuição de água;
• executar a recolha de informação para a realização de balanços hídricos anuais;
• executar protocolos operacionais para a gestão da rede de abastecimento de água;
• executar os planos de intervenção e manutenção dos órgãos de manobra da rede de distribuição de água;
• criar o Sistema de Telegestão da rede de Abastecimento de Água do Concelho de Reguengos de Monsaraz;
• executar uma requalificação planeada da rede de abastecimento de água do concelho;
• executar um Programa Pontual de Controlo e Deteção de Fugas de Água;
• executar o controlo de consumos municipais (consumos autorizados não faturados);
• executar o Plano Municipal para o Uso Eficiente da água;
• executar programas e intervenções de melhoria da qualidade da água na rede de distribuição de água no concelho;
• a criação do Modelo Hidráulico da Rede de Abastecimento de Água da cidade de Reguengos de Monsaraz;
• avaliação do parque de contadores municipal;
• criar o Programa de Controlo Ativo de Perdas (atualmente em implementação);
• criar um Programa de Combate às Perdas Aparentes;
• iniciar o projeto para o Plano de Segurança da Água.
O Município de Reguengos de Monsaraz, desde o ano de 2010 até 2019, investiu ainda na requalificação de 21 km de condutas de distribuição de água (cerca de 13% da rede total) num investimento global de 1.140 mil euros. Este valor inclui a monitorização dos caudais aduzidos aos aglomerados urbanos, implementado pelo sistema de Telegestão do Sistema de Abastecimento de Água ao Concelho de Reguengos de Monsaraz em 2010.
Este sistema de Telegestão permite ao Município de Reguengos de Monsaraz controlar as infraestruturas (captações, estações de bombagem e reservatórios), bem como a medição dos caudais à saída dos reservatórios e obter o registo dos consumos à entrada dos aglomerados urbanos mais problemáticos, aquando da implementação deste sistema. Sempre que necessário, os serviços municipais efetuam ainda avaliações dos caudais noturnos para determinação de possíveis ocorrências não visíveis.
Este foi um caminho que nos trouxe de perdas reais superiores a 150 litros diários por ramal (2011) para 41 litros diários por ramal em 2019, quando a média nacional se situava em 125 litros diários por ramal.
Para melhor enquadramento em matéria de perdas reais de água, podemos ainda deixar alguns dados do Relatório Anual dos Serviços de Águas e Resíduos em Portugal 2020 (RASARP2020) elaborado pela entidade reguladora ERSAR.
Como já referimos, com base nos dados de 2019, todos os sistemas de abastecimentos de água de Portugal continental tinham perdas globais médias de 125 litros diários por ramal.
Considerando a média global do Alentejo e Algarve para os sistemas semelhantes ao nosso (densidade de ramais superior a 20 por Km de rede) as perdas são ainda um pouco superiores: 128 litros diários por ramal.
Reforçamos que em REGUENGOS DE MONSARAZ este indicador de perdas situava-se num valor inferior a um terço: 41 litros diários por ramal (1/3 da média nacional). Este é o segundo valor mais baixo de todo o Alentejo Central, existindo Municípios que ainda apresentam valores até 9 vezes o apresentado pela Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz!
Mas queremos manter e melhorar este desempenho.
Com este desígnio estratégico foi elaborado e candidatado em 2018 a fundos comunitários, um Plano de Redução de Perdas (PRP). Através deste projeto o Município de Reguengos de Monsaraz assume o objetivo de atingir um índice de Perdas Reais de Água (PR = extravasamentos dos reservatórios, roturas) ≤ 13%, até ao terceiro ano pós-implementação do investimento “ZMC das Redes de Abastecimento de Água do Concelho de Reguengos de Monsaraz”.
O PRP partiu dos seguintes pressupostos e objetivos anuais:
Perdas reais verificadas em 2017: 23,4%
Perdas reais estimadas para 2018: 23,0% – 121,3 mil euros
Perdas reais objetivo para 2019: 13,0% – 68,5 mil euros
Torna-se assim fácil compreender que esta redução no índice em 10 pontos percentuais, corresponde a um objetivo de poupanças anuais de 52,8 mil euros, reduzindo as perdas reais em 43,5%.
Mas as boas notícias não se ficam por aqui. A reprogramação deste projeto para 2021 não significou que estivéssemos parados, pois foram acontecendo outros investimentos na rede em baixa que permitiram registar perdas reais em 2018 de 17,4% (em vez dos 23% previstos no PRP), uma poupança de 30 mil euros, e em 2019 a ERSAR já divulgou só perdas reais 10,9%, mais uma poupança de 60 mil euros.
É este significativo passo na melhoria da eficiência do sistema de abastecimento de água aos Reguenguenses que as obras em curso irão proporcionar. Irão igualmente controlar ainda mais as chamadas perdas aparentes do sistema (erros de medição, avaria dos contadores e usos indevidos), contribuindo para um valor adicional de poupança de recursos públicos.
Temos por isso a convicção que a esmagadora maioria dos Reguenguenses compreende o objetivo maior e os benefícios destas intervenções.
Justificam-se, por tudo isto, alguns incómodos que este tipo de obras sempre causa, perante os quais pedimos desde já desculpas e agradecemos toda a compreensão que temos sentido perante as mesmas.
É mais um contributo que deixamos para a sustentabilidade do Município e do seu sistema de abastecimento de água. Um contributo que significa um importante ativo estratégico nas políticas de sustentabilidade que todos deveríamos assumir para bem da sustentabilidade do planeta Terra.
Correndo o risco de plagiar o parágrafo final do último artigo reafirmamos o nosso pensamento global para a sustentabilidade do planeta… AGINDO LOCALMENTE! ◄
- Publicado no Jornal PALAVRA, edição de abril 2021
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