Estamos a cinquenta dias do início da Jornada Mundial da Juventude e isso merecia que tratasse do assunto com a delicadeza, assertividade e valentia que o assunto merece. Gostava e pretendia fazê-lo. O meu amigo e colaborador do Jornal PALAVRA, Nuno Camelo, decidiu e fez primeiro, por isso, remeto para o seu artigo mais à frente, porque ele diz melhor e mais do que eu queria dizer.
O resultado de uma sondagem SIC/Expresso sobre os níveis de confiança das instituições em Portugal, revela dados curiosos que vale a pena analisar. Apresentado no passado dia 8 de junho, o resultado da sondagem diz que os portugueses confiam nas forças de segurança, 79% assim o concluiu, e nas forças armadas com uma cotação de 76%, e também nas Juntas de Freguesia, 70%, no Presidente da República 69% e nas Câmaras Municipais que conseguem 65%.
Curiosamente, mas sem surpresa, aparecem com muito baixo nível de confiança as instituições políticas nacionais, como a Assembleia da República com apenas 38% dos inquiridos a mostrar a sua confiança, assim como o Governo que apenas consegue 33% de confiança e os partidos Políticos com um nível muito baixo de apenas 18% de inquiridos que dizem confiar.
Em níveis intermédios, mas com algum significado estão os tribunais, que devendo ser instituição de confiança, garantem apenas 46%, A comunicação social com 44% e a Igreja católica que, apesar das últimas notícias ainda consegue uma valorização de 42%.
Que leitura se pode fazer destes números? Primeiro que tudo prevalece a confiança nas instituições de proximidade, como as Juntas de Freguesia, porque a confiança se gera na relação. Do mesmo modo se pode dizer que as instituições nacionais são mais anónimas e abstratas para o comum dos cidadãos, gerando maior nível de desconfiança, como o Governo e a Assembleia da República. O alto nível de confiança manifestado no Presidente da República não tem a ver com o cargo, mas com a pessoa, que está sempre a entrar na casa dos portugueses e é possível tirar com ele um selfie, o que gera proximidade mesmo para quem nunca contactou pessoalmente com ele. O mesmo poderíamos dizer do Papa Francisco que soma cada vez mais credibilidade.
Os meios de comunicação social, devido às fake new, têm sofrido um desgaste na confiança, porque o cidadão comum não consegue fazer a triagem das notícias nem fazer uma leitura criteriosa, assumindo uma de duas atitudes, ou acredita em tudo ou não acredita em nada, daí a desconfiança.
Por razões óbvias já se esperava que a Igreja Católica tivesse baixado nos níveis de confiança, na medida em que, nos últimos meses tem sido notícias pelas piores razões, ainda assim, muito acima das instituições políticas nacionais. O facto de se falar na Igreja Católica também é demasiado abstrato, porque as pessoas contactam a comunidade da sua proximidade e a pergunta não é feita sobre a proximidade, mas sobre o abstrato da Igreja em geral.
Os níveis de confiança não dependem apenas das instituições, mas também do olhar de quem as avalia. Os cidadãos confiam pouco até em si próprios e isso muda a visão que se tem sobre a realidade.
É verdade que hoje as pessoas estão cada vez mais desligadas das instituições, não as conhecem, nunca participaram na sua vida, nem fizeram parte de um compromisso.
O isolamento geral em relação à vida social e a reação a partir do “diz que disse” das notícias, algumas delas fake news, ou alavancadas ideologicamente por manchetes completamente ao lado, desconstrutoras da realidade, com a intenção de enviesar o pensamento geral numa determinada direção, afeta a credibilidade, não das instituições, mas em relação às instituições.
Se o foco for colocado sobre as instituições de uma pequena aldeia, o nível de confiança vai manter-se sempre baixo em relação às expetativas, porque a Associação local, o Centro Social, a pequena Escola ou a Creche e mesmo a Junta de Freguesia que na análise nacional está em alta, serão sempre alvo da desconfiança das pessoas. No geral, o entendimento é de que, quem está à frente está a beneficiar porque se assim não fosse não estava lá, e com isto está lesada a confiança na instituição. Quando se olha para realidades mais abstratas a desconfiança é ainda maior porque não se conhece, não se tem acesso ao modus operandi.
A Assembleia da República foi sempre alvo de muita desconfiança. É muita gente junta, o que se vê na televisão são os debates parlamentares e não os trabalhos diários e o povo assiste muitas vezes a um palavreado nem sempre edificante, daí também a desconfiança. O Governo ultimamente tem dado razões para o descredito. Sempre se desconfiou de quem governa, às vezes com razão, por causa da corrupção, mas mais recentemente de forma notória.
Quanto à Igreja, os últimos acontecimentos não ajudaram em nada à credibilização da instituição e, como foi sempre muito pouco hábil na comunicação com o mundo exterior, particularmente com os média, saiu-se ainda pior quando tentou emendar os erros. Já tinha sido prognosticado por Jesus “os filhos das trevas são mais espertos que os filhos da luz no trato com o seu semelhante”. Terá que se aguentar. Também é verdade que a história diz que cresceu mais nos tempos de perseguição e no meio de crises e instabilidade. Pode estar aqui o princípio de um tempo novo.
Quem não está por dentro e não participa, e não se envolve, e não vive as dores de quem se implica, tende sempre a desconfiar, a desacreditar ou pelo menos a criticar. É verdade que há justificação para tão baixos níveis de confiança, mas também há falta de participação na vida comum e muitas exigências sobre quem se implica totalmente nas instituições.
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- Publicado no Jornal PALAVRA, edição de junho 2023
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