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Teletrabalho: utopia ou realidade?

Desde meados de março de 2020 que o teletrabalho se tornou numa necessidade em muitos dos setores de atividade económica em Portugal e por este mundo fora, devido à pandemia causada pela COVID-19. Aproveitando diversos apoios estatais e governamentais, algumas empresas entraram em lay-off (suspensão temporária de serviços ou pessoas), outras apostaram na sua própria transformação digital e apenas a um pequeno número, mundialmente falando, tais opções não foram viáveis.
Dois anos e meio depois, sem qualquer restrição de circulação, vemos diariamente um trânsito “dos infernos” por todas as grandes cidades e estabelecimentos comerciais (lojas, centros comerciais e restaurantes) completamente cheios de manhã à noite. É nesta altura que questionamos se efetivamente o teletrabalho é uma utopia ou continua a ser uma realidade. A verdade é que cerca de 40% do mercado nacional reduziu o parque informático (todo o tipo de equipamento e material eletrónico), os postos de trabalho presenciais e inclusivamente os pontos de carregamento elétrico automóvel suportado pelas próprias empresas.
No universo das empresas do setor dos serviços profissionais, tem-se tornado cada vez mais complicada a contratação de recursos humanos, com mais ou menos habilitações. Por um lado, os recém-formados ao nível do ensino superior preferem o teletrabalho a 100%, mesmo nas grandes cidades, por ser a realidade que conhecem, o que se torna um entrave quando a maioria das posições em aberto não podem ser 100% remotas. Por outro, vemos uma quantidade enorme de estabelecimentos de ensino superior no interior do país, desde o Algarve a Trás-os-Montes, sejam Universidades ou Institutos Politécnicos, de onde saem centenas de recém-formados anualmente, em até maior percentagem que no litoral (segundo a Gartner), que se veem, dizem, sem oportunidades. Para responder a este tipo de necessidades, são já muitas as empresas que se focam nestas regiões, inclusive a nossa (Alentejo Central), para criar centros de competências que consigam dar suporte a oportunidades de nearshore (termo usado para designar o chamado “trabalhar para fora cá dentro”). Não só é uma forma de combater a desertificação do interior, como de gerar novas oportunidades na área dos serviços e da tecnologia e, consequentemente, de aumentar a rentabilidade das empresas, pois os tetos salariais flutuam consoante o fluxo financeiro, dados os custos de habitação e transporte.
Apesar de a falta de informação continuar a predominar neste tipo de instituições, em como é possível trabalhar para Lisboa, Porto, Coimbra ou Braga (meros exemplos de grandes cidades) à distância, cada vez é mais usual haver recrutadores a procurar perfis tecnológicos nestas regiões. Tal permite um aumento da margem direta dos projetos e serviços em largas percentagens, face ao previsto em sede de adjudicação, o que torna o teletrabalho uma efetiva realidade.◄

  • Publicado no Jornal PALAVRA, edição de setembro 2022

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