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A atividade profissional e a formação base

Têm sido inúmeras as autorizações de contratação que tenho dado nos últimos anos, de bons profissionais cuja formação base não se enquadra no âmbito de atuação das empresas com as quais tenho trabalhado, seja no ponto de vista da gestão, seja no ponto de vista da operação em si. Tenho passado por diversos setores em Portugal e nos Estados Unidos da América, embora o foco seja o tecnológico, o dos serviços profissionais e o da indústria farmacêutica e de dispositivos médicos. Apesar de em diferentes cargos de gestão, o tema em discussão e o procedimento são transversais. Nestes três setores, sempre que é necessário preencher uma vaga, é solicitado à equipa de recrutamento que abra uma posição nas redes sociais profissionais (por exemplo: LinkedIn, SuperShare, Hoofzy, MeetFrank…) e/ ou em empresas de recrutamento (por exemplo: Michael Page, Multipessoal, SecureVision, Hays…), solicitando os requisitos mínimos que o candidato deverá possuir. Embora com n filtros, tecnológicos ou não, é sempre necessário alargar o espetro de seleção, de forma que se possam conhecer outras pessoas que não apenas as da área indicada. Ainda assim, muitos são os candidatos com a formação necessária que aceitam, seja por questões financeiras, localização geográfica ou até pelo receio de arriscar uma transição dado o atual conforto. Por essa razão, são ouvidos, entrevistados e aceites muitos outros perfis sem a formação completa identificada como necessária ou com uma experiência profissional relacionada menos relevante.
Em Portugal, segundo os CENSOS de 2021 do INE, em 10.3 milhões de habitantes, 5.5 milhões (53%) tem entre os 25 e os 64 anos de idade, correspondendo ao período médio
para cidadão profissional ativo. Destes 5.5, apenas 1.9 milhões tem pelo menos frequência universitária, o que corresponde a 35% da população ativa, embora entre os 30 e os 34 anos estejamos uns pontos percentuais acima da média europeia.
Sendo que o desemprego tem afetado todas as faixas etárias em todas as regiões do país, uma das formas que as empresas dos referidos setores adotaram para melhorar os seus resultados foi baixar o custo dos colaboradores para determinadas posições, desde que estas fossem preenchidas com cidadãos de outras áreas profissionais ou académicas (com pelo menos frequência universitária ou dando a possibilidade ao colaborador de financiar os seus estudos em prol de um pacto de permanência na empresa de dois anos na empresa após a conclusão do curso, a par do número de anos correspondente à dimensão deste).Desta forma, para além de bons profissionais formados “in the house”, as empresas ficam com colaboradores mais motivados que veem a aposta na sua formação como valorização própria. Se a frequência universitária nos dá as bases para podermos aprender a lidar com
pessoas de diferentes culturas e estratos sociais, e a sermos autodidatas, não há razão para que a formação base seja um entrave ao preenchimento de determinada vaga. Teria n
exemplos de reconversão para partilhar, mas basta referir dois, os melhores: i) uma Licenciada em Dança contratada para fazer testes de software e ii) uma Licenciada em Ensino Primário contratada para gerir processos de propostas de prestação de serviços de consultoria ao abrigo do Código dos Contratos Públicos (CCP). Apostar na reconversão é apostar nas pessoas, na sua confiança, na sua motivação e, cima de tudo, na empresa, pois
os resultados de uma empresa são medidos pelas pessoas. ◄

 

  • Publicado no Jornal PALAVRA, edição de abril 2023

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