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Euribores e dissabores

A preocupação do momento das famílias em toda a Europa, é sem duvida a subida voraz e repentina das taxas de juro que influenciam os empréstimos à habitação, traduzindo-se na necessidade pelas famílias de disponibilizarem mais dinheiro para cumprirem, todos os meses, os seus compromissos com as entidades bancárias, com todos os problemas que isso acarreta para as famílias mas também para a economia uma vez que os gastos dos consumidores em outros sectores da economia tendem a diminuir em resultado deste “apertar do cinto” generalizado, o que resulta em problemas para empresas, teoricamente menos lucros, e governos que vão arrecadar menos IVA fazendo deslizar todas as previsões de receitas com óbvias consequências em aspetos da economia de um pais como por exemplo o défice.
Então quem ganha para já neste jogo do deve e do haver da subida da Euribor? É publico os lucros obscenos que as entidades bancárias estão a arrecadar neste momento, mas para sermos justos temos também que considerar que vimos de um período em que as taxas de juro estiveram negativas ou seja um período em que os seus lucros foram menores, mas o que salta a vista é um sector desregulado e selvagem que de quando em vez penaliza e muito as famílias.
O que faria sentido, e é a opinião de um leigo, seria uma sistema de taxas de juros condicionado, que não atinja valores inferiores a 1%, mas que não ultrapassasse os 2,5% salvaguardando as famílias de subidas repentinas como a que estamos neste momento a vivenciar, mas também garantindo um lucro mínimo às entidades bancárias em todos os momentos, dando uma maior previsibilidade ao funcionamento do sistema e no fundo algum contributo para uma melhor regulação.
Mas talvez isto seja racionalidade a mais para o sistema bancário, que prefere ser volátil e a deambular entre grandes ganhos e perdas estratégicas, dependendo do momento, do ciclo económico e dos interesses de quem controla o grande capital, se juntarmos a isto os aumentos, que na minha opinião se irão provar erráticos do Banco Central Europeu, parece ser evidente que é necessário conceber uma outra política monetária europeia, mais justa e lógica.
Estamos a um ano das eleições europeias de 2024 e se queremos uma outra política monetária não me parece existir alternativa que não procurar uma nova forma de ver a Europa através do voto no S&D, os Socialistas e Democráticos Europeus que nos deixam a esperança nas suas premissas eleitorais de uma visão mais condizente com o grande projeto europeu dos fundadores, em 2019 ficámos a menos de 4%, será desta? Temos um ano para refletir e optar em consciência, mas o S&D afirma-se cada vez mais como o único caminho para quem queira algo de diferente da política monetária europeia e do projeto europeu de forma geral.◄

 

  • Publicado no Jornal PALAVRA, edição de agosto 2023

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