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Nossa Senhora da Lagoa, a pujança dos Bragança

Por: Rui Mataloto

A Igreja de Nossa Senhora da Lagoa de Monsaraz está a ser objeto de uma muito necessária obra de restauro e consolidação, constituindo um momento único para um conhecimento mais aprofundado da História gravada nas suas paredes.
O edifício existente terá sido levantado entre os anos sessenta do século XVI e os inícios do século seguinte. Esta igreja, de imponente arquitetura em posição altaneira de Monsaraz, veio substituir uma anterior, de feitura medieval, menor, mas que terá tido a sua relevância, como o túmulo, de bom mármore insculpido, de Gomes Martins Silvestre, obra do século XIV
A edificação da nova igreja terá correspondido, aparentemente, a um plano de edificações ligado à Casa de Bragança, com o forte incentivo do Cardeal-Rei D. Henrique, que a leva a partilhar interessantes semelhanças com as Igrejas Matriz de Vila Viçosa, Borba ou Veiros, todas elas ligadas à Casa de Bragança, nomeadamente na planta da nave, tripartida por imponentes colunas que sustentam as abóbadas, com a capela-mor ao fundo ladeada das sacristias, de planta quadrangular e abóbada hemiesférica. A Sacristia situava-se, tal como hoje, no lado Norte, encontrando-se tal como se apresentava à data da construção. No lado oposto, a Sul, existia o Consistório das Irmandades, que se abria em arco e decorações de gosto renascentista para a Capela-Mor, devendo ter apresentado tribuna. Em cada uma das Sacristias abria-se para o exterior amplo janelão com cruz em xisto, subsistindo na sua dimensão original apenas o da Sacristia, a Norte. No decorrer dos trabalhos foi possível verificar que terá existido no topo do Altar-Mor um janelão idêntico ao presente no lado Norte, o qual terá sido fechado mais tarde, provavelmente na sequência das obras de meados do séc. XVII.
Se a arquitetura da igreja parece responder a uma primeira mensagem saída do Concílio de Trento, terminado em 1563, que promovia uma aproximação ao gosto Clássico e até PaleoCristão, de que a divisão da nave em espaço tripartido assente em colunatas é evidente reflexo, claro é que em meados do século seguinte, na sequência do refinamento e precisão da mensagem tridentina e da necessidade de opulência no Culto dos Santos e do Santíssimo Sacramento, por oposição ao despojamento Protestantista, a mensagem a passar será outra. Nesta medida, a reforma do interior nos meados do séc. XVII, bem marcada pela presença do forro de azulejos de tipologia de maçaroca de milho da Capela-Mor, impôs o fecho do arco do consistório das irmandades, no lado Sul, e a sua subdivisão em dois pisos, térreo e sobrado, que permitia o acesso ao trono; a subdivisão desta ala conduziu à subtração de parte da ampla janela aí existente, impondo a abertura de uma menor, ainda hoje em uso.
Em futuros apontamentos daremos notícia de mais novidades trazidas pela obra. ◄

* Publicado no Jornal PALAVRA, edição de janeiro 2023

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